Folha Online – 1 de outubro de 2007.
A Justiça britânica começa a julgar nesta segunda-feira a Scotland Yard [Polícia Metropolitana] pela morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, 27, que foi morto por policiais ingleses, que o confundiram com um terrorista em 2005 no metrô de Londres.
A Polícia Metropolitana diz ser inocente das acusações de "violação de regras de saúde e segurança do público" na operação que matou Jean Charles com sete tiros na cabeça.
Segundo a acusação, o corpo policial violou durante a operação a norma 1974, que obriga as forças de ordem a "zelar pela integridade inclusive de quem não é seu funcionário".
Em 2006, a Justiça do Reino Unido decidiu exonerar os agentes envolvidos e processar a toda a instituição no conjunto por crime contra a Lei de Segurança e Higiene no Trabalho.
A decisão de julgar a polícia londrina pela violação de regras de saúde e segurança do público foi tomada pela Promotoria britânica com base em um relatório preparado pela Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC, na sigla em inglês).
O julgamento, realizado no tribunal penal de Old Bailey, pode durar seis semanas.
A promotora Clare Montgomery disse ao júri que a morte foi resultado de uma operação "planejada à pressas". "O erro resultou de uma série de falhas na elaboração de uma operação que fosse segura e razoável", disse ela. "A ação foi tão mal planejada que a população foi colocada em risco, e Jean Charles de Menezes foi morto por engano".
Os promotores questionam por que Menezes pode deixar sua casa, tomar um ônibus e seguir até o metrô, onde foi morto a tiros por agentes da Scotland Yard.
Os dois policiais que atiraram no brasileiro não serão chamados para depor, segundo ela.
Algumas testemunhas irão prestar depoimento sob nomes fictícios e não mostrarão os rostos.
Morte
Menezes foi morto a tiros em 22 de julho de 2005 ano por agentes da brigada antiterrorista da Scotland Yard na estação de metrô de Stockwell, no sul de Londres.
Os policiais supostamente o confundiram com um dos autores dos ataques fracassados de cerca de duas semanas antes contra três estações de metrô e um ônibus.
As tentativas seguiram os atentados cometidos duas semanas antes na capital britânica, que deixaram 52 mortos e mais de 700 feridos.
Um relatório públicado neste ano revelou atrasos e problemas de comunicação com rádio. De acordo com o documento, houve confusão sobre se Menezes era apenas um suspeito ou se havia ordens expressas para atirar contra ele.
Os policiais de baixa hierarquia envolvidos no episódio foram inocentados de inquérito.
Em fevereiro deste ano, uma das oficiais que supervisionava a operação, Cressida Dick, foi promovida ao quarto cargo mais alto da Scotland Yard.
Ian Blair, comissário-chefe da Polícia Metropolitana de Londres (Met), se recusou a renunciar ao cargo, mesmo após as fortes críticas da diretoria da corporação por sua condução no caso que resultou na morte do brasileiro.
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