sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

RIO: MAIS DE 500 MORTOS. QUEM SERÁ PRESO?

O ESTADO DE SÃO PAULO
Não é a chuva que deve ir para a cadeia

14 de janeiro de 2011.
Marcos Sá Corrêa - O Estado de S.Paulo
Das surpresas do clima, quem pode falar por todos os políticos com conhecimento de causa são os faraós egípcios. Eles, como o ex-presidente Lula, agiam como enviados do céu à Terra. E, ao contrário do ex-presidente Lula, não falam desde que saíram de cena, a não ser por intermédio de escribas e hieróglifos.
Mas, como encarnações do Sol, se o Sol fracassava lá em cima, eram arrancados do trono cá embaixo, surrados e cuspidos no fundo do Nilo. Tudo porque o rio deixava de inundar o delta que nutria seu reino agrícola. Lá, o regime político mudava conforme o regime do rio. Tornava-se violento e insurreto até o Nilo voltar à normalidade, irrigando uma nova dinastia.
As vítimas dessas tragédias políticas e climáticas não tinham, na época, como saber que as cheias do Nilo eram regidas pelas chuvas de monção do Sudeste Asiático, que por sua vez dependiam de ventos conjurados pela temperatura das águas no Oceano Pacífico, do outro lado da terra, na costa da América do Sul, um lugar mais distante que o Sol do cotidiano egípcio.
O culpado da desordem era um fenômeno natural que só entrou há duas décadas no noticiário internacional, com o nome de El Niño. Mas deixar o clima fazer seus estragos à solta, em Tebas ou Mênfis, tinha custo político, porque da regularidade do rio dependiam vidas humanas. O preço era injusto, cruel e exorbitante. Como é injusto, e talvez seja também cruel e exorbitante, que hoje não se processe no Brasil, por homicídio culposo, o político que patrocina baixas evitáveis e supérfluas em encostas carcomidas e vales entulhados por ocupações criminosas.
No dia em que um prefeito, olhando as nuvens no horizonte, enxergar a mais remota possibilidade de ir para a cadeia pelas mortes que poderia impedir e incentivou, as cidades brasileiras deixariam aos poucos de ser quase todas, como são, feias, vulneráveis e decrépitas. De graça ou com o dinheiro virtual do PAC, os políticos não consertarão nunca a desordem que os elege.
Não adianta ameaçá-los com ações contra o Estado ou a administração pública, porque o Estado e a administração pública, na hora de pagar a conta, somos nós, os contribuintes. O remédio é responsabilizar homens públicos como pessoas físicas pelos crimes que cometem contra a vida. Às vezes em série, como acaba de acontecer na região serrana do Rio de Janeiro.
O resto é conversa fiada. Ou, pior, papo de verão em voo de helicóptero, que nessas ocasiões poupa às autoridades até o incômodo de sujar os sapatos na lama. Pobres faraós. O longo e virtuoso o caminho civilizatório que nos separa de seu linchamento está nos levando de volta à impunidade anárquica das entressafras dinásticas, quando a favelização lambia até as suntuosas muralhas de Luxor.
Linchar um político não é a mesma coisa que malhar seus projetos. E os brasileiros estão perdendo mais uma chance de bater com força no projeto de lei número 1876/99, que o deputado Aldo Rabelo transfigurou, para enquadrar o Código Florestal nos princípios do fato consumado. Ele reduz à metade as áreas de preservação em margens de rio, dispensa da reserva legal propriedades pequenas ou médias e consolida os desmatamentos ilegais. Nunca foi tão fácil saber aonde ele quer chegar, folheando as fotografias aéreas das avalanches em Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Dá para ver nas imagens o que havia antes nos pontos mais atingidos. É o que o novo Código Florestal vai produzir no campo. Mais disso.
COMENTO:
A maior tragédia da história do Brasil precisa ter nome e sobrenome.
O GLOBO denuncia na capa da edição dessa sexta-feira que após quatro anos de governo Sérgio Cabral o "ESTADO NÃO TEM SISTEMA DE ALERTA CONTRA CATÁSTROFES".
Isso é inadmissível, como Cabral ainda quer colocar a culpa no passado?
Se em quatro anos não conseguiu edificar esse sistema, a culpa é dele.
A tragédia precisa ser um divisor de águas em termos da responsabilização dos políticos: ALGUÉM TEM QUE SER PRESO.
Salvo melhor juízo, não faltou dinheiro para o governo do Rio de Janeiro, que contou com todo apoio do governo federal.
Então, o que faltou?
Competência?
Vontade política?
Ou gastou demais em propaganda governamental e nada na prevenção de tragédias?
Mais de 500 cidadãos fluminenses perderam a vida, famílias foram destruídas, a investigação precisa ser feita em caráter de urgência e alguém tem que ser responsabilizado duramente.
Se no processo ninguém for afastado do cargo e preso, podemos começar a contar os mortos da próxima tragédia.
O ex-presidente, o governador ou os prefeitos, alguém precisa ser DURAMENTE RESPONSABILIZADO e logo.
Não podemos abrir mão desse resultado.
Não adianta culpar as vítimas!
Não adianta prender a chuva!
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO

6 comentários:

Ricardo Oscar Vilete Chudo disse...

Além da grande aula de História,um comentário realmente concreto, que nos move ao real remédio. A responsabilização penal destes meliantes que apesar de todo o conhecimento e infraestrutura para evitar o que aconteceu, preferem correr o risco de perdas de vidas pelo seu descaso.

André Schirmer disse...

Não só com relação a isso, acho que a solução é responsabilizar todo e qualquer servidor, efetivo ou não, nas esferas civil e criminal (dependendo do caso), quando for comprovado que por sua culpa, o Estado, ou seja, nós, terá que pagar rios de dinheiro em ações na justiça, de direitos que não foram respeitados ou por qualquer outro motivo que onere os cofres públicos.
Quando isso passar a acontecer creio que a fila da boquinha por um carguinho irá diminuir, bem como o descaso de muitos funcionários de carreira, inclusive de alguns que ganham muito bem mas não tem nenhum comprometimento com a sua missão.
É só fazer o teste.

Alexandre, The Great disse...

"RIO: MAIS DE 500 MORTOS. QUEM SERÁ PRESO?
"

O PM e o BM que reclamarem do serviço e do salário. Quer apostar?

Anônimo disse...

Por que não encabeçar a lista dos criminoso com o Nome do Governo do Rio.
Desviou R$24 milhões de reais do FECAM (Fundo Estadual de Conservação do Meio Ambiente), para a contenção de encostas e obras de drenagem), deu para ORGANIZAÇÕES GLOBO como ajuda na construção do Museu do Amanhã, no Cais do Porto.

Anônimo disse...

TUDO ISSO COM O AVAL DO DEPUTADO ESTADUAL CARLOS MINC-ONHEIRO,E AINDA TEM UM PREFEITO QUE RENOVOU UM CONTRATO EMERGENCIAL COM A FUNDAÇÃO COBRA CORAL,AQUELA DO CABOCLO 171 COBRAL CORAL QUE DIZ TER PODER DE FAZER CHOVER,E PARAR DE CHOVER,ACHO QUE AS ASSOCIAÇÕES DE CLASSE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DEVERIAM DE FAZER UM ACORDO COM ESSA FUNDAÇÃO COBRA CORAL E ESSE CABOCLO DE MENTIRINHA PARA ÊLE FAZER UMA MACUMBA MALIGNA,COM A FINALIDADE DE FAZER CABRAL DAR AUMENTO DIGNO AOS FUNCIONÁRIOS,ENTÃO NÃO PRESISARIAMOS NEM DA PEC 300.

Preservação Sustentável disse...

É muito fácil proibir, mas, onde os menos favorecidos vão Morar?

Se as Leis fossem cumpridas não se poderia construir em quase nenhum lugar.

O problema não é construir aqui ou ali.

A Av. Paulista (e imediações) em São Paulo é uma “APP- Área de Preservação Permanente” de Topo de Morro e Linha de Cumeada com Encostas de Declividade Acentuada dos dois lados (acima do limite das Leis), urbanizadas e construídas e, sem deslizamentos.

Todas as cidades litorâneas estão construídas em APPs de restinga.

São só exemplos, pois o mesmo acontece em todas APPs, em todo o Brasil.

O problema real é que se deveria construir com bons estudos, projetos e técnicas.

Mas, em vez de estabelecer QUAIS SÃO OS OBJETIVOS e obrigar o empreendedor a apresentar estudos, projetos e técnicas que os alcancem, as Leis simplesmente proíbem, afastando os empreendedores Legais, desvalorizando a maioria das áreas e supervalorizando as poucas áreas onde se pode empreender.

Desta forma os empreendimentos legais ficam caros e fora do alcance dos cidadãos menos favorecidos, que são a maioria e temos a realidade, uma multidão sem acesso à moradia Legal, os “STL – Sem Teto Legal” e “APB - áreas proibidas baratas”.

O que você acha que vai acontecer?

Você acha que os STLs vão respeitar as APBs e a Lei que os impede de existir? Ou será que o instinto de sobrevivência os levará a enfrentar os perigos, para sobreviver?

Estão criadas as condições para a existência dos loteamentos clandestinos e invasões, com uma ocupação informal e descontrolada, que resultam em devastação, poluição e tragédias.

A verdade é que, SE CUMPRIREM A LEI, NÃO TEM ESPAÇO PARA OS MENOS FAVORECIDOS.

Se querem prender alguém, têm que ser os que fazem Leis absurdas e desconectadas da realidade.

É necessária uma nova Legislação, fundamentada, justa e sustentável.

Vinicius Nardi, por uma Preservação e Ocupação Justas e Sustentáveis