"A PM hoje desperdiça policiais"
Christina Nascimento e Vania Cunha
Rio - "Desde que assumiu o comando-geral da Polícia Militar, na última quarta-feira, foram, em média, duas horas de sono por dia. Como filho pródigo, o coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, 50 anos, diz que não via o momento de voltar “para casa”, de onde estava afastado há três anos. O retorno não aconteceu exatamente como imaginava: nos três primeiros dias na liderança da tropa, uma criança de 13 anos morreu atingida por bala perdida, uma dona de casa e um cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram baleados em assaltos —, o policial morreu. Diante de um Rio amedrontado, o autor do blog ‘Segurança Pública - Ideias e Ações’ tem agora nãos mãos o desafio de colocar em prática suas teorias para redução da criminalidade e a transformação da tropa em uma polícia “mais qualificada”, como não se cansa de repetir. “Não vou descansar, enquanto não conseguir resultados”, reafirma o oficial, que é também formado em Filosofia, é espírita kardecista e vascaíno.
- O DIA: O assalto que vitimou o cabo do Bope, na sexta-feira, foi mais um episódio ocorrido durante a troca de turno dos policiais. O que o senhor vai fazer para evitar esse vácuo no policiamento de rua?
Christina Nascimento e Vania Cunha
Rio - "Desde que assumiu o comando-geral da Polícia Militar, na última quarta-feira, foram, em média, duas horas de sono por dia. Como filho pródigo, o coronel Mário Sérgio de Brito Duarte, 50 anos, diz que não via o momento de voltar “para casa”, de onde estava afastado há três anos. O retorno não aconteceu exatamente como imaginava: nos três primeiros dias na liderança da tropa, uma criança de 13 anos morreu atingida por bala perdida, uma dona de casa e um cabo do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram baleados em assaltos —, o policial morreu. Diante de um Rio amedrontado, o autor do blog ‘Segurança Pública - Ideias e Ações’ tem agora nãos mãos o desafio de colocar em prática suas teorias para redução da criminalidade e a transformação da tropa em uma polícia “mais qualificada”, como não se cansa de repetir. “Não vou descansar, enquanto não conseguir resultados”, reafirma o oficial, que é também formado em Filosofia, é espírita kardecista e vascaíno.
- O DIA: O assalto que vitimou o cabo do Bope, na sexta-feira, foi mais um episódio ocorrido durante a troca de turno dos policiais. O que o senhor vai fazer para evitar esse vácuo no policiamento de rua?
Mário Sérgio: As substituições geram uma série de situações que precisam ser resolvidas. Temos que ser inteligentes o suficiente para realizarmos as trocas sem tirar todo o policiamento das ruas. Podemos executar, por exemplo, um rodízio de horários. Sabemos do problema e vamos corrigir para que, no momento em que uma viatura estiver saindo, outra venha a substituí-la.
- Para resolver, então, basta alternar os horários das trocas de turno?
- Para resolver, então, basta alternar os horários das trocas de turno?
MS: Não é um mecanismo fácil, porque existe número ‘x’ de viaturas. Se a gente for esperar cada uma chegar para substituir a outra, vai levar 24 horas para terminar todas as trocas. Fazer é complicado, mas não significa que não possa ser feito. Podemos colocar horários diferentes para cada setor mudar de serviço, por exemplo.
O senhor fala que é o momento do ‘corte da gordura burocrática’. Quais áreas vão receber o reforço dos homens que estão saindo dos gabinetes? - - Como o senhor sabe que mil homens é o número necessário?
O senhor fala que é o momento do ‘corte da gordura burocrática’. Quais áreas vão receber o reforço dos homens que estão saindo dos gabinetes? - - Como o senhor sabe que mil homens é o número necessário?
MS: Meu feeling de policial de 30 anos aponta que tenho essa necessidade imediatamente. Todo o meu esforço vai ser para botar mais mil homens nas ruas. E eles vão para os locais de maior incidência de criminalidade. Por exemplo, na área do 9º BPM, com Rocha Miranda e Madureira, há essa necessidade. Niterói e São Gonçalo também, além da Tijuca, onde aconteceu esse episódio lamentável com o cabo do Bope.
- Mas só aumentar o efetivo é o bastante?
- Mas só aumentar o efetivo é o bastante?
MS: Não. Temos que apostar num planejamento adequado e na utilização de ferramentas, como o Laboratório de Análise Criminal do Instituto de Segurança Pública (ISP), que, trimestralmente, divulga relatório sobre a incidência de crimes em todo o Estado do Rio.
- Que treinamento os PMs que vão sair dos gabinetes vão receber?
- Que treinamento os PMs que vão sair dos gabinetes vão receber?
MS: Esse pessoal já trabalha na rua. Eles tiram uma, duas vezes por semana, serviço na rua. Na realidade, a PM precisa de um treinamento o tempo todo. Eles já fazem o que chamamos de instrução de manutenção. Mas tem um trabalho burocrático que a gente pensa: ‘poxa, por que isso está sendo feito?’. Vamos enxugar esse negócio, colocar esse policial na rua. Mas como estamos ainda num passado em termos de tecnologia da informação, alguma coisa que numa empresa é feita por um, na PM é feita por quatro pessoas. Por isso que algumas coisas são rápidas na corporação e outras, não. Também é preciso capacitar comandantes para aplicar, seguindo um emprego operacional inteligente nos recursos.
- Mas o senhor não teme que o aumento de efetivo ostensivo resulte em mais casos como o do menino João Roberto (morto quando a mãe teve o carro fuzilado por PMs) e o da engenheira Patrícia Amieiro, em que a falta de preparo dos agentes para este tipo de situação ficou evidente?
- Mas o senhor não teme que o aumento de efetivo ostensivo resulte em mais casos como o do menino João Roberto (morto quando a mãe teve o carro fuzilado por PMs) e o da engenheira Patrícia Amieiro, em que a falta de preparo dos agentes para este tipo de situação ficou evidente?
MS: Vamos fazer isso para toda a corporação e reativar outros programas que já tivemos. Não podemos deixar de considerar que ele vai ter que fazer isso na folga ou vai precisar sair das ruas. Então, temos que ter alguma coisa inteligente. O mês de férias é de 30 dias. Se o policial entrou num mês de 31 dias, já sobrou um dia para ele realizar uma instrução antes de voltar à sua escala.
- Esses PMs em atividades burocráticas chegariam a formar um batalhão?
- Esses PMs em atividades burocráticas chegariam a formar um batalhão?
MS: Na atual circunstância, mil homens dariam dois batalhões. O ideal seria que tivéssemos esse contingente em apenas um batalhão. Com toda a nossa necessidade de homens na rua, a Polícia Militar desperdiça policiais e tem hoje dois batalhões de burocratas.
- O Bope já está há alguns meses na Cidade de Deus, fazendo um trabalho de ocupação que deveria ser feito por unidades operacionais. O senhor pretende deixar este contingente lá?
- O Bope já está há alguns meses na Cidade de Deus, fazendo um trabalho de ocupação que deveria ser feito por unidades operacionais. O senhor pretende deixar este contingente lá?
MS: Essas ações requerem preparação para situações de maior risco. Eles estão sempre envolvidos no momento mais difícil desse quadro de segurança. Eu pretendo tirar o Bope daquela comunidade. Lá só vai ter unidade de pacificação. O Bope realiza o esforço primeiro de participação nas áreas que serão pacificadas, mas tem que sair. Depois, quando a área está dominada, aí entra um novo modelo de pacificação, que é a polícia de proximidade.
- Os salários baixos são um problema histórico na PM. O senhor já conversou com o governador sobre isso?
- Os salários baixos são um problema histórico na PM. O senhor já conversou com o governador sobre isso?
MS: A questão salarial na tropa é uma realidade. Desde que conversei com o secretário, ele mesmo tocou no assunto. É um tema importante que não está esquecido. Estou muito esperançoso porque o governador, já num primeiro momento, deixou claro que é uma questão que precisa ser resolvida. Não sabemos, no entanto, se será ainda este ano.
- E as promoções de praças? Há alguma política estabelecida para isso? É possível definir um prazo?
- E as promoções de praças? Há alguma política estabelecida para isso? É possível definir um prazo?
MS: Disse aos praças que temos que resgatar a promoção pela capacitação, e não pela extensão do tempo. É claro que vamos continuar com as promoções por tempo de serviço, mas também vamos oferecer o benefício para aqueles policiais que estudam, se dedicam a concursos internos, por exemplo.
- Sobre as Unidades de Policiamento de Pacificação (UPPs), o senhor já definiu quais comunidades serão beneficiadas com a continuidade desse programa?
- Sobre as Unidades de Policiamento de Pacificação (UPPs), o senhor já definiu quais comunidades serão beneficiadas com a continuidade desse programa?
MS: Este é um estudo científico que ainda está sendo realizado. Uma possibilidade é que os Grupamentos de Policiamento em Áreas Especiais (Gpaes) podem ser potencializados e transformados em Unidades de Pacificação. Mas isso não pode ser uma ação isolada. Tem que haver uma integração para que outros serviços sociais do governo entrem junto na comunidade.
- O senhor também pretende acabar com os Postos de Policiamento Comunitários (PPCs) e Destacamentos de Policiamento Ostensivo (DPOs)?
- O senhor também pretende acabar com os Postos de Policiamento Comunitários (PPCs) e Destacamentos de Policiamento Ostensivo (DPOs)?
MS: Sexta-feira desativamos o PPC do Morro do Turano, na Tijuca. Com isso, ganhamos cerca de 30 policiais a mais nas ruas. Não adianta ter homens dentro de uma favela, onde eles não são o braço forte do estado, onde estão sujeitos a serem corrompidos. Vamos identificar as áreas onde esses postos não são eficazes e desativá-los para colocar homens em patrulhamento que realmente faça a diferença".
JUNTOS SOMOS FORTES!PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO
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