quarta-feira, 30 de julho de 2008

BLOG CASO DE POLÍCIA - EXTRA ONLINE.

1) Política do desrespeito
Onde está o governador Cabral?
A diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Julita Lemgruber, agradeceu a presença no debate promovido pelo Extra do vice-governador, Luiz Fernando Pezão, com um tom provocativo, diante de uma platéia de 500 pessoas:
- O Pezão se transformou numa figura muito simpática e querida, pois temos muitos amigos em comum, como o Junior, do Afroreggae, por exemplo. Mas gostaria muito que o Cabral tivesse vindo para discutir conosco. Cadê o governador Sérgio Cabral que eu conversei no início do governo? O policial na ponta talvez seja o menos culpado por essa matança que está aí.
Em referência à ação desastrosa de PMs no caso que vitimou o menino João Roberto, de três anos, na Tijuca, Julita condenou a postura do governador de colocar a culpa nos policiais:
- Quando a gente responsabiliza o policial na ponta, às vezes ele é o menos culpado. O governador precisava ter pensado dez vezes antes de chamar os PMs de insanos e débeis mentais. Ele desrespeita os policiais quando os chama de débeis mentais.
No fim, a socióloga leu uma mensagem escrita pelo comandante do 11º Batalhão (Nova Friburgo), com normas de conduta, dizendo que é um exemplo a ser seguido:
- Existem comandantes de batalhão que estão mandando mensagens completamente diferentes para seus subordinados.
2) Socióloga contesta política do confronto
A socióloga Julita Lemgruber abriu sua apresentação no debate sobre segurança falando da política de combate do atual governo. Segundo ela, de três anos para cá, o número de autos de resistência (morte em confronto) quase dobrou.
- Em 2005, foram 385 mortes e em 2008 já estamos em 649 - disse a socióloga que é também diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes (Cesec).
- Política de confronto foi adotada pelo Rio de Janeiro para se abraçar o problema da violência no Rio - disse.
Julita questionou o resultado de tal política:
- Para cada pessoa morta, em 2007, o Rio prendeu 250 pessoas. Para cada pessoa morta, em São Paulo, por exemplo, a polícia paulista prendeu 1.593. A diferença é realmente muito impressionante.
A diretora do Cesec também falou das mortes que não são contabilizadas, como as pessoas desaparecidas.
- A gente tem uma subida impressionante no número de pessoas desaparecidas. 70% são pessoas que morreram na guerra do tráfico ou vitimadas pela polícia cujos corpos não aparecem - disse.

3) 'Não vamos mudar 199 anos de problemas em um ou dois anos'
O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, iniciou seu discurso com dados positivos sobre a política de segurança do estado:
- Vários índices diminuiram no Rio: roubos a residências, de carros, a estabelecimentos comerciais, furtos de veículos, inquéritos relatados com autoria. As prisões também aumentaram sensivelmente. Só a Polinter prende um homicida a cada dois dias.
Apesar de todo otimismo, Beltrame fez questão de ressaltar alguns problemas das polícias Civil e Militar:
- Temos problemas de contingente, de salários, de estrutura, mas acho que a polícia vive melhores dias, e os números estão aí para provar o que eu estou dizendo. Vejo um norte comprometido com mudanças. As respostas não são rápidas, mas estão sendo dadas. Não podemos, de uma hora para a outra, baixar índices de delitos que estão corroendo nossa sociedade há tempos.
O secretário termina seu discurso de abertura com mais dados preocupantes:
- Não vim aqui só para trazer notícias boas. Os autos de resistência sobem. Roubos a transeuntes sobem vertiginosamente de 2004 para cá. Não vamos mudar 199 anos em um ou dois anos. Temos que traçar metas e perseguir resultados.
4) Beltrame: 'Vamos extingüir o fuzil'
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, anunciou no debate promovido pelo jornal Extra que vai tirar o fuzil de circulação (ouça a íntegra da declaração do secretário).
- Ia fazer isso em outubro, mas decidi antecipar. Esse bandido chamado fuzil, quero aposentá-lo. Vamos extingüir o fuzil. As vítimas das chamadas balas perdidas, 80% das vezes são atingidas por estilhaços de fuzil - disse o secretário.
Segundo ele, a idéia é substituir o armamento por carabinas, menos letais. Beltrame disse ainda que a violência no Rio também atinge os policiais.
- Meu segurança que foi alvejado por 52 tiros, quando estava de terno e gravata, indo para o trabalho, isso não existe - disse o secretário, completando:
- Tenho 12 ameaças de morte e não ligo a mínima para elas. Estamos fazendo melhorias na política de segurança, mas sabemos que temos muito a fazer.
Rebatendo as críticas da socióloga Julita Lemgruber, de que a polícia de São Paulo é menos letal do que a do Rio, Beltrame respondeu:
- A criminalidade do Rio é totalmente diferente da de São Paulo e isso eu digo com propriedade porque morei em São Paulo. Aqui o bandido trabalha com a política do "Aqui é Nóis". Eles manejam um fuzil como nós manejamos um celular. São Paulo não tem facção, tem o PCC, mas nós temos três facções. Lá não tem a geografia e nem o histórico de violência que nós temos - disse o secretário, que finalizou:
- No Rio de Janeiro há uma legião de excluídos, que não sabem os seus direitos e não sabem o que é lei.