O GLOBO:
Com PM em greve, Bahia vive dia de assassinatos e assaltos a lojas.
Governo federal confirma o envio de 2.600 militares para ajudar a conter a violência.
BRASÍLIA – Com os policiais militares em greve há três dias, a Bahia sofre com a onda de violência, que atinge principalmente a região metropolitana de Salvador. Nesta sexta-feira, foram registrados 20 assassinatos e dez tentativas de homicídio em dezesseis horas, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública do estado. Neste mesmo dia, na semana passada, foram 13 mortes em 24 horas. Cinco lojas da Cesta do Povo, rede de supermercado controlada pelo governo estadual, foram assaltadas entre esta quinta e esta sexta-feira em Salvador. Os crimes aconteceram nos bairros da Liberdade, Caixa D'água, Ogunjá, Mata Escura e Pirajá. Nesses dois últimos bairros, os bandidos levaram todos os produtos e equipamentos.
A situação em Mata Escura é de insegurança em todo o bairro. O comércio não abriu nesta manhã e delinquentes estão jogando pedras nos veículos que circulam na região, na tentativa de roubar alguns pertences. Foi neste bairro que, na noite de quinta-feira, morreu o percurssionista do Olodum Denilton Souza Cerqueira, de 34 anos. Ele foi baleado na cabeça e nas costas durante uma tentativa de assalto. Em nota publicada em seu site, o Olodum disse estar de luto.
Desde que decretaram greve, os policiais militares mantém acampamento no entorno do prédio da Assembleia Legislativa. Os manifestantes alegam que só vão deixar o local depois que forem atendidos por um representante do governo.
Na manhã da quarta, houve um princípio de tumulto no viaduto do Centro Administrativo da Bahia (CAB) onde se localiza a Assembleia, a Governadoria e as secretarias de Estado. Seis viaturas da Companhia de Cavalaria da PM foram abordadas por grevistas que estão na Avenida Paralela e houve desentendimento entre eles. Os policiais em estado de greve conseguiram levar uma viatura da Cavalaria para a Assembleia. Uma moto do Esquadrão Águia também está no local.
O clima de maior tensão no acampamento dos grevistas ocorreu na madrugada desta sexta, 3, em frente à Assembleia Legislativa, diante da expectativa de que homens da Força Nacional, que chegaram à capital baiana por volta das 23h30 de quinta, 2, invadiriam o local, ocupado por cerca de mil policiais militares grevistas (à paisana). A informação de que o governador ordenou a participação dos policiais do Batalhão de Choque e do Comando de Operações Especiais (COE) na ação deixam os ânimos dos manifestantes ainda mais exaltados. Contudo, tudo não passou de boato e as barracas continuam armadas nos jardins e estacionamento do Legislativo.
Grupo de 2.600 homens da Força Nacional chega ao estado
O juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública, Ruy Eduardo Almeida Brito, considerou ilegal o movimento grevista, de PMs ligados à Associação de Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra-BA). Os militares reivindicam aumento salarial de 50% e melhores condições de trabalho - um soldado ganha cerca de R$ 1,5 mil líquidos. As lideranças querem a implantação da gratificação conhecida como “GAP 5”, que aumentaria os vencimentos para cerca de R$ 3 mil. O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alfredo Castro, confirmou nesta sexta-feira que 10 mil PMs aderiram à greve por tempo indeterminado, o que representa um terço do efetivo da corporação.
Diante da situação, o Ministério da Defesa informou que vai dobrar o número de homens da Força Nacional para ajudar a reforçar o policiamento e a conter a onda de violência na Bahia. Segundo o ministério, 1.250 homens já foram enviados à capital e outros 1.350 começam a chegar ainda nesta sexta-feira, totalizando 2.600 militares. O governo federal também está disponibilizando quatro helicópteros.
Por volta das 15h, uma Força Tarefa da Brigada Paraquedista composta por 150 militares deixou o Rio com destino a Salvador. Caso seja necessário, o Ministério da Defesa informou que outros 4 mil militares da 10ª Região Militar de Fortaleza (CE) poderão der acionados para reforçar a segurança na Bahia.
O secretário de Segurança da Bahia, Maurício Barbosa, disse na quinta-feira que o reforço no policiamento integra um pacote de medidas para a restauração da sensação de segurança. Ele se reúne nesta sexta-feira com representantes de associações de policiais para discutir o assunto.
- Não negociamos sob coação - disse Barbosa, em entrevista coletiva.
O procurador-geral do estado, Ruy Moraes, disse que, se a Aspra não suspender o movimento, será cobrada multa de R$ 80 mil por dia de paralisação. A decisão judicial está em vigor e foi comunicada quinta-feira à associação.
Governador critica grevistas na TV
Num pronunciamento em rede de televisão da Bahia, na noite dessa quinta-feira, o governador Jaques Wagner criticou duramente os grevistas da Polícia Militar da Bahia e procurou tranquilizar a população baiana, informando que já teria adotado todas as providências para manter a ordem no Estado. Wagner qualificou os grevistas de “grupo de policiais usando métodos condenáveis, difundindo medo na população, que chegou a causar desordens em alguns pontos do Estado”. Alegou estar aberto ao diálogo, mas disse não aceitar “que um pequeno grupo, de forma irresponsável, cometa atos de desordem para assustar a nossa população” e prometeu continuar “firme contra esse tipo de atitude”. Alegou ainda que “a PM do estado da Bahia, centenária milícia de bravos e defensora da paz, não pode permitir se transformar num instrumento de intimidação e desordem”.
Foi a primeira vez nos dois mandatos de governador, que Wagner utilizou uma rede regional de televisão para fazer um pronunciamento do tipo. “Quero tranquilizar você e sua família” disse para os telespectadores, assinalando ter agido imediatamente “com todo rigor, para conter as ações de um grupo de policiais”. Entre as providências está o pedido feito “direto à presidente Dilma Rousseff” para o envio das forças federais para ajudar na segurança do Estado. Disse que “não esperaria outra atitude da nossa presidente Dilma, defensora da democracia como eu, sabedora que a democracia é o território do império da lei, não podemos conviver com movimento já decretado ilegal pela Justiça baiana, além dos 12 mandatos de prisão que já foram emitidos”.
Por fim conclamou “a todos os profissionais da Polícia Militar a retornar a normalidade dos seus trabalhos” e ponderou que o governo “sempre esteve aberto para negociação. Foi com democracia e garantindo conquistas importantes como aumento real de salário, a compra de 3 mil viaturas e a incorporação de mais de 9 mil homens ao efetivo da Polícia Militar. Apesar de todos esses esforços, sei que ainda não estamos na situação ideal e vou continuar trabalhando, firmemente, para melhorar as condições de trabalho das polícias da Bahia”.
Comitiva do Ministério da Justiça segue para a Bahia neste sábado
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a secretária Nacional de Segurança Pública, Regina Miki, e o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, vão à Bahia neste sábado para acompanhar a situação. O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general José Carlos de Nardi, também integra o grupo.
Eles pretendem ver de perto as operações que o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, órgão do Ministério da Defesa, coordena para garantir a lei e a ordem durante a greve. Além dos 2,8 mil militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, o Ministério da Justiça informa que estão sendo enviados mais cerca de 450 policiais da Força Nacional.
O governador Jaques Wagner, o comandante da 6ª Região Militar, general G. Dias, e o secretário Maurício Barbosa receberão a comitiva na Base Aérea, às 10h.
Questão política precede movimento grevista
A situação, até o fim da tarde desta sexta-feira, era um pouco menos grave que a paralisação de 13 dias deflagrada pela tropa em 2001, quando governava a Bahia César Borges, do extinto PFL. Naquela greve, deputados do PT e do PCdoB, além da Central Única os Trabalhadores (CUT), deram apoio político e logístico aos grevistas. Agora, os mesmo atores que apoiaram o movimento contra o governo pefelista vem condenando a greve feita contra o petista Jaques Wagner.
O PCdoB emitiu nota para condenar um tipo de movimento que apoiava em passado recente: “O PCdoB condena veementemente todos esses atos de vandalismo registrado na capital e em algumas cidades do interior. Reafirmamos nossa solidariedade, apoio e compromisso com o governador Jaques Wagner e todo o seu Governo com as ações tomadas para a manutenção da ordem e garantia da tranquilidade e dos direitos dos cidadãos baianos”, destacou o presidente estadual do partido o deputado federal Daniel Almeida.
Curiosamente, os comandos da Secretaria de Segurança Pública e da Polícia Militar estão negociando com três associações de militares que não aderiram a greve, deixando de fora as lideranças de duas outras: a Associação dos Policiais, Bombeiros e seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra-BA) - que iniciou a paralisação - e a Associação dos Policiais da Bahia (Aspol), que apóia o movimento. Tanto o secretário de segurança quanto o comandante da PM Alfredo Castro têm tratado os grevistas de “vândalos, terroristas e baderneiros”. A greve foi considerada ilegal pela Justiça.
As críticas se devem a uma série de atentados supostamente perpetrados pelos grevistas, como o que ocorreu na quinta-feira na Avenida Paralela, via expressa que liga o aeroporto ao centro de Salvador. Comandos ligados ao movimento entraram em dois ônibus, mandaram os motoristas e passageiros saírem e atravessaram os veículos na pista causando grande engarrafamento. Dezenas de radio-patrulhas também tiveram os pneus furados e quatro agências bancárias foram atacadas com tiros que estilhaçaram suas vidraças.
Ônibus funcionam em horário normal, afirma Sindicato
Depois de cogitar a suspensão sos serviços de transporte em Salvador, o Sindicado dos Rodoviários decidiu, em assembleia realizada na tarde desta sexta-feira, que os ônibus do sistema público vão funcionar normalmente. De acordo com o Sindicato, com a presença dos homens do exército e da Força Nacional, o governo do estado garantiu a segurança dos rodoviários.
Segudo o diretor do Sindicato, Hélio Ferreira, os ônibus só serão recolhidos se não houver segurança nas ruas. "O governo se comprometeu com a categoria, mas caso não haja segurança, os ônibus podem ser recolhidos mais cedo, sim", afirma. Em ofício ao Sindicato, o secretário de Relações Institucionais, Paulo Cezar Lisboa, em nome do governador Jaques Wagner, fez um apelo a que os trabalhadores “mantenham suas atividades, uma vez que estamos dando condições para assegurar o direito de ir e vir dos cidadãos”.
Já os servidores da Transalvador decidiram retornar ao trabalho, durante assembleia realizada nesta sexta-feira pela Associação dos Servidores em Transporte e Trânsito do Município (Astram) e o Sindicato dos Servidores em Trânsito e Transporte de Salvador e Região Metropolitana (Sindttrans). Durante a paralisação, que começou na última quarta-feira, somente 30% do efetivo estava nas ruas realizando blitzes de fiscalização pela cidade. De acordo com nota divulgada pela Astram, uma nova assembleia vai acontecer na proxima quarta-feira.
Show de Ivete Sangalo e outros eventos são cancelados
Alguns eventos foram cancelados e adiados na Bahia. Um deles, o “Cerveja e Cia Folia”, que teria a presença da cantora Ivete Sangalo, não vai mais ocorrer neste sábado “devido à greve da Polícia Militar do Estado da Bahia” e para “zelar pela segurança dos foliões”. Uma nova data para o evento será divulgada na próxima semana. Aqueles que compareceriam ao evento poderão para realizar a troca pelo novo ingresso ou ser ressarcido.
O evento República do Reggae, marcado para o domingo, foi adiado para o dia 12 de fevereiro. O festival acontecerá no mesmo local e horário, no Wet’n Wild.
O Projeto Música no Parque também adiou o evento de domingo “diante da greve da Polícia Militar e da insegurança que tomou conta de toda a cidade”. O show com o grupo Bailinho de Quinta acontecerá no dia 26 de fevereiro, primeiro domingo após o Carnaval.
Os empresários do setor de turismo também estão preocupados com as consequências da greve. O presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagem - Seção Bahia, Pedro Galvão, estima que essa semana tenha havido, pelo menos, 10% de cancelamentos de reservas de viagens e hotéis no Estado. - Acredito que se a greve parar agora, os cancelamentos de viagens sejam de pelo menos 10% para todo o verão - estima.
A expectativa da Secretaria Estadual de Turismo é atrair cerca de 6,5 milhões de visitantes para este verão, número que deve ser reduzido com as notícias da greve.
- O turismo é um segmento muito sensível. Qualquer notícia de doença contagiosa, catástrofe natural ou uma notícia como essa afeta diretamente o setor. Não há só o prejuízo iminente mas fica na cabeça das pessoas a ideia de insegurança, o turismo vive de imagem. Nós compreendemos o direito de reivindicação de uma classe que é mal remunerada, mas lamentamos o fato de isso estar acontecendo às vésperas do Carnaval e em um verão que estava sendo muito bom.” - lamenta Galvão (Fonte).
Juntos Somos Fortes!
Um comentário:
o rio vai parar ... greve na policia militar,civil e bombeiro... dia 10/02/2012... quem viver verá!!!!juntos somos fortes...
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