terça-feira, 8 de julho de 2008

ESTADÃO.COM.BR - ESTAMOS COLHENDO OS TRÁGICOS RESULTADOS - BRUNO PAES MANSO.

''Estamos colhendo os trágicos resultados''
Autora de livro sobre a abordagem policial no Rio afirma que o aplauso do governo e da sociedade a ações letais é perigoso
Bruno Paes Manso.
Um em cada cinco homicídios no Rio é provocado pelas forças de segurança do Estado.
Para a cientista social Sílvia Ramos, é preciso mudar a cultura policial beligerante para reverter a crise.
Depois de mais uma tragédia, há algo que ainda não foi dito?
Nesse caso, em especial, os ingredientes expõem o pior resultado da cultura policial que valoriza a morte do bandido e não a segurança do cidadão.Quando policiais, caçando criminosos, dão 15 tiros no carro de cidadãos inocentes, a pergunta não é apenas sobre o disparate da tragédia.
Devemos perguntar também: era correta a lógica de dar 15 tiros no carro dos bandidos em fuga?
Entre os policiais, consolidou-se uma cultura de morte. Boa parte da sociedade carioca tem aplaudido ações letais quando ocorrem nas favelas. Estamos colhendo os trágicos resultados dessa situação.
Não houve despreparo por parte dos policiais?
É simples apontar o dedo para o policial que atirou, dizer que eles são truculentos e despreparados. O problema é que tem havido, por parte do comando, da Secretaria de Segurança, do governo, uma política de aplauso ao confronto. Mesmo os bons policiais acabam entrando nessa lógica. Nesse caso, se eles matassem quatro jovens de morro, a operação teria sido considerada um sucesso, heróica.
Por que é ruim que policiais matem bandidos?
Primeiro porque a atividade de polícia é uma atividade de produção de segurança e não de produção de morte. O uso da violência e força letal degrada e desvaloriza a polícia, os trabalhos de inteligência, prevenção, articulação da sociedade. No Rio, o policial que troca tiros é considerado eficiente e não o que desenvolve trabalho comunitário de prevenção.
Tragédias como essas ajudam a mudar alguma coisa?
Espero que esse caso ajude a despertar, nos comandos e na população, a reflexão. A perplexidade muitas vezes é um ingrediente necessário para mudanças.