sexta-feira, 5 de outubro de 2007

PARA LER ANTES DE IR AO CINEMA.

Um especialista em educação, no caso atuando na educação infantil, o outro um especialista na análise da violência, eles precisam ser ouvidos.
O especialista é um formador de opinião, o mais importante, caso me permitam o destaque.
Os dois textos tratam do filme "Tropa de Elite" e sobretudo, de suas consequências reais que já estão ocorrendo e que poderão ocorrer.
Nada aqui é uma vertiginosa ficção.
Cidadão, você quer que seu filho ou neto se comporte como o "Capitão Nascimento" e que sua filha ou sua neta se comporte como a "Bebel".
Seria esse o futuro que você deseja para eles e elas?
Seria essa a sociedade que você gostaria de desejar para eles e elas?
A resposta é sua.
Leia os textos (os grifos em vermelho são meus) e veja as fotos.
Depois, vá até o banheiro, olhe para você mesmo e responda, sinceramente.
Jornal O DIA – 4 de outubro de 2007.

JAN THEOFILO - COLUNA - INFORME DO DIA.

“O MAIS VIOLENTO DIZ QUE É CAPITÃO NASCIMENTO”.

Polícia e bandido já era. A moda é brincar de “tropa de Elite”. A coluna conversou com Paulo César Peres, pedagogo e orientador educacional do ADN Júnior Colégio, no Méier, que, horrorizado, convocou uma reunião de pais para discutir o assunto. Nas brincadeiras, onde impera a violência, naturalmente ninguém quer ser o Baiano.

1. O que exatamente aconteceu na escola?
- Dias atrás uma professora me chamou dizendo que os alunos da faixa de 6, 7anos andavam mais indisciplinados e numa crescente de agressividade. Mas como ela não viu o filme, não entendeu nada. Fui conversar com eles e vi que estavam reproduzindo na escola situações da trama.

2. Como assim? Algum coleguinha foi “pro saco”?
- Quase. Eles cantam aquelas músicas assustadoras “homens de preto, qual é sua missão? Entrar pela favela e deixar corpo no chão”. Exageram nos palavrões, agridem uns aos outros. Tem um que é mais violento. Começou a bater em todo mundo dizendo que é o Capitão Nascimento.

3. Como foi a reação dos pais nessa reunião?
- Alguns não viram problema. Mas, me desculpem, a cabeça de uma criança de 6 anos não é igual a de um adulto. Eles não são pessoas em miniatura. Estão em formação. É preciso sim filtrar as informações que recebem. O problema não é só da “Tropa de Elite”. Até meninas de 4 anos querem se vestir igual à Bebel.

Jan Theofilo é Jornalista.
Paulo César Peres é Pedagogo e Orientador Educacional
.


TROPA DE ELITE, DE NOVO

Sem querer ser repetitivo, faço um ou outro comentário sobre Tropa de Elite, versão pirata. Minha relação com o cinema é de pura fruição. Não controlo sequer os rudimentos para abordagens técnicas ou estéticas sobre a obra. Escrevo, portanto, como freqüentador contumaz de salas de projeção e pesquisador de segura na publica.
Apresentadas minhas credenciais, começaria por uma obviedade: Tropa de Elite é obra de ficção. Como lida com questões dramaticamente reais, tem sido tomada como se fosse uma narrativa do real. Aí está o problema. E também, o apelo da obra. Essa mistura de ficção e realidade causar dezenas de artigos e alguma bilheteria. Pode causar, também, impactos preocupantes.
Tenho a impressão de que boa parte dos espectadores sai do cinema identificado com o capitão Nascimento, esplendidamente interpretado por Wagner Moura. Tem-se a impressão de que fora do Bope só há policiais corruptos, pequenos burgueses cínicos e/ou ingênuos, consumidores de drogas coniventes com o que há de pior na sociedade. Isso é maniqueísmo, logo, pouco inteligente, do ponto de vista reflexivo. Pode ser que o filme seja bem feito tecnicamente. Certamente conta com um elenco impecável. A direção pareceu a mim, mero consumidor de obras cinematográficas, muito precisa. Mas os elogios param por aqui.
O Bope, por si só, não é solução para nada. O bope não é Wagner Moura. Nem todos os policiais são corruptos. Nem todos os ‘ongueiros’ são cínicos e/ ou ingênuos. A segurança pública no Rio de Janeiro não é obra de ficção. Ver a versão pirata de um filme não equivale a ser criminoso. O maniqueísmo não leva a muito longe.

João Trajano Sento-se.
Coordenador do Laboratório de Análise de Violência de UERJ.


Um comentário:

CHRISTINA ANTUNES FREITAS disse...

Sr.Cel.Paúl:

Realmente são preocupantes as brincadeiras infantis do momento - acredito que os pais estão deixando crianças terem acesso ao filme TROPA DE ELITE - pois como fico boa parte do tempo no interior do Estado, e aqui não tenho muito contado com os "pequenos", fiquei bastante "intrigada" ao ver em uma
Praça de Alimentação de um Shopping da Zona Norte do Rio, um menino de uns seis, sete anos, com dois bonecos (desses articulados).
Bem, fiquei prestando atenção pois lembrou-me quando tinha filhos pequenos e eles brincavam, mas nesse momento veio a minha surpresa...
O menino falava com muita agressividade com um boneco na mão, que era o "Nachimento", que ia matar o "aluno", que era o outro boneco.
Naturalmente o "Nachimento", bateu muito no "aluno", que creio seja o estudante do filme em questão.
O que me parece muito triste, é que esta parcela de crianças brincando agressivamente, ainda podemos salvar. Porém seus pais, tenho minhas dúvidas...
Com muito medo de criar traumas, ou por preguiça de educar seus filhos - dizer "NÃO" dá trabalho - a sociedade ficou totalmente permissiva, criando perfeitos tiranos que fazem o que querem, sem a menor noção de direitos e deveres.
Pais com medo dos filhos, é o que mais vejo...Chega a ser "patético" observar mãe ou pai dizendo: "não adianta, depois de certa idade perdemos o controle".
Ora, ora: perde o controle quem quer, quem tem preguiça de educar.
Existem duas palavrinhas muito simples de serem ditas: SIM ou NÃO. É só fazê-los de forma convicta: bancar o SIM, bancar o NÃO, e ponto final.
Mas os jovens tiranos são agressivos, voluntariosos, e seus pais: umas moscas mortas...
Mas como podemos tentar salvar essa geração que aí está se formando, continuemos a dizer NÃO sem medo de sermos taxados de opressores, fora da realidade...
Temos, vários de nós, uma ferramenta maravilhosa: a palavra e a sua boa destinação!
Continuemos a luta!

Um abraço,
CHRISTINA ANTUNES FREITAS