quarta-feira, 16 de julho de 2008

BLOG REPÓRTER DE CRIME - 16/07/2008 - JORGE ANTONIO BARROS.

SUCESSÃO DE ERROS.
É compreensível que o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, esteja cansado. Cansado de, como ele mesmo diz, enxugar gelo. Cansado ver policiais envolvidos com corrupção e crimes. Cansado de ver aumentarem as estatísticas de assaltos a transeuntes e ele não ter como aumentar o policiamento e nem pagar melhor os policiais. Cansado de ter que reconhecer erros e pedir desculpas a parentes de vítimas da violência policial ou criminal.
Mas nada justifica que uma das pessoas mais equilibradas no trato com a segurança pública pela primeira vez não meça as palavras e venha a público dizer, sem cerimônia, que aprova a ação dos policiais militares que receberam alguns tiros de pistola e devolveram chumbo grosso na forma de balas de fuzis, sem ao menos se certificar de que a situação era de alto risco porque havia um refém.
Além do novo erro dos PMs, que mais uma vez custou a vida de um inocente - agora de um colega nosso, o Luiz Carlos Soares da Costa, com quem convivemos na redação - o mais duro foi ter que ouvir o secretário de Segurança dizer que os policiais cumpriram o regulamento e que polícia nenhuma no mundo vai receber tiros. Sinceramente, fiquei meio decepcionado porque sempre tive o secretário na maior conta, com seu jeito simples, honesto e cauteloso, sem fazer bazófia nem tripudiar sobre ninguém. Ainda lembro do secretário chorando no enterro do menino João Hélio e de sempre reagir com prudência diante da aparente vitória da polícia no confronto com criminosos. Se havia alguma morte, mesmo de bandidos, o secretário dizia que a suposta vitória não havia sido total.
Estaria o secretário começando a ficar insensível diante da tanta violência?
Suas declarações sobre o novo caso foram feitas mesmo após a exibição de cenas dramáticas em que os PMs aparecerem retirando a vítima sem o menor cuidado, exatamente como fazem com qualquer criminoso baleado por eles e jogado na porta dos hospitais da Faixa de Gaza.
Não sei, não, mas a manifestação de Beltrame sinaliza que a crise na segurança pública do Rio é mais grave e está muito mais distante de soluções do que imaginamos.
A Polícia Militar, ao menos, poderia nos informar se os PMs envolvidos no episódio se deram ao trabalho de checar se havia algum registro de que o carro perseguido fora roubado. Porque se não fizeram isso, já falharam antes mesmo de atirar. E se fizeram, não usaram a cabeça para raciocinar e imaginar a hipótese de que o dono do carro estava ali dentro com o bandido.
O comandante-geral da PM, coronel Pitta, bem que poderia quebrar o silêncio e contar para nossos leitores o que está acontecendo com sua corporação.