segunda-feira, 2 de março de 2009

CORREIO BRAZILIENSE - APENAS 24% DOS FUNCIONÁRIOS DA POLÍCIA FEDERAL ESTÃO SATISFEITOS COM O CARGO.

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Assunto: reflexão.
Data: Segunda-feira, 2 de Março de 2009, 13:52
APENAS 24% DOS FUNCIONÁRIOS DA PF ESTÃO SATISFEITOS COM O CARGO.
LEONEL ROCHA - CORREIO BRAZILIENSE - 01/03/2009.
“Uma pesquisa realizada entre os funcionários da Polícia Federal (PF),concluída em dezembro, revelou um risco para a sociedade: o desinteresse desses servidores pela profissão. Feita pela rede interna de computadores da instituição e sem a identificação do pesquisado ou de sua função, a enquete obtida com exclusividade pelo Correio mostra que 57,8% dos delegados, peritos, papiloscopistas, escrivães, agentes e pessoal administrativo pretendem deixar a carreira na primeira oportunidade. A amostra atingiu mais de 3,7 mil pessoas e constatou que a grande massa — 52,95% — aguarda ansiosa para fazer concurso em outra área da carreira pública. Além disso, 4,86% dos funcionários sonham com uma chance melhor até no setor privado.
Mesmo classificado no topo da lista de cargos estatais, com bons salários, estabilidade no emprego e prestígio por serem considerados carreira imprescindível ao funcionamento do Estado, o ofício de policial federal não encanta mais. Pouco mais da metade dos 14,4 mil servidores da PF almeja uma nova profissão, de preferência bem longe das delegacias. Somente 24,14% dos pesquisados estão inteiramente satisfeitos com a carreira e pretendem continuar nela até a aposentadoria. Outros 18% permaneceriam na policia, só que em cargo distinto.
“A questão é a vocação. A pesquisa mostra que há pessoas em trânsito na Polícia, se preparando para fazer concursos para juiz ou promotor. Elas têm um outro sonho, mas ficam aproveitando o bom salário”, admite o diretor geral da PF.
De 2004 até o fim do ano passado, a polícia realizou dois concursos para agentes, um nacional e outro regional. Nesse período treinou na Academia Nacional de Polícia 1.866 pessoas. Desse grupo, 471 pediram exoneração nos últimos quatro anos, deixando abertas 25,2% das vagas que deveriam estar inteiramente ocupadas. Fenômeno parecido aconteceu com os escrivães, só que em proporção muito maior. Nos últimos quatro anos a PF abriu 705 vagas para a função, mas 411 profissionais dessa área desistiram da profissão logo depois do curso e de trabalhar pouco tempo. Representaram 58,2 % de desistência.
É um exército de servidores treinado em uma das melhores escolas de polícia da América Latina que troca a PF por outra função pública ou pelo setor privado. “A PF evoluiu em termos de salário, é uma instituição respeitável e tem um trabalho gratificante, mas também atraiu o profissional de concurso em razão do elevado nível de escolaridade exigido nos exames. Não posso ter 50% em trânsito na Policia, o cidadão não merece isso”, reconhece o diretor geral, Luiz Fernando Corrêa.
MUDANÇA.
Um dos descontentes com o trabalho na PF é o escrivão Flávio Werneck. Aos 33 anos e na polícia há mais de sete, o advogado conseguiu ser transferido para a assessoria do Ministério da Justiça. Está se preparando para fazer concurso para promotor público. Se passar, vai ganhar o dobro do que recebe hoje.
“Tenho capacitação e conhecimento jurídico, mas não utilizo no meu trabalho. Entrei na polícia com garra e esperando ajudar a fazer um País melhor, mas com o tempo fui perdendo o interesse porque fui assumindo atribuições menores”, lamenta Werneck.
Outra parte da enquete mostra quadro preocupante. Mais de 42 % dos policiais e agentes administrativos classificam o trabalho da Corregedoria da instituição “incompleto, com caráter apenas disciplinar e pouco correicional”. Outros 30% apontam o setor como ineficiente e sem efeitos disciplinares. Mais de 14,2% definem a Corregedoria como “deficitária”. Segundo Corrêa, uma outra pesquisa interna foi realizada pela CNT/Sensus mas ainda não concluída mostrou que 70% do efetivo da PF estão satisfeitos com o emprego, mas o diretor não divulgou o conteúdo integral do levantamento.
Quem consegue ser aprovado no rigoroso concurso para agente, por exemplo, começa a trabalhar com salário inicial de R$ 8 mil mensais. No final da carreira poderá ganhar até R$ 13,5 mil, mais do que fatura alguns níveis da carreira diplomática, e sem a necessidade de ser poliglota. O caso dos delegados é ainda mais confortável.
Nesse cargo os rendimentos começam com R$ 9 mil e no final da carreira chegam a R$ 19 mil mensais. Ganhos maiores do que recebe um ministro de Estado, que tem vencimento de R$ 12 mil. Com soldos mais modestos, o servidor administrativo da PF recebe próximo de R$ 4 mil. Nada mal para quem não precisou ter cursado universidade e passa a ter estabilidade e salário médio acima do pago no setor privado ou em outras áreas estatais.
TROCA POR OUTRO EMPREGO.
A PF é uma instituição cara e responsável pela apuração dos crimes federais. O orçamento de 2008 foi de R$ 3,6 bilhões, o mesmo previsto para este ano. Só em custeio foram gastos R$ 350 milhões no ano passado.
Mesmo com o reforço no caixa e uma autorização do Ministério do Planejamento para preencher 3 mil vagas nos setores administrativos, a direção da instituição não iniciou a seleção. Teme a repetição de um fenômeno que ocorreu entre 2004 e 2005, quando 60% dos servidores aprovados no concurso e contratados para substituir os funcionários temporários pediram exoneração porque tinham optado por outros empregos.Dos 14 mil policiais, 350 são mestres, doutores e até pós-doutores. Esse grupo, formado majoritariamente por peritos, compõe uma massa crítica que aumenta o nível de questionamento das ações administrativas da instituição.
Além disso, os contratados pela polícia fazem comparações com os colegas de outros segmentos públicos e descobrem que, com a mesma escolaridade, podem ganhar um pouco mais, trabalhar em áreas onde não é preciso dar plantão, trabalhar de madrugada, perseguir traficante perigoso ou investigar poderosos”.
Cidadãos Brasileiros, respeitando o posicionamento dos Policiais Federais, imaginem a insatisfação e a desmotivação dos Policiais Militares, dos Bombeiros Militares e dos Policiais Civis, que trabalham em condições muito piores e com salários infinitamente menores.
Sem dúvida, isso merece uma séria reflexão.

PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO