terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O CONTRABANDO DE ARMAS.

FOLHA DE SÃO PAULO:
Sem policiamento, Pantanal "exporta" armas para o Rio
Falta de fiscalização na região da fronteira faz de Corumbá um entreposto de armas ilegais que abastecem traficantes.
Folha atravessou a fronteira com a Bolívia de carro pelo menos 20 vezes sem ser abordada por policiais federais ou pela alfândega.
SERGIO TORRES e JOEL SILVA.
ENVIADOS ESPECIAIS A PUERTO SUÁREZ (BOLÍVIA) E CORUMBÁ (MS)
Não existe policiamento na fronteira Brasil-Bolívia na região de Corumbá (MS), cidade no Pantanal sul considerada pela Secretaria de Segurança do Rio a porta de entrada de parte dos armamentos em poder do tráfico em favelas.No posto oficial da fronteira entre os dois países só há um destacamento da Receita Federal. A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul mantém um homem de plantão para proteger os técnicos alfandegários. Não cabe a ele abordar suspeitos. Nem a ninguém. Não há policiais federais no posto.
A fronteira pode ser atravessada de carro e a pé. São cerca de mil veículos por dia e um número impreciso de pedestres. Não é preciso mostrar passaporte ou outro documento. Ninguém pergunta para onde você vai ou o que carrega no carro ou caminhão.
Segundo a Polícia Civil fluminense, metralhadoras ponto 30 e fuzis, que podem ter derrubado um helicóptero no Rio em outubro, entram por Corumbá. Desde 2007, 40 metralhadoras do tipo já foram achadas com traficantes; quatro com o brasão da Bolívia.
Durante oito dias a Folha cruzou a fronteira ao menos 20 vezes de carro. Só viu fiscalização no último dia 10, quando o Exército fiscalizou as fronteiras com Bolívia e Paraguai.
Naquele dia, apreenderam 50 kg de bananas, com um boliviano. Nem armas nem drogas. Liberadas à tarde, as bananas voltaram à Bolívia.
Na Bolívia, há um posto da Polícia Fronteiriça e a alfândega. Mas é como não existissem. Veículos e pessoas transitam livremente. Ninguém vigia, aborda, demonstra interesse em policiar a ponte de 10 metros sobre o arroio Conceição.De um lado do córrego é Brasil; do outro, Bolívia. Se quiser evitar a ponte, basta seguir pelas "cabriteiras", trilhas ao lado da Receita, sem fiscalização.
Apesar da facilidade, quem prefere não se arriscar opta por estradinhas, atalhos, rios, o espaço aéreo e a imensidão do Pantanal. Nada é policiado.
A PF em Corumbá tem 40 policiais, dos quais 18 novatos, de outros Estados. Pouco sabem sobre a região, fala o delegado-chefe Mario Nomoto. Ele diz que para uma ação mais eficiente, precisaria, no mínimo, do dobro do efetivo.
Na estatística da delegacia consta neste ano a apreensão de só um fuzil, argentino. Não por agentes federais, mas por PMs que suspeitaram de um homem numa "cabriteira". Essa ação decorreu da sorte, não de planejamento.
Planejamento que não passa pela ocupação da fronteira com pessoal e equipamentos, disse o diretor de Combate ao Crime Organizado do Departamento de PF, Roberto Troncon Filho.O que a PF tem feito, diz, é acordos de cooperação com Paraguai e Bolívia. Fará com o Peru. Com o Paraguai está funcionando, segundo ele. Com a Bolívia, ainda não. Daí a fronteira em Corumbá servir para a entrada de armas.Embora haja múltiplas opções de ingresso, só há uma estrada pavimentada para escoar a carga do tráfico. Armas e drogas entram por terra, ar e água, mas para chegar ao Sudeste o caminho é único: a BR-262.
Nela, que sai de Corumbá, há um prédio em bom estado da Policia Rodoviária Federal. Por falta de pessoal, permanece fechado. A PRF de Mato Grosso do Sul diz ter 400 profissionais, o que representa um terço do efetivo ideal para a corporação, de 1.200. Essa a razão de o posto não funcionar.
Por R$ 150, barqueiro faz travessia clandestina.
Pescadores transportam cargas sem saber o que são.
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A PUERTO SUÁREZ (BOLÍVIA)
Os pescadores de Corumbá recebem, em média, R$ 150 para ir de um país a outro com carregamentos de mercadorias. São viagens clandestinas, embora não haja um patrulhamento ostensivo nos rios e canais da fronteira entre o Brasil e a Bolívia.
A negociação costuma acontecer no Porto Geral da principal cidade de Mato Grosso do Sul na fronteira com a Bolívia, diante do casario erguido ainda no século 19 e no início do século 20, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
O porto não passa de um desordenado atracadouro de pequenas, médias e grandes embarcações -canoas, voadeiras, chalanas, chatas, gaiolas.Como a pesca está proibida em toda a região por causa da piracema, fase de reprodução das espécies do rio Paraguai, os trabalhadores passam o dia jogando conversa fora, à espera de um convite para um serviço qualquer.
"Lei do silêncio"
No acordo firmado entre contratante e contratado está embutido o que no cais corumbaense é conhecido por "lei do silêncio". Não se pergunta o que está sendo trazido da Bolívia para o Brasil. Oficialmente, entre os pescadores só podem ser duas coisas: ou roupas ou alimentos. Não se fala em drogas e armas.
Mas os fardos transportados vêm sempre fechados e pesam bastante, de acordo com três donos de embarcações ancoradas nas imediações do ouvidos pela Folha.
Eles dizem desconfiar que dentro dos sacos possa até haver produtos ilegais, clandestinos, mas também afirmam que, se não aceitarem o carreto, outro aceitará. Logo, segundo o raciocínio deles, é melhor pegar o serviço, para não perder o dinheiro.
O procedimento adotado pelos pescadores é simples: uma vez aceita a tarefa, os pescadores navegam para a Bolívia pelo rio até o canal Tamengo e a laguna Cáceres, que banha a cidade de Puerto Suárez, a principal da Bolívia na região. Não se gasta mais de 30 minutos na travessia.
No transporte das cargas vale qualquer tipo de barco, até mesmo canoas a remo. Afinal, R$ 150 para quem não poderá pescar até o primeiro trimestre de 2010 é um bom dinheiro. Ainda mais se o trajeto é feito pelo menos três vezes por semana.
Nas margens da laguna, brejos e pastos imensos escondem atracadouros improvisados. Em um deles, entre as cidades de Puerto Suárez e Puerto Aguirre, a Folha encontrou, a cerca de 3 metros da água, três cápsula de balas calibre 12.
Exército ocupa fronteira em ação antitráfico (leia).
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
Ex-CORREGEDOR INTERNO

2 comentários:

Edson Lopes disse...

Todo mundo sabe de onde saem as armas, no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro não temos fábricas de arma. As armas atravessam fronteiras e são trocadas entre os grupos que detêm o direito de usa-los, cito forças armadas e auuxiliares. Maus elementos desses grupos revendem aos grupos de marginais armas apreendidas e da própria força militar. Todos sabem bem disso!!

Paulo Ricardo Paúl disse...

O pior é colocarem a PM e a PC como tropas de assalto para invadirem comunidades carentes em busca dessas armas, causando inúmeras mortes.