Hoje eu recebi a visita de um grande amigo da Polícia Militar – um Sargento de Polícia.
Conversamos sobre vários assuntos pessoais e relembramos da mobilização cívica dos Policiais Militares e dos Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro, objetivando o recebimento de salários dignos e de adequadas condições de trabalho.
Mais uma vez, eu percebi a importância que os Praças, que tiveram um real conhecimento sobre os Coronéis Barbonos e os 40 da Evaristo, deram à mobilização.
Eu pensei: devo escrever mais artigos sobre a mobilização, isso é um dever.
Explicar o idealismo dos 40 da Evaristo – Oficiais e Praças – que foram às ruas do Rio de Janeiro, desarmados, em trajes civis e de folga (finais de semana), para alertar à sociedade sobre a penúria vivenciada pelas instituições e por seus integrantes.
Esclarecer que os Coronéis Barbonos abriram mão de funções, de gratificações e das próprias carreiras – quando ocupavam as principais funções da instituição – para lutar por todos.
Ignoraram inclusive o garnde reajuste das gratificações que recebiam (mais de 200%), concordando com a posição do Comandante Geral – Coronel de Polícia Ubiratan de Oliveira Ângelo – que sabiamente disse que não devíamos concordar com o reajuste das gratificações, enquanto a tropa não tivesse um aumento digno de salários.
O idealismo dos Coronéis Barbonos para muitos foi loucura e para outros tinha interesses ocultos, isso na opinião daqueles que queriam distorcer a verdade.
Uma verdade amarga, porém a mais concreta das verdades experimentadas nestes 200 anos de existência da Polícia Militar.
Não precisei escrever um artigo grande, considerando que um outro amigo – um Tenente de Polícia – encaminhou-me o artigo a seguir transcrito:
EU SEI QUE A GENTE SE ACOSTUMA. MAS NÃO DEVIA.
MARINA COLASSANTI.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acorda de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo, porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceita ler todo o dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E, a saber, que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma andar na rua e ver cartazes. Abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma a poluição, a salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. A luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. As bactérias de água potável. A contaminação da água do mar. A lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a temer hidrofobia dos cães, a não colher frutas no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar nas asperezas, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de facas e baionetas, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta e que, gasta de tanto se acostumar, se perde de si mesma".
Os Coronéis Barbonos e os 40 da Evaristo não se acostumaram com a mesmice de “olhar para o próprio umbigo”, lutaram por instituições mais fortes, prestadoras de melhores serviços à sociedade fluminense e devidamente reconhecidas (melhores salários e condições de trabalho).
Conversamos sobre vários assuntos pessoais e relembramos da mobilização cívica dos Policiais Militares e dos Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro, objetivando o recebimento de salários dignos e de adequadas condições de trabalho.
Mais uma vez, eu percebi a importância que os Praças, que tiveram um real conhecimento sobre os Coronéis Barbonos e os 40 da Evaristo, deram à mobilização.
Eu pensei: devo escrever mais artigos sobre a mobilização, isso é um dever.
Explicar o idealismo dos 40 da Evaristo – Oficiais e Praças – que foram às ruas do Rio de Janeiro, desarmados, em trajes civis e de folga (finais de semana), para alertar à sociedade sobre a penúria vivenciada pelas instituições e por seus integrantes.
Esclarecer que os Coronéis Barbonos abriram mão de funções, de gratificações e das próprias carreiras – quando ocupavam as principais funções da instituição – para lutar por todos.
Ignoraram inclusive o garnde reajuste das gratificações que recebiam (mais de 200%), concordando com a posição do Comandante Geral – Coronel de Polícia Ubiratan de Oliveira Ângelo – que sabiamente disse que não devíamos concordar com o reajuste das gratificações, enquanto a tropa não tivesse um aumento digno de salários.
O idealismo dos Coronéis Barbonos para muitos foi loucura e para outros tinha interesses ocultos, isso na opinião daqueles que queriam distorcer a verdade.
Uma verdade amarga, porém a mais concreta das verdades experimentadas nestes 200 anos de existência da Polícia Militar.
Não precisei escrever um artigo grande, considerando que um outro amigo – um Tenente de Polícia – encaminhou-me o artigo a seguir transcrito:
EU SEI QUE A GENTE SE ACOSTUMA. MAS NÃO DEVIA.
MARINA COLASSANTI.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acorda de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo, porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceita ler todo o dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E, a saber, que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma andar na rua e ver cartazes. Abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma a poluição, a salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. A luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. As bactérias de água potável. A contaminação da água do mar. A lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinhos, a não ter galo de madrugada, a temer hidrofobia dos cães, a não colher frutas no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar nas asperezas, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de facas e baionetas, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta e que, gasta de tanto se acostumar, se perde de si mesma".
Os Coronéis Barbonos e os 40 da Evaristo não se acostumaram com a mesmice de “olhar para o próprio umbigo”, lutaram por instituições mais fortes, prestadoras de melhores serviços à sociedade fluminense e devidamente reconhecidas (melhores salários e condições de trabalho).
Eles não se acostumaram e fizeram o que deviam!
PAULO RICARDO PAÚL
CORONAL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO
PAULO RICARDO PAÚL
CORONAL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO