José Mariano Benicá Beltrame, (ainda) secretário de segurança pública, nomeou ontem o quarto Comandante Geral (CG) da PMERJ, em menos de cinco anos de gestão, o que significa uma média de quase um novo CG a cada ano dele como gestor.
Ontem, foram anunciados o Coronel de Polícia Costa Filho para ser o CG, o Coronel de Polícia Pinheiro Neto para ser o Chefe do Estado Maior Geral (EMG) Operacional e a Coronel de Polícia Kátia para ser a Chefe do Estado Maior Geral (EMG) Administrativo (ou Chefe do Gabinete do Comandante Geral, como O Globo noticiou).
Ab initio, na condição de Oficial da PMERJ com mais tempo de vida na área correcional da Corporação, cito que os Coronéis escolhidos não são clientes da Corregedoria Interna, um ótimo começo.
Pinheiro Neto, praticamente não conheço. Não sei se ele atuou fora da PMERJ, mas em raros momentos estivemos juntos na Corporação e nunca trabalhamos na mesma unidade. Desejo que tenha sucesso na sua difícil missão, pois a PMERJ não possui uma política institucional na área operacional, por mais incrível que possa parecer. Falar em operacionalidade na Polícia Militar é falar em "tiro, porrada e bomba", quando é evidente que a eficiência operacional se constrói na mesa de trabalho, planejando e planejando. A sua nomeação acarretará no afastamento dos Comandantes Intermediários e de vários Comandantes de Batalhão, mais antigos do que ele.
Kátia é uma das grandes esperanças para o futuro da Polícia Militar, como externei em artigo anterior. Caso ela seja a Chefe do EMG Administrativo, tenho certeza que ela se preocupará com a nossa tropa sofrida, disponibilizando as adequadas condições de trabalho, algo que poderá começar a realizar no CFAP - 31 de Voluntários, o berço de formação dos PMs, onde o caos é completo e os novos Soldados padecem com inúmeras dificuldades.
O novo comandante também é uma esperança, sobretudo se quem sentar na cadeira 01 for o "Tenente Coronel Costa Filho", Oficial com o qual me reuni incontáveis vezes no gabinete do Corregedor Interno no Quartel General, quando ele era Ajudante de Ordens, excelente por sinal.
Se for esse Costa Filho o que assumir a PMERJ, certamente, a Corporação terá ganhos.
Ontem, ao ouvir uma de suas falas na entrevista coletiva, eu percebi não o Coronel Costa Filho, mas o Tenente Coronel. Sensação que vivencei novamente ao ler esse trecho da matéria do jornal O Globo:
"O militar foi enfático ao responder se será flexível à frente de um cargo notoriamente político (erro na pergunta, o cargo é inteiramente técnico):
- Depende muito. Se for para deixar para trás os meus princípios dignos, não há flexibilidade (Costa Filho)".
Esse é o Costa Filho com o qual somei esforços quando ele foi prejudicado nas promoções por merecimento.
Esse é o Costa Filho que cobrava postura dos então Coronéis.
Esse é o Costa Filho que a população, a PMERJ e os PMs necessitam.
Entretanto, caso o Costa Filho que irá assumir for o Coronel Costa Filho que tenho visto a distância, muito diferente do que eu convivi, nesse caso, não tenho esperança.
Desejo sucesso ao novo CG da PMERJ.
Prezado leitor, nesse ponto, tenho o dever de destacar, como sendo um dos raros Coronéis de Polícia que não ficou mudo e nem esqueceu como escrever, que o grande problema que a PMERJ enfrenta para tentar reveter a grave crise instalada na Corporação, infelizmente, trata-se de um problema praticamente insuperável, pois ele está localizado fora da Corporação.
Se o problema fosse interno, mesmo com o modelo de ensaio e erro de Beltrame gerir, uma hora ele poderia acertar e a PMERJ iniciaria a reversão, mas a solução não está dentro dos nossos quartéis.
A solução para a crise da PM está fora da PM, o nosso problema são os gestores externos, o governador e o secretário de segurança. Eles não têm qualquer compromisso com a PMERJ e principalmente com o futuro da Corporação. Cabral e Beltrame usam a Polícia Militar para a satisfação dos seus interesses, portanto nenhum novo comando conseguirá reverter o quadro, se não se opor a eles.
A dupla está destruindo todos os valores institucionais, sobretudo a hierarquia, fazendo com que Soldados ganhem mais que Sargentos.
Destrui o futuro da PM quando transformou o CFAP - 31 de Voluntários em uma "Fábrica de Soldados".
Fortaleceu a "banda podre" quando enfraqueceu a Corregedoria Interna.
Não valorizou as promoções por merecimento dos Praças, eliminado o estudo profissional como uma condição de qualificação da tropa.
Acabou com quartéis.
Acabará com o Colégio da Polícia Militar no final desse ano.
Cabral e Beltrame estão destruindo uma Corporação heróica com mais de dois séculos de existência.
Fazendo uma analogia, os problemas que resultam nos fracassos do time não são os jogadores e nem o técnico, os problemas são o diretor de futebol e o presidente do clube.
Prezado leitor, um Comandante Geral da PMERJ para iniciar a reversão da crise tem que se opor aos desmandos de Cabral e Beltrame, tem que pensar na Instituição, reconstruir seus valores e não pensar no seu bolso, na sua gratificação.
Diante dessa verdade, como ter esse Comandante Geral dedicado unicamente à PMERJ se ele é escolhido por Beltrame e homologado por Cabral?
É praticamente impossível.
Rogo à Deus que Costa Filho rompa esse processo e que seja um Comandante Geral para a população e para os Policiais Militares.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO