BLOG DO REINALDO AZEVEDO
1) 14/02/2011
às 21:34
O cheiro ruim que emana da Polícia do Rio
Leiam com muita atenção o que informa o G1 no post abaixo. Volto no próximo post:
Por Aluizio Freire, do Portal G1:
O chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, entregou à Corregedoria Interna de Polícia (Coinpol), na tarde desta segunda-feira (14), documentos de investigações que, segundo ele, apontam irregularidades na Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Draco), comprometendo o titular da especializada, delegado Cláudio Ferraz, e um inspetor. A unidade, que passa por uma devassa da corregedoria, continua interditada.
De acordo com Allan, um dos procedimentos suspeitos, aberto para investigar desvio de licitação na Prefeitura de Rios das Ostras, em 2008, foi arquivado dois dias depois com a justificativa de falta de provas. Segundo o chefe de Polícia, o documento foi entregue em sua residência nesta manhã.
As denúncias foram deixadas na portaria da casa de Allan Turnowski com uma carta anônima relatando as várias irregularidades em procedimentos da Draco, entre elas, supostas extorsões contra prefeituras.
A assessoria de imprensa da prefeitura de Rio das Ostras informou, por meio de nota, que a procuradoria do município nega qualquer envolvimento da cidade no suposto esquema de corrupção relacionado à Draco
Allan Turnowski comunicou também ao corregedor Gilson Emiliano Soares que foram encontradas seis armas na delegacia, entre pistolas, revólveres e escopetas, sem o devido registro de apreensão. Outra situação que ele considerou suspeita foi o arquivamento de um procedimento de escuta que investigava recebimento de propinas por agentes da delegacia. Em todos os documentos, segundo o chefe da Polícia Civil, constam as assinaturas do delegado Cláudio Ferraz.
Corregedor acha procedimento “estranho”
O corregedor Gilson Emiliano disse que é “estranho” que um documento de investigação seja aberto para apurar irregularidades e, em seguida, arquivado com o mesmo número, quando, em geral, é emitido um outro processo para encerrar a movimentação.
O corregedor designou uma delegada para que continue o trabalho de análise de possíveis irregularidades em inquéritos instaurados pela delegacia. O delegado Cláudio Ferraz estaria prestes a assumir a Subsecretaria de Contra Informação, órgão ligado à Secretaria de Segurança Pública e a qual a Draco passa a ser subordinada, conforme resolução publicada no Diário Oficial do dia 9 de fevereiro.
O chefe de Polícia Civil analisou o comportamento do delegado como se ele não fosse mais o titular da especializada. Ou seja, não estaria mais trabalhando como seu subordinado.
“Se estivesse na Polícia Civil, tendo um RO (Registro de Ocorrência) de instauração de inquérito como também um de arquivamento do mesmo fato, numa mudança repentina, além de denúncias de recebimento de vantagens, com fortes indícios de problemas aqui na Draco, evidentemente que eu o exoneraria”, disse.
Delegado da Draco diz que “é constrangedor”
“É constrangedor”, resumiu o delegado Claudio Ferraz, sobre o fato de a Draco, que comanda, ter sido lacrada pela chefia de Polícia Civil. Em entrevista ao RJTV, o chefe de polícia, Allan Turnowski já havia afirmado haver documentos originais, com a assinatura de Ferraz, que reforçam denúncias de favorecimento a empresas e prefeituras com suspeitas de fraudes em licitações no estado do Rio.
“Eu não tenho o que falar. Ele [Allan Turnowski] tem seus motivos pra fazer essa questão [lacrar a Draco]. Mas é claro que é um constrangimento”, afirmou, ao deixar o prédio da unidade.
Apesar de ter ficado cerca de quatro horas no local, junto com o corregedor de polícia, Gilson Emiliano Soares, Ferraz disse que não foi à delegacia por causa do episódio.
“Não sei de apreensões, documentos… Sei que os acessos da delegacia estão proibidos. Eu estou aqui na delegacia para resolver outro assunto, que não tem total ligação com essa busca”, reiterou ele, que negou ter alguma rivalidade com Turnowski
Turnowski justificou sua decisão de lacrar a Draco na entrevista ao RJTV: “No fim de semana, empresários fizeram uma denúncia de que, na Draco, existiriam problemas com a lei de licitação, envolvendo desvio de conduta de policiais”, afirmou. “Então, para preservar a busca desses documentos, a Draco foi lacrada e, nesta segunda, foram encontrados dois documentos originais, com o mesmo número, e com a assinatura do delegado e do inspetor. Por isso, a denúncia passa a ter um valor muito maior”, acrescentou.
Operação Guilhotina
A ação acontece dois dias depois da Operação Guilhotina, realizada na última sexta-feira (11) pela Polícia Federal, na qual 38 dos 45 mandados de prisão já foram cumpridos. Deste total, 30 presos são policiais militares ou civis, que ajudavam traficantes, milicianos e contraventores, com informações sobre as operações policiais, negociando material de apreensão e até dando proteção a criminosos. O chefe de Polícia Civil chegou a ser chamado para prestar esclarecimentos.
Segundo o corregedor, a partir desta semana, passa a valer uma medida do secretário José Mariano Beltrame determinando que a Draco fique diretamente subordinada à Secretaria de Segurança, e não mais à chefia de Polícia Civil.
Por Reinaldo Azevedo
2) 14/02/2011Por Aluizio Freire, do Portal G1:
O chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, entregou à Corregedoria Interna de Polícia (Coinpol), na tarde desta segunda-feira (14), documentos de investigações que, segundo ele, apontam irregularidades na Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Draco), comprometendo o titular da especializada, delegado Cláudio Ferraz, e um inspetor. A unidade, que passa por uma devassa da corregedoria, continua interditada.
De acordo com Allan, um dos procedimentos suspeitos, aberto para investigar desvio de licitação na Prefeitura de Rios das Ostras, em 2008, foi arquivado dois dias depois com a justificativa de falta de provas. Segundo o chefe de Polícia, o documento foi entregue em sua residência nesta manhã.
As denúncias foram deixadas na portaria da casa de Allan Turnowski com uma carta anônima relatando as várias irregularidades em procedimentos da Draco, entre elas, supostas extorsões contra prefeituras.
A assessoria de imprensa da prefeitura de Rio das Ostras informou, por meio de nota, que a procuradoria do município nega qualquer envolvimento da cidade no suposto esquema de corrupção relacionado à Draco
Allan Turnowski comunicou também ao corregedor Gilson Emiliano Soares que foram encontradas seis armas na delegacia, entre pistolas, revólveres e escopetas, sem o devido registro de apreensão. Outra situação que ele considerou suspeita foi o arquivamento de um procedimento de escuta que investigava recebimento de propinas por agentes da delegacia. Em todos os documentos, segundo o chefe da Polícia Civil, constam as assinaturas do delegado Cláudio Ferraz.
Corregedor acha procedimento “estranho”
O corregedor Gilson Emiliano disse que é “estranho” que um documento de investigação seja aberto para apurar irregularidades e, em seguida, arquivado com o mesmo número, quando, em geral, é emitido um outro processo para encerrar a movimentação.
O corregedor designou uma delegada para que continue o trabalho de análise de possíveis irregularidades em inquéritos instaurados pela delegacia. O delegado Cláudio Ferraz estaria prestes a assumir a Subsecretaria de Contra Informação, órgão ligado à Secretaria de Segurança Pública e a qual a Draco passa a ser subordinada, conforme resolução publicada no Diário Oficial do dia 9 de fevereiro.
O chefe de Polícia Civil analisou o comportamento do delegado como se ele não fosse mais o titular da especializada. Ou seja, não estaria mais trabalhando como seu subordinado.
“Se estivesse na Polícia Civil, tendo um RO (Registro de Ocorrência) de instauração de inquérito como também um de arquivamento do mesmo fato, numa mudança repentina, além de denúncias de recebimento de vantagens, com fortes indícios de problemas aqui na Draco, evidentemente que eu o exoneraria”, disse.
Delegado da Draco diz que “é constrangedor”
“É constrangedor”, resumiu o delegado Claudio Ferraz, sobre o fato de a Draco, que comanda, ter sido lacrada pela chefia de Polícia Civil. Em entrevista ao RJTV, o chefe de polícia, Allan Turnowski já havia afirmado haver documentos originais, com a assinatura de Ferraz, que reforçam denúncias de favorecimento a empresas e prefeituras com suspeitas de fraudes em licitações no estado do Rio.
“Eu não tenho o que falar. Ele [Allan Turnowski] tem seus motivos pra fazer essa questão [lacrar a Draco]. Mas é claro que é um constrangimento”, afirmou, ao deixar o prédio da unidade.
Apesar de ter ficado cerca de quatro horas no local, junto com o corregedor de polícia, Gilson Emiliano Soares, Ferraz disse que não foi à delegacia por causa do episódio.
“Não sei de apreensões, documentos… Sei que os acessos da delegacia estão proibidos. Eu estou aqui na delegacia para resolver outro assunto, que não tem total ligação com essa busca”, reiterou ele, que negou ter alguma rivalidade com Turnowski
Turnowski justificou sua decisão de lacrar a Draco na entrevista ao RJTV: “No fim de semana, empresários fizeram uma denúncia de que, na Draco, existiriam problemas com a lei de licitação, envolvendo desvio de conduta de policiais”, afirmou. “Então, para preservar a busca desses documentos, a Draco foi lacrada e, nesta segunda, foram encontrados dois documentos originais, com o mesmo número, e com a assinatura do delegado e do inspetor. Por isso, a denúncia passa a ter um valor muito maior”, acrescentou.
Operação Guilhotina
A ação acontece dois dias depois da Operação Guilhotina, realizada na última sexta-feira (11) pela Polícia Federal, na qual 38 dos 45 mandados de prisão já foram cumpridos. Deste total, 30 presos são policiais militares ou civis, que ajudavam traficantes, milicianos e contraventores, com informações sobre as operações policiais, negociando material de apreensão e até dando proteção a criminosos. O chefe de Polícia Civil chegou a ser chamado para prestar esclarecimentos.
Segundo o corregedor, a partir desta semana, passa a valer uma medida do secretário José Mariano Beltrame determinando que a Draco fique diretamente subordinada à Secretaria de Segurança, e não mais à chefia de Polícia Civil.
Por Reinaldo Azevedo
às 22:09
A guerra civil na Polícia Civil do Rio
Olhem aqui: a coisa está muito feia na Polícia do Rio. Mais feia do que parece. Cláudio Ferraz, o delegado que foi moralmente esmagado por Allan Turnowski nesta segunda (ver post abaixo), participou ativamente da Operação Guilhotina, da Polícia Federal, que levou à decretação da prisão de 45 pessoas, das quais 30 são policiais civis e militares — sete pessoas ainda estão foragidas.
Um dos presos na operação foi o policial Carlos Oliveira, que já foi braço-direito de Turnowski e pertence a seu grupo. Ele era subsecretário de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop). Outra auxiliar direta do chefe da Polícia, a delegada Márcia Becker, que já comandou a divisão de repressão ao tráfico de armas, também foi presa. O próprio chefe da Polícia teve de prestar depoimento.
Nesta segunda, Turnowski se encarregou pessoalmente de comandar a operação-humilhação contra Ferraz, que havia colaborado com a PF, que prendeu seus dois amigos. É retaliação? Não sei. As pessoas, no entanto, têm o direito de desconfiar, não é mesmo?
Eu não estou me alinhando com ninguém. Em matéria de Polícia do Rio, prefiro me alinhar com os advérbios evidentemente. As investigações trouxeram à luz a impressionante baixaria mafiosa que foi a ocupação do Morro do Alemão.
Este blogueiro aqui, vocês devem se lembrar, sempre recomendou um pouco mais de prudência com aquele clima de triunfo da pátria no caso da ocupação do Alemão. A Polícia do Rio tem, sim, de enfrentar o crime. Mas nada vai acontecer sem uma faxina interna que, pelo visto, é bem mais difícil do que parece.
Por Reinaldo Azevedo
3) 15/02/2011Um dos presos na operação foi o policial Carlos Oliveira, que já foi braço-direito de Turnowski e pertence a seu grupo. Ele era subsecretário de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop). Outra auxiliar direta do chefe da Polícia, a delegada Márcia Becker, que já comandou a divisão de repressão ao tráfico de armas, também foi presa. O próprio chefe da Polícia teve de prestar depoimento.
Nesta segunda, Turnowski se encarregou pessoalmente de comandar a operação-humilhação contra Ferraz, que havia colaborado com a PF, que prendeu seus dois amigos. É retaliação? Não sei. As pessoas, no entanto, têm o direito de desconfiar, não é mesmo?
Eu não estou me alinhando com ninguém. Em matéria de Polícia do Rio, prefiro me alinhar com os advérbios evidentemente. As investigações trouxeram à luz a impressionante baixaria mafiosa que foi a ocupação do Morro do Alemão.
Este blogueiro aqui, vocês devem se lembrar, sempre recomendou um pouco mais de prudência com aquele clima de triunfo da pátria no caso da ocupação do Alemão. A Polícia do Rio tem, sim, de enfrentar o crime. Mas nada vai acontecer sem uma faxina interna que, pelo visto, é bem mais difícil do que parece.
Por Reinaldo Azevedo
às 13:01
“Pede pra sair, Turnowski!” E ele pediu!
Caros,
Escrevi o texto que segue abaixo na madrugada e o programei para entrar no ar às 13h01. Como vocês verão, ele deixa claro por que Allan Turnowski, o chefe da Polícia Civil do Rio, tinha de ser demitido. O título original era este: “A Polícia do Rio vive um momento delicado: o risco é o mocinho virar bandido e o contrário. Vamos ver até onde vai a coragem e o poder de Beltrame. Com a palavra, Cabral!”. Pois bem! Cinco minutos depois de o post entrar no ar, Turnowski “pediu pra sair”. Leiam. Ainda voltarei ao tema ao longo do dia. Deixarei o post como estava.
*
Este é um post sério! Muito sério! E dos mais importantes escritos aqui. E os coleguinhas perceberão que está cheio de pistas. Basta segui-las. Ontem, todos vimos que, a partir de uma suposta carta anônima recebida em casa, o delegado Allan Turnowski, chefe da Polícia Civil do Rio, entregou à Corregedoria Interna documentos que apontam supostas irregularidades na Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Draco), cujo titular é (ou era) outra estrela da área de segurança do estado, o delegado Cláudio Ferraz. O documento teria sido entregue na casa de Turnowski na manhã de ontem. No fim da tarde, a Draco já estava lacrada. Nunca antes na história do Rio se viu ação tão rápida!
Eu me interessei por essa história, conversei com algumas pessoas, recorri a coisas que havia lido. O resultado disso tudo é o seguinte: gente da maior seriedade me assegura que Cláudio Ferraz, o delegado humilhado ontem por Turnowski, o chefão da Polícia Civil, é um profissional decente. Sob a sua coordenação, mais de 400 milicianos foram presos. Apurei também que José Mariano Beltrame gosta de seu trabalho e o tem na cota de um homem honesto. Ele colaborou com a Operação Guilhotina, da Polícia Federal, que desbaratou parte ao menos de uma quadrinha coalhada de policiais, que aproveitou a ocupação do Complexo do Alemão para saquear, roubar, extorquir… Na operação, foram presos os delegados Carlos de Oliveira e Márcia Becker, ambos da cúpula da Polícia Civil. Os dois são aliados de Turnowski — o que não quer dizer que o chefe da Polícia Civil estivesse ou esteja necessariamente envolvido com crimes. Falo um pouco da Operação Guilhotina e retomo o fio.
A Operação Guilhotina foi deflagrada pela PF em 2009, quando vazou uma operação da Polícia do Rio que buscava prender chefes do tráfico de drogas da Favela da Rocinha. A história está contada em detalhes no capítulo 16 do livro “Elite da Tropa 2″, de Luiz Eduardo Soares, André Batista, Rodrigo Pimentel e… Cláudio Ferraz! — sim, o próprio delegado. Há pouco, mandaram-me um link do jornal Extra, do Rio, afirmando que Ferraz está sendo investigado pela “Operação Guilhotina”. Não! Ele não está! Ele foi o investigador. Foi alvo de uma ação desfechada por Turnowski a partir de uma “carta anônima”, o que é coisa bem diferente. Sigamos.
Foi Cláudio Ferraz quem, investigando as milícias chegou a Carlos de Oliveira, então braço-direito de Turnowski — lotado, até a sua prisão, calculem vocês!, na Subsecretaria de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop) da Prefeitura do Rio, para onde tinha sido transferido. Ferraz não sabia o que fazer: era candidato a presunto. Foi aí que a PF entrou na operação e começou a investigar Oliveira e seu grupo.
Reitero: a Polícia Federal não obteve nenhuma prova contra Allan Turnowski, mas não dá para fazer de conta que o grupo que o acompanhava havia mais de 10 anos não está no xilindró. Parece-me que Beltrame teria, se é para valer o combate ao crime no Rio, que dizer ao chefe da Polícia Civil, estrela muito falante durante a ocupação do Complexo do Alemão, que seu tempo no comando acabou. Antes de ocupar esse posto, ele foi diretor geral das delegacias especializadas durante seis anos. Foi nomeado por Álvaro Lins, um antecessor seu que está na cadeia.
Quando, no governo, Turnowski chega à chefia da Polícia, nomeia como subchefe justamente Carlos de Oliveira, o que está preso — aquele que tinha sido investigado por Cláudio Ferraz e pela PF. Em 2010, o chefe sentiu cheiro de carne queimada e começou a se afastar um pouco dos aliados. Oliveira foi, então, para a tal secretaria da Prefeitura por vontade de Sérgio Cabral, o governador — porque também é o governador, e não José Mariano Beltrame, quem mantém Turnowski no cargo. Cabral considera que ele é um homem que sabe tudo…
Vejam bem: um ex-chefe (Álvaro Lins) e um ex-subchefe (Carlos de Oliveira) da Polícia do Rio estão em cana. Isso da conta da contaminação da instituição pelo crime organizado. Nesse ambiente, toda prudência é sempre pouca, sei disso. Ocorre que pessoas com as quais falei, gente da maior seriedade, acha que Cláudio Ferraz é um policial decente. Essas pessoas temem que a ação de que ele é vítima agora seja uma retaliação por ter cumprido a sua função. Se for assim e se prosperar, pobre Rio de Janeiro!
Por Reinaldo Azevedo
4) 15/02/2011Escrevi o texto que segue abaixo na madrugada e o programei para entrar no ar às 13h01. Como vocês verão, ele deixa claro por que Allan Turnowski, o chefe da Polícia Civil do Rio, tinha de ser demitido. O título original era este: “A Polícia do Rio vive um momento delicado: o risco é o mocinho virar bandido e o contrário. Vamos ver até onde vai a coragem e o poder de Beltrame. Com a palavra, Cabral!”. Pois bem! Cinco minutos depois de o post entrar no ar, Turnowski “pediu pra sair”. Leiam. Ainda voltarei ao tema ao longo do dia. Deixarei o post como estava.
*
Este é um post sério! Muito sério! E dos mais importantes escritos aqui. E os coleguinhas perceberão que está cheio de pistas. Basta segui-las. Ontem, todos vimos que, a partir de uma suposta carta anônima recebida em casa, o delegado Allan Turnowski, chefe da Polícia Civil do Rio, entregou à Corregedoria Interna documentos que apontam supostas irregularidades na Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Draco), cujo titular é (ou era) outra estrela da área de segurança do estado, o delegado Cláudio Ferraz. O documento teria sido entregue na casa de Turnowski na manhã de ontem. No fim da tarde, a Draco já estava lacrada. Nunca antes na história do Rio se viu ação tão rápida!
Eu me interessei por essa história, conversei com algumas pessoas, recorri a coisas que havia lido. O resultado disso tudo é o seguinte: gente da maior seriedade me assegura que Cláudio Ferraz, o delegado humilhado ontem por Turnowski, o chefão da Polícia Civil, é um profissional decente. Sob a sua coordenação, mais de 400 milicianos foram presos. Apurei também que José Mariano Beltrame gosta de seu trabalho e o tem na cota de um homem honesto. Ele colaborou com a Operação Guilhotina, da Polícia Federal, que desbaratou parte ao menos de uma quadrinha coalhada de policiais, que aproveitou a ocupação do Complexo do Alemão para saquear, roubar, extorquir… Na operação, foram presos os delegados Carlos de Oliveira e Márcia Becker, ambos da cúpula da Polícia Civil. Os dois são aliados de Turnowski — o que não quer dizer que o chefe da Polícia Civil estivesse ou esteja necessariamente envolvido com crimes. Falo um pouco da Operação Guilhotina e retomo o fio.
A Operação Guilhotina foi deflagrada pela PF em 2009, quando vazou uma operação da Polícia do Rio que buscava prender chefes do tráfico de drogas da Favela da Rocinha. A história está contada em detalhes no capítulo 16 do livro “Elite da Tropa 2″, de Luiz Eduardo Soares, André Batista, Rodrigo Pimentel e… Cláudio Ferraz! — sim, o próprio delegado. Há pouco, mandaram-me um link do jornal Extra, do Rio, afirmando que Ferraz está sendo investigado pela “Operação Guilhotina”. Não! Ele não está! Ele foi o investigador. Foi alvo de uma ação desfechada por Turnowski a partir de uma “carta anônima”, o que é coisa bem diferente. Sigamos.
Foi Cláudio Ferraz quem, investigando as milícias chegou a Carlos de Oliveira, então braço-direito de Turnowski — lotado, até a sua prisão, calculem vocês!, na Subsecretaria de Operações da Secretaria Especial da Ordem Pública (Seop) da Prefeitura do Rio, para onde tinha sido transferido. Ferraz não sabia o que fazer: era candidato a presunto. Foi aí que a PF entrou na operação e começou a investigar Oliveira e seu grupo.
Reitero: a Polícia Federal não obteve nenhuma prova contra Allan Turnowski, mas não dá para fazer de conta que o grupo que o acompanhava havia mais de 10 anos não está no xilindró. Parece-me que Beltrame teria, se é para valer o combate ao crime no Rio, que dizer ao chefe da Polícia Civil, estrela muito falante durante a ocupação do Complexo do Alemão, que seu tempo no comando acabou. Antes de ocupar esse posto, ele foi diretor geral das delegacias especializadas durante seis anos. Foi nomeado por Álvaro Lins, um antecessor seu que está na cadeia.
Quando, no governo, Turnowski chega à chefia da Polícia, nomeia como subchefe justamente Carlos de Oliveira, o que está preso — aquele que tinha sido investigado por Cláudio Ferraz e pela PF. Em 2010, o chefe sentiu cheiro de carne queimada e começou a se afastar um pouco dos aliados. Oliveira foi, então, para a tal secretaria da Prefeitura por vontade de Sérgio Cabral, o governador — porque também é o governador, e não José Mariano Beltrame, quem mantém Turnowski no cargo. Cabral considera que ele é um homem que sabe tudo…
Vejam bem: um ex-chefe (Álvaro Lins) e um ex-subchefe (Carlos de Oliveira) da Polícia do Rio estão em cana. Isso da conta da contaminação da instituição pelo crime organizado. Nesse ambiente, toda prudência é sempre pouca, sei disso. Ocorre que pessoas com as quais falei, gente da maior seriedade, acha que Cláudio Ferraz é um policial decente. Essas pessoas temem que a ação de que ele é vítima agora seja uma retaliação por ter cumprido a sua função. Se for assim e se prosperar, pobre Rio de Janeiro!
Por Reinaldo Azevedo
às 17:24
No caso do Rio, não sou nem otimista nem pessimista; apenas realista. Ou: como Cabral seduziu amplos setores da imprensa
O que tenho a dizer a alguns críticos?
Quem anda com a lógica nunca se espanta — no máximo, se indigna. Eu sempre disse, e isso é tão óbvio, que não tenho nada contra a instalação de bases de polícia comunitária, tenham elas o nome que for — UPP, ABC, XYZ… Ao contrário: eu sou a favor.
Mas há algo de profundamente errado numa polícia e numa política de segurança que, em nome do que é correto — reconquistar os territórios tomados pelo tráfico —, fazem o exótico: espalhar bandidos em vez de prendê-los.
É até possível que José Mariano Beltrame, o secretário da Segurança Pública, faça o que é possível fazer. O possível, dentro do absolutamente sofrível, é pouco para despertar meu entusiasmo. Muito pouco. Especialmente quando se sabe que a “pacificação” precisa contar com a boa-vontade do narcotráfico. Se mais não pode ser feito porque as condições não permitem, então é preciso mudar as condicionantes, que são feitas pelos homens, não caem do céu.
Dou de barato que Beltrame queira resolver o problema. Mas não vou varrer as questões incômodas para debaixo do tapete como vinham fazendo setores majoritários da imprensa.
Sérgio Cabral é muito bom de marketing. É apreciadíssimo pela imprensa carioca e já fincou raízes na paulistana, apresentando-se como um governante moderno, pragmático, pós-ideológico, com uma agenda modernizadora, especialmente no terreno dos costumes. Ele ganhou alguns “corações e mentes” — eu tenho horror a esse clichê, mas o emprego justamente por isto: para marcar o ENGANO — em São Paulo ao defender a descriminação do aborto e das drogas e a legalização do casamento gay. Em certos círculos de pensamento (?), curetagem feita pelo SUS, queima legal de mato e união civil de parceiros do mesmo sexo são vistos como uma categoria superior de pensamento.
Essa fachada moderna tem servido para esconder um Cabral de verdade, cujo governo — e isso não e novidade no Rio — estava perigosamente próximo do que a polícia pode oferecer de pior. Ora, seria cômico se não fosse trágico o fato de que a máfia incrustada na Polícia viveu o seu momento de glória justamente na ocupação do Complexo do Alemão, saudada por amplos setores da imprensa como um momento de “libertação”.
Por Reinaldo Azevedo
5) 15/02/2011Quem anda com a lógica nunca se espanta — no máximo, se indigna. Eu sempre disse, e isso é tão óbvio, que não tenho nada contra a instalação de bases de polícia comunitária, tenham elas o nome que for — UPP, ABC, XYZ… Ao contrário: eu sou a favor.
Mas há algo de profundamente errado numa polícia e numa política de segurança que, em nome do que é correto — reconquistar os territórios tomados pelo tráfico —, fazem o exótico: espalhar bandidos em vez de prendê-los.
É até possível que José Mariano Beltrame, o secretário da Segurança Pública, faça o que é possível fazer. O possível, dentro do absolutamente sofrível, é pouco para despertar meu entusiasmo. Muito pouco. Especialmente quando se sabe que a “pacificação” precisa contar com a boa-vontade do narcotráfico. Se mais não pode ser feito porque as condições não permitem, então é preciso mudar as condicionantes, que são feitas pelos homens, não caem do céu.
Dou de barato que Beltrame queira resolver o problema. Mas não vou varrer as questões incômodas para debaixo do tapete como vinham fazendo setores majoritários da imprensa.
Sérgio Cabral é muito bom de marketing. É apreciadíssimo pela imprensa carioca e já fincou raízes na paulistana, apresentando-se como um governante moderno, pragmático, pós-ideológico, com uma agenda modernizadora, especialmente no terreno dos costumes. Ele ganhou alguns “corações e mentes” — eu tenho horror a esse clichê, mas o emprego justamente por isto: para marcar o ENGANO — em São Paulo ao defender a descriminação do aborto e das drogas e a legalização do casamento gay. Em certos círculos de pensamento (?), curetagem feita pelo SUS, queima legal de mato e união civil de parceiros do mesmo sexo são vistos como uma categoria superior de pensamento.
Essa fachada moderna tem servido para esconder um Cabral de verdade, cujo governo — e isso não e novidade no Rio — estava perigosamente próximo do que a polícia pode oferecer de pior. Ora, seria cômico se não fosse trágico o fato de que a máfia incrustada na Polícia viveu o seu momento de glória justamente na ocupação do Complexo do Alemão, saudada por amplos setores da imprensa como um momento de “libertação”.
Por Reinaldo Azevedo
às 16:25
Sim, no caso da Polícia do Rio, eu bem que avisei
Sobre a crise na Polícia do Rio, algumas pessoas reclamaram: “Pô, você fica aí escrevendo ‘eu bem que avisei, eu bem que avisei; deixe de ser vaidoso’”. NÃO É VAIDADE, NÃO! É só um chamamento para que a imprensa passe a ter senso de proporção. Eu tinha algumas informações sobre os bastidores — ou sobre o bas-fond — da Polícia do Rio. Aliás, não era só eu, não. Boa parte do jornalismo sabe das mesmas coisas, nem sempre publicáveis por falta daquela prova contundente, como dois e dois são quatro. Se não podem ser publicadas, elas devem instruir ao menos a prudência.
Vi muitas vezes o delegado Allan Turnowski posando ao lado dos “heróis” da ocupação do Complexo do Alemão, e aquilo provocava, assim, meu ceticismo. E, reitero, eu não era o único que tinha motivos para ser cético. Por que os outros não foram? EU entendo: há aquela sede de “resolver o problema”, que alguns pretendem chamar de “pragmatismo”. Lamento! Não é pragmático escolher o erro para se chegar ao acerto.
Por Reinaldo Azevedo
6) 15/02/2011Vi muitas vezes o delegado Allan Turnowski posando ao lado dos “heróis” da ocupação do Complexo do Alemão, e aquilo provocava, assim, meu ceticismo. E, reitero, eu não era o único que tinha motivos para ser cético. Por que os outros não foram? EU entendo: há aquela sede de “resolver o problema”, que alguns pretendem chamar de “pragmatismo”. Lamento! Não é pragmático escolher o erro para se chegar ao acerto.
Por Reinaldo Azevedo
Demissão de Turnowski não pode esconder a questão política
A demissão do delegado Allan Turnowsky é um passo importante, sim, para que a Polícia do Rio enfrente seus fantasmas. Mas ela não pode servir para mascar outros problemas. A questão é política. Digam-me: o que o delegado Carlos de Oliveira fazia na tal subsecretaria de segurança da PREFEITURA do Rio. O prefeito é Eduardo Paes, mas o delegado estava lá por vontade de Sérgio Cabral e com a bênção de Turnowski. Isso não elide a responsabilidade de Paes, que foi quem nomeou. Por alguma razão, Oliveira era considerado “importante” no esquema de Cabral.
É isto que falta agora: fazer as conexões de natureza POLÍTICA entre a banda podre da polícia e o poder. Será que Beltrame, subordinado do governador, consegue? Se a investigação não pudesse avançar na esfera estadual, restaria a federal. O limite, nesse caso, seria a necessidade de “subir” demais na hierarquia para resolver o problema.
ANOTEM - Turnowski sempre foi um homem de Sérgio Cabral na Polícia, não de Beltrame. E o mesmo se diga de Carlos de Oliveira, o delegado preso. A imprensa pode ficar no meio do caminho ou percorrer o caminho inteiro.
Por Reinaldo Azevedo
JUNTOS SOMOS FORTES!É isto que falta agora: fazer as conexões de natureza POLÍTICA entre a banda podre da polícia e o poder. Será que Beltrame, subordinado do governador, consegue? Se a investigação não pudesse avançar na esfera estadual, restaria a federal. O limite, nesse caso, seria a necessidade de “subir” demais na hierarquia para resolver o problema.
ANOTEM - Turnowski sempre foi um homem de Sérgio Cabral na Polícia, não de Beltrame. E o mesmo se diga de Carlos de Oliveira, o delegado preso. A imprensa pode ficar no meio do caminho ou percorrer o caminho inteiro.
Por Reinaldo Azevedo
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO
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