A Polícia Militar do Rio de Janeiro está em estado terminal.
É essa a única conclusão que podemos chegar após analisarmos friamente a Instituição. Sem qualquer noção de gestão, sem infra-estrutura, sem salários dignos e sem qualquer suporte do governo, a PMERJ está a um passo de dar adeus, após mais de 200 anos de sangue, suor e lágrimas. Com policiais militares mal remunerados e sem qualquer perspectiva de melhora, imersos em inúmeros casos de corrupção que mancham a imagem da Corporação, a missão do Secretário de Segurança José Mariano Beltrame é praticamente impossível.
Os problemas não param na questão salarial - com os piores salários do país - a PM ainda enfrenta um cenário de total abandono, com unidades que não oferecem o mínimo de infra-estrutura aos seus militares. Banheiros desativados, ranchos que contrariam todas as normas da defesa sanitária, ausência de refrigeração, acomodações precárias, inúmeros problemas elétricos, são apenas alguns dos problemas vividos pelos policiais militares no seu dia-a-dia.
Quando analisamos a questão tecnológica da Polícia Militar nada é diferente. Devido a falta de investimentos na última década o Centro de Comunicações e Informática, que já foi referência no país, hoje não passa de um complexo de salas vazias e sem infra-estrutura alguma. Não há uma rede interna, programas de gestão, ou, até mesmo, um sistema de Comunicação Crítica realmente eficiente - o sistema de comunicação crítica da PMERJ ficou totalmente inoperante durante o recente apagão. A falta de investimentos nos profissionais da área de informática torna quase impossível uma real mudança no setor de TI. Além da ausência de computadores e conexão de internet nas diversas unidades da PM.
Tentativas de recuperar a credibilidade da PM através de novas investidas como as UPPs são uma ilusão preocupante. Apesar das áreas serem ocupadas a Secretaria de Segurança não apresenta os traficantes presos, ou as armas do tráfico apreendidas. Ou seja, há apenas um deslocamento desses traficantes para outra área. Além do fato de que é totalmente impossível ocupar todas as favelas da Cidade Maravilhosa, que hoje já são mais de duzentas - apenas na Cidade do Rio de Janeiro.
Com os piores salários do Brasil e enfrentando uma situação de extrema complexidade e perigo, os policiais militares encontram-se totalmente desmotivados. A maioria trabalha em seu horário de folga para complementar o salário, abdicando dos momentos com a família e de sua própria saúde. São escravos de um sistema corrupto e desumano, sustentados pela eterna crença de dias melhores e do reconhecimento por parte do governo estadual, indiferente a diálogos salariais com a classe.
Promessas de uma possível Emenda Constitucional (PEC 41 e PEC 300) promovem uma chance de mudança que dificilmente será realmente corroborada pelo estado do Rio de Janeiro, que com um salário tão ínfimo tornou a distância entre o salário considerado ideal e o que é efetivamente pago pelo Governo um verdadeiro abismo, quase impossível de ser superado pelos ideais políticos do estado.
Outro calcanhar de Aquiles da PM é seu setor de saúde. Apesar de todos os policiais militares pagarem (em desconto em seu contra cheque) pela manutenção de seus hospitais, o estado não repassa a verba. Sendo assim os hospitais da Corporação se encontram no mesmo nível de abandono dos batalhões. A falta de itens básicos, como luvas, algodão e medicamentos ocasionam a saída de pelo menos um oficial médico por semana. Os policiais militares feridos ou adoentados são submetidos a um tratamento próximo ao desumano, aguardando enfermos em enormes filas e, muitas vezes, sem um tratamento médico adequado.
Por mais que queiram o Secretário Beltrame e o Comandante Geral Mário Sérgio, a Polícia Militar não irá resistir aos próximos anos. Enquanto o governo ignorar a necessidade de se investir maciçamente na Corporação, optando por soluções mirabolantes (como a contratação do ex-prefeito de Nova Iorque como consultor de segurança), não será possível recuperar a PM.
Investir na formação, melhores salários, infra-estrutura, treinamento e tecnologia; esse seria a remédio que salvaria essa bicentenária Corporação, basta saber até quando o governo irá ignorar essa amarga verdade.
STEVEJUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
Ex-CORREGEDOR INTERNO
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