AS VAIAS NÃO FORAM O FIM DO PROCESSO.

O vídeo tem 8 minutos de duração, nos quais acontecem duas intervenções dos Bombeiros Militares.

Nós militares somos ordeiros e disciplinados por natureza, vivemos sob a égide de regramentos que nos determinam coerções pelo simples fato de não termos cortado adequadamente a nossa barba, citando um exemplo simplório. Essas regras regulam a nossa vida dentro e fora dos quartéis, pois somos militares vinte e quatro horas por dia, devemos seguir diuturnamente os mandamentos castrenses.
Todo esse arcabouço de limitações, todavia não pode ser confundido com subserviência e muito menos com o cerceamento dos nossos direitos cidadãos, erra feio quem comete esses equívocos.
Não devemos esquecer que também fazem parte da natureza militar qualidades como a honra, a coragem, o patriotismo, entre tantas outras positivas. Portanto, ir de encontro aos militares significa ter que estar preparado para receber como contra-ataque atos próprios de idealistas, que mesmo quando são ordeiros e pacíficos, como no caso da nossa mobilização, carregam uma grande parcela de força.
A força que é o contraponto do poder.
Escrevo esse breve preâmbulo para sinalizar aos leitores de cabeçalhos, que as vaias dirigidas ao governador Sérgio Cabral pelos Bombeiros Militares, no Maracanãzinho, não devem ser lidas como um ato de indisciplina ou como uma mera malcriação.

Elas simbolizam a insatisfação de militares estaduais que arriscam diariamente a vida em defesa da sociedade recebendo salários famélicos; são manifestações de militares que acreditaram nas promessas de campanha de um candidato que depois de eleito trata todo o funcionalismo estadual com absoluto descaso.
Nesse ponto ratifico as minhas palavras na AME/RJ em janeiro de 2008, quando disse que ser militar não significa ser subserviente e que a nossa mobilização representava o povo fardado nas ruas cobrando os seus direitos, fala que repercutiu na mídia e em vídeos da internet.
Esses são fatos!
Cabral pensa ser inatingível, diante do poder político do PMDB no Rio de Janeiro, que blinda todo o grupo que domina a política fluminense e isso é um gigantesco engano, que está lhe custando muito caro e que deverá custar a sua reeleição.

O funcionalismo público impedirá a reeleição.
Certamente, comandos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militares fortaleceram essa imagem de todo poderoso dos governantes, devido ao fato de que alguns Coronéis ao pensarem só nos seus interesses pessoais, desprezando inteiramente a tropa, nunca dizendo NÃO aos interesses políticos, colocaram as instituições militares de joelho diante dos políticos temporários.
Dizer NÃO é imperioso em alguns momentos.
Não agindo nessa direção Coronéis esqueceram que o militarismo precisa de líderes e que as estrelas que estão sobre seus ombros precisam simbolizar essa liderança, quando isso não acontece outros acabam assumindo essa missão de liderar.
Em Minas Gerais e na Bahia, a liderança de algumas mobilizações foi dos Praças com grande desgaste para o Oficialato. No Rio de Janeiro, a mobilização começou com um grupo de Oficiais e Praças do CBMERJ e da PMERJ (40 da Evaristos), simultaneamente com um grupo de Coronéis da PMERJ (Coronéis Barbonos), o que fortaleceu as instituições.

Porém a maioria dos Coronéis e dos Tenentes Coronéis da PMERJ e do CBMERJ não ombreou com os mobilizados, esvaziando esse conceito fundamental do militarismo.
Após janeiro de 2008, agravou-se a crise de lideranças nas corporações e o poder político ganhou cada vez mais força, a batalha parecia perdida para os mobilizados.

Apenas parecia.
Quem poderia imaginar que os blogs resistiriam e que a blogosfera aumentaria?
Quem acreditaria que na passagem de um comando geral da PMERJ, um Coronel de Polícia da ativa se postasse em frente ao Quartel General, acompanhado de um boneco de canos de pvc ( o Excluído Fardado) e com um megafone na mão, criticasse publicamente o ato do governador do Rio de Janeiro trocar um comandante geral após o outro, entre quatro paredes, escondido da tropa?
Um “maluco beleza” como insinuaram.
Quem poderia imaginar que os mobilizados seriam novamente mais de mil nas ruas da Zona Sul, como ocorreu em cada Marcha Democrática PEC 300/2008?
E que louco afirmaria que Bombeiros Militares fardados iriam vaiar um governador na presença de várias autoridades, dentre elas, um ministro e o próprio comandante geral do CBMERJ?
Esses são fatos, a história os registrou para a eternidade.
Nós somos militares, não somos submissos e muito menos covardes.
Basta de nos tratar com descaso.
Basta das repetidas explicações sobre os aumentos que não podem nos conceder.
Basta de nos mandar para a morte recebendo salários miseráveis.
Basta de morrermos em face das condições de trabalho, como ocorreu com os três heróis do GAM que estavam no helicóptero sem a blindagem adequada e sem usarem uniformes antichamas.
Certamente, o Ministério Público irá apurar a responsabilidade de cada um por essa tragédia.

Basta de humilhar nossos comandantes gerais.
Aprendam a nos respeitar, caso contrário, nos ensinaremos a vocês, políticos temporários, não tenham dúvidas sobre isso.
Não temam, somos disciplinados e ordeiros por natureza, só cruzamos essas linhas quando for absolutamente inevitável, como ocorre atualmente no Rio de Janeiro.
O faremos sempre ordeira e pacificamente, pois temos uma série de instrumentos que podemos utilizar a qualquer tempo.
Os mobilizados merecem respeito e não podem ser ameaçados entre quatro paredes pelos prepostos governamentais.
As vaias não foram o fim de um processo e sim o desdobramento de um começo idealista, honrado e glorioso que teve início em 2006 e que nunca mais irá retroceder, nem que a luta tenha que ser travada por um único guerreiro ou por um pequeno grupo.
A nossa luta é para salvar a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar, ninguém irá nos deter.
O povo estará do nosso lado.
Fora Cabral!
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
Ex-CORREGEDOR INTERNO