segunda-feira, 26 de março de 2012

O JULGAMENTO DO MENSALÃO DE 2005.

EX-BLOG DO CESAR MAIA:
A TECNOLOGIA DO MENSALÃO DE 2005! O STF VEM AÍ!
1. O PT acertou -cinco anos depois- contabilmente, a dívida bancária que tinha e imagina que, com isso, limpou o mensalão. Ilusão. Mesmo que essa fosse a fonte do fluxo do mensalão e que o destino tivesse sido recontabilizado, seria como assaltar um banco, devolver o dinheiro cinco anos depois e querer que o processo fosse arquivado. Mas não foi essa a tecnologia básica do mensalão de 2004-2005. Pode ter sido a interna do PT.
2. A prática de mensalões, há anos, se espalhou em nível estadual e municipal, Brasil afora. Algum intermediário de confiança recíproca recebia os pacotes e os entregava aos destinatários. Mas, essa prática, em nível federal, criava riscos: primeiro pelo número de destinatários; segundo pelos holofotes abertos sobre os desvios dos políticos; e terceiro pela atenção maior da polícia federal e os instrumentos mais sofisticados de investigação (grampo múltiplo, grampo à distância, imagens à distância, leitura labial...).
3. Uma técnica desenvolvida em MG, especialmente para campanhas eleitorais, foi levada à Brasília por um tradicional deputado do PT das alterosas. Foi oferecida a empresas que queriam "colaborar" com uma campanha eleitoral pelo caixa 2 (dinheiro não contabilizado, segundo a linguagem 'delubiana'). A empresa contratava uma agência de publicidade para um trabalho, digamos, virtual. Essa tirava a sua normal comissão de agência. E disponibilizava o dinheiro para a campanha eleitoral de quem foi designado na boca do caixa.
4. Essa técnica foi adaptada para o mensalão 2004-2005. Empresas que queriam 'contribuir' para o esquema da formação de maioria parlamentar, coordenado por gabinetes do Planalto, não precisavam mais entregar pacotes de dinheiro, ou mesmo um pacotão que os intermediários subdividiam. Bastava, nessa engenhosa operação, "contratar" a agência de publicidade. Essa disponibilizava o dinheiro na boca do caixa com o nome do beneficiário.
5. Esses iam pessoalmente ao banco, assinavam o recibo e deixavam cópia de seus documentos de identidade. Ou seja, deixavam suas impressões digitais com firma reconhecida. Mas faltou a leitura de Luca Pacioli, em seu clássico de 1494, que criou o método veneziano ou de Partidas Dobradas. A cada crédito deve corresponder um débito e vice-versa.
6. Resultado: os parlamentares, ou mesmo parentes de primeiro grau (a imprensa divulgou que a esposa do presidente da câmara de deputados foi à boca do caixa receber por seu digníssimo), recebiam. Até aqui, crime perfeito. Mas os destinatários se 'esqueceram' de registrar onde aplicaram. A agência de publicidade tinha suas contas fechadas. Mas na outra ponta, quem recebeu e não registrou, passou a ter um "caixa 2" aberto e carimbado com seu documento de identidade. O esquema da agência foi descoberto e demonstrado.
7. A esse esquema se chamou "valerioduto", em homenagem a seu autor e sua agência. Denunciado o esquema e comprovadas às retiradas com carteira de identidade e firma reconhecida, os crimes, financeiro, fiscal e político, ficaram caracterizados com provas retumbantes.
8. Agora começa o julgamento do mensalão no STF. E não há habilidade advocacia que apague os rastros. Paradoxalmente, só não estão registradas as impressões digitais dos gabinetes do planalto. Mas, nesse caso, supõe-se que os inquéritos e depoimentos no STF tenham chegado à origem. Afinal, foi o próprio presidente da república que carimbou responsabilidades com a demissão de seu ministro coordenador. E, num esquema desses, não há moto-contínuo.
Juntos Somos Fortes!

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