quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O MILAGRE DE CABRAL E BELTRAME É UMA FRAUDE, COMO SEMPRE SE DISSE AQUI - REINALDO AZEVEDO.

REVISTA VEJA.
REINALDO AZEVEDO.
07/09/2011 - às 6:09.
O “milagre” de Cabral e Beltrame é uma fraude, como sempre se disse aqui. Mas o Jabor quer mais…
Leiam esta afirmação, que uso como epígrafe neste texto. Revelo a sua autoria daqui a pouco e explico por que ela é o emblema da uma empulhação que está em curso no Rio.
“(…) soldados não podem subir [o morro] para impor uma moral oficial aos moradores. Estão lá para impedir conflitos e não para fechar bocas de fumo, que existem em Ipanema, Copacabana, Tijuca”
O pau comeu de novo no Complexo do Alemão, como vocês viram. O céu voltou a ser iluminado pelas tais balas traçantes. Por volta das 21h20, informou o Globo, dois veículos blindados do Exército e diversos carros da Polícia Militar entraram na área para reforçar a ocupação. O tal “Caveirão”, do Bope, também foi acionado. O milagre de Sérgio Cabral e José Mariano Beltrame começa a mostrar a sua verdadeira face. Era questão de tempo. Por que daria certo, na prática, aquilo que está errado na teoria, no conceito, nos fundamentos, na moral e na ética? No máximo, seduz inteligências como a de Arnaldo Jabor — autor daquela besteira que abre este texto — e, claro!, boa parte da imprensa, que passou a acreditar nos poderes mágicos de um propagandista de si mesmo como Cabral.
Escrevi dezenas de textos — praticamente sozinho, como sabem — indagando como poderia ser bem-sucedida a recuperação de áreas dominadas pelo narcotráfico sem prender narcotraficantes. Se a coisa desse certo, ponderei, o Rio passaria à condição de exportador de bandidos para outros estados. Não só isso: publiquei diversos relatos de leitores que asseguram que o tráfico continua a ser feito normalmente nas favelas “pacificadas”. O que o governo do Rio quer é que ele não afronte o bom gosto, evitando exibir revólveres e fuzis que possam ser mostrados nos telejornais.
Mas Beltrame, o queridinho dos descolados do Rio, com a sua equação impossível, deixou claro: ele não estava combatendo o narcotráfico, mas recuperando território. Ah, bom!!! Como eu acho que a lógica é compatível com o sol e com aquela paisagem estonteante do Rio — de fato, é um dos lugares mais bonitos do mundo! —, indago: se o tal território retomado estava ocupado pelo narcotráfico e se retomado foi sem confronto com aqueles bravos, o que a gente deve concluir? Que se fez uma espécie de pacto com os donos da área, certo? Certo!
E é isto o que persegue o governo do Rio: um narcotráfico mais, como posso dizer?, decoroso! É por isso que a turma que fuma e cheira — OS PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS PELA VIOLÊNCIA — nem chegou a sentir no bolso o peso das operações. A “mercadoria”, farta como sempre, nem subiu de preço.
A “pacificação” das favelas do Rio tem sido fonte inesgotável de poesia e jornalismo ruins, isto sim! Aquele deslumbramento da turma do asfalto com o “outro” do morro, que sempre me incomodou em certa “cultura” carioca, está mais vivo do que nunca. Basta subir algumas vielas, SEMPRE COM AUTORIZAÇÃO DOS DONOS DA COMUNIDADE, e filmar crianças felizes batendo lata (geralmente sob os cuidados de algumas ONGs) para garantir que o futuro e a esperança estão de volta. É constrangedor e chega mesmo a ser cruel.
É claro que aquele pacto não daria certo, como nunca dá certo acordo com bandido. No comentário de Jabor, Beltrame e Cabral continuam heróis, e o tráfico está buscando sabotar — bidu! — os esforços pacificadores. Nem ele nem boa parte da imprensa dirão uma vírgula sobre essa magnífica forma de combate ao crime que tem como pedra-de-toque a tática do “bandido solto é bandido convertido à virtude”.
Essa política vai continuar porque nem daria tempo de pensar em outra. Prender vagabundo requer polícia treinada (e não apenas uma parcela ínfima, a tropa de elite) e equipada e dá um trabalho imenso. Mais: é preciso ter onde colocar os vagabundos, o que também custa caro. Isso parece estar fora daquele espírito caricato de balneário, tão bem encarnado por Cabral. O negócio agora é ver onde foi que desandou a receita.
Como o tráfico continua a correr livre, leve e, sobretudo, solto nas favelas ocupadas pelas UPPs ou pelo Exército, estamos diante de uma outra formidável realidade. Os bandidos não precisam mais temer a ameaça de gangues rivais ou das milícias criminosas. Policiais militares e soldados de uma das Forças Armadas foram convertidos pelos magos Cabral e Beltrame em seguranças do tráfico de drogas.
E não é o que defende Jabor, na prática? Voltemos à sua fala. Vejam lá que ele está entre aqueles que entendem que a comunidade do morro é o “outro antropológico”, que tem seus próprios valores. Jabor defende abertamente que, ao se deparar com uma boca de fumo, os soldados do Exército não façam nada — não estão lá para interferir na “realidade local”; sem essa de impor, como ele diz, a “moral oficial”. Por “moral oficial” se deve entender, creio, a lei. Sim, rapaz, bocas de fumo existem em Copacabana, Ipanema etc. Mas não com a chancela do Exército Brasileiro.
Não, eu não sou contra UPPs. Sou contra a empulhação. Cabral e Beltrame não inventaram a polícia comunitária. Ela existe no mundo há alguns séculos. O que é da autoria dos dois — se bem que Brizola já fez o mesmo, em essência, só que com menos talento — é esse modelo que confere cidadania ao crime, desde que ele não exagere.
Os bandidos devem ter algumas reivindicações. Algo deu errado na negociação com os companheiros. Nada que não se resolva com uma conversa entre as partes. Até me ocorreu contratar um “consultor” que anda por aí — se os bandidos não o recusarem por insuficiência moral, é óbvio. Sabem como é: ética de bandido não tolera certos tipos…
Digam-me: isso estava ou não escrito nas estrelas? De novo: eu nunca fui contra UPPs e pacificações. Combati desde sempre a mistificação. E, lamento pelo Rio, eu estava obviamente certo. Os tiros que ontem cruzaram o Complexo do Alemão surpreenderam muita gente porque o jornalismo tem sido omisso sobre a realidade do Rio. Está produzindo mais ideologia do que informação.
Os meus leitores cariocas sempre me disseram a verdade a respeito. Afinal, eles têm a vida real, não uma agenda com Copa do Mundo e Olimpíada pela frente.
Por Reinaldo Azevedo
COMENTO:
Perfeito!
Nós temos denuciado essa fraude desde 2009 no nosso espaço democrático.
Fraude!
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí. Perversamente, os donos da bola (aqueles da alta que mandam e desmandam) não querem resolver nada. Apenas manter o status quo. Eles biliardários e poderosos e os outros estupidamente satisfeitos com migalhas do tipo teleférico na "comunidade", copa do mundo, baile de debutante na favela, reconhecimento da cultura afro, cotas para a universidade, educação com remissão de pena para presos etc. Desde que seus carros possuam blindagem, seus condomínios sejam fechadíssimos e os passeios em locais seguros no estrangeiro, dane-se o resto, continuemos a enganação.