quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

DIVAGAÇÕES SOBRE A DEMOCRACIA (?) PERSONALISTA - GUSTAVO DE ALMEIDA

Vivemos uma democracia personalista, e não legalista - e apesar de não ser sociólogo e nem antropólogo, ouso deixar a modéstia de lado e afirmar que esta não é uma das razões de nossa inviabilidade como sociedade justa. Quando atrelamos o mero cumprimento da lei a um nome ("esse´é linha-dura", por exemplo, é frase recorrente), é porque já se tornou hábito que estas mesmas leis sejam "flexibilizadas" conforme a conjuntura polí­tica.
É algo sintomático, por exemplo, que funcionários públicos se tornem pessoas com potencial eleitoral apenas por terem cumprido a missão para a qual estudaram e se prepararam. "O procurador que combateu o jogo do bicho" ou "A juí­za que condenou os bicheiros" viraram slogans eleitorais que, aos meus ouvidos já cansados da retórica dos marqueteiros, soam como "a empregada doméstica que realmente lavou a louça ao ser paga para isso" ou "o encanador que efetivamente desentupiu o encanamento do banheiro" e por aí­ vai.
A dinâmica eleitoral, portanto, contamina aqueles que se investem de cargos no poder público e isto é um fator preocupante: quem garante que, no exercí­cio da função, um promotor se exceda nas atribuições apenas por querer ser "o promotor que combateu xxxx problemas"?
Tal procedimento certamente leva a prisões que não suportam o primeiro habeas-corpus.
Voltemos no tempo, por exemplo, e façamos um exame da situação do jogo do bicho no Rio: apesar de não haver tecnicamente nenhuma incorreção na sentença da juíza Denise Frossard, é fato mais que notório que a mesma não teve efeito quase nenhum sobre a estrutura do crime organizado no Rio, haja vista que, passados 15 anos, a guerra continua.
Naquele momento, a sentença da brava juí­za atingiu pessoas, sim. E "conjunturas". Mas não "situações" ou "estruturas".
O legado da nossa democracia eleitoral (eleições fatigantes de dois em dois anos a contaminar as decisões públicas) é basicamente este: a exposição em demasia de indiví­duos e o total descontrole sobre as estruturas que estes indiví­duos representam - haja vista que da estrutura, inclusive, depende o financiamento de muitas campanhas eleitorais por aí­. Em poucas palavras: "Eu te exponho e você me dá votos".
Esta "cultura" que se formou desde 15 de março de 1990 (quando o Brasil voltou a ser efetivamente uma "democracia" com aspas) fez com que os atuais e vindouros governantes deixassem de lado o mero cumprimento de leis e diretrizes para trabalhar de acordo com as oscilações das pesquisas de opinião. Se estas mostram uma queda na aprovação do governo, tome mudanças enérgicas. Se mostram uma subida, fica tudo como está.
No quadro atual, em que o movimento dos coronéis Barbonos começa a amealhar apoios de outras organizações civis, vale destacar que o governo parte para o diálogo franco e aberto com todas as associações que previamente se destacaram daquele mesmo movimento - todas, com exceção, claro, da do tenente Melquisedec Nascimento, a AMAE, que continua "barbona" (ainda que os barbonos não gostem muito dele - mas enfim, não é a hora de união?).
Os anti-Barbonos, por assim dizer, saí­ram na frente e já foram recebidos duas vezes pelo secretário Beltrame e uma vez pela tropa de choque do governador. Que sinalização é esta?
"Com vocês eu dialogo. Com os Barbonos, não".
E por que seria?
Por causa do temor de que os Barbonos se atrelem a políticos adversários do hoje governador. Afinal, até aqui se mostraram independentes, apesar de serem um grupo polí­tico bem fechado e coeso (tanto é fechado que mantiveram secretas várias reuniões - o que não tem absolutamente nada de mais).
Um grupo como os Barbonos, nas mãos de um adversário, é uma arma polí­tica forte. Um grupo como os Barbonos, tendo sido bem-sucedido em suas reivindicações e obtido aumento para as praças, deixa de ser uma arma polí­tica forte e vira um mí­ssil. Por tudo isto é que o governo do Estado abriu o diálogo com todas aquelas associações que, se nunca obtiveram grandes ganhos para a praça (se não fosse assim, não estaria a praça ganhando 840 reais), também por outro lado nunca foram muito longe politicamente.
São por excelência "vacas leiteiras".
Já os Barbonos aparecem no jogo polí­tico como vaqueiros de talento, prontos a, com o devido apoio de um bom fazendeiro, conduzir o gado em direção ao Valhala.
Na nossa democracia personalista, o que quer que esteja na lei ou o que quer que seja representatividade, se perdem em decisões pessoais e comportamentais. O resto, vira pesquisa eleitoral ou ataques de nervos."
GUSTAVO DE ALMEIDA
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CIDADÃO BRASILEIRO PLENO

4 comentários:

Anônimo disse...

Não conhecia este viés - analista político - do nobre companheiro.
Muito clara, desassombrada e realista a análise de nossa conjuntura.
Parabéns!

Cel PM RR Rosette

Anônimo disse...

GE-NI-AL !

Os Pastores - que são os Barbonos - têm a elevação e a Honra dos verdadeiros.

Outros podem até ser reais, ''legais'', mas infelizmente falta a estes - atualmente encastelados na abjeta peleguice da submissão aos podres poderes - a liderança que apenas os legítimos inspiram.

Bravos Barbonos.

Anônimo disse...

Eu enviei para o senhor por e-mail e no final estava o autor.
Postado hoje 21/02/8 por Gustavo de Almeida - jornalista.
Achei muito interessante!

Anônimo disse...

A TRES ANOS TOMEI DA DECISÃO DE ME DESLIGAR DE UMA DESSAS ASSOCIAÇÕES, E HJ VEJO QUE FOI ACERTADA A MINHA DECISÃO.


QUEM TEM VISÃO DE ÁGUIA,
NÃO PODE ANDAR COM GALINHAS.



JUNTOS SOMOS FORTES!!!


SD GUIMARÃES