quinta-feira, 28 de maio de 2009

OS SALÁRIOS DA MORTE!

JORNAL EXTRA:
Os salários da morte!
O nosso espaço democrático é “politicamente incorreto” de nascença, essa característica está incorporada ao nosso DNA, o que significa dizer que não tememos temas polêmicos e que estamos disponíveis para toda e qualquer discussão, que possua objetivos positivos, na direção da consecução das mudanças que pretendemos alcançar.
Essa introdução explica a motivação para o lançamento para discussão da relação salários dos Policiais e as mortes decorrentes da insegurança pública brasileira.
Preliminarmente, devemos ter consciência que estamos na contramão do discurso do poder político, que sempre procura retirar de qualquer debate, a questão dos baixíssimos salários recebidos pelos Policiais Militares, Policiais Civis, Bombeiros Militares e Guardas Municipais, todos eles atores principais no teatro da segurança pública.
Portanto, vamos ser “politicamente incorretos”, introduzindo esse ponto de discussão, considerando que na nossa concepção, os baixos salários recebidos pelos atores, constituem um fator decisivo para o gigantesco número de mortes violentas que assola o Brasil.
Cidadão brasileiro, você já tinha ouvido algo semelhante como explicação sobre o número de mortes violentas?
Cidadão, você concorda, discorda, não importa, participe, aproveite esse espaço democrático e solte as letras.
Imergindo no tema, solicito que leiam o artigo que ilustra esse artigo, no qual poderão conhecer o salário pago a um Soldado da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Sem dúvida, o valor é assustador, sendo inimaginável que o poder político esteja levando a sério os problemas da segurança pública.
O salário chega a ser jocoso, diante do fato de que os profissionais de segurança pública, arriscam a própria vida no exercício profissional, quase que diariamente.
Cidadão brasileiro, imagine você fardado, portando armas de guerra (fuzis) e utilizando uma viatura ostensiva, nas ruas do Rio de Janeiro, recebendo cerca de R$ 30,00 por dia, como contrapartida para oferecer a sua vida na defesa do cidadão fluminense.
Salta aos olhos, que não estamos levando a sério a segurança pública no Estado do Rio de Janeiro, onde o Policial Militar, o Policial Civil, o Bombeiro Militar e o Guarda Municipal, recebem salários famélicos.
Valorizar, capacitar e motivar o profissional de segurança pública, constituem os primeiros (e indispensáveis) passos para a construção de uma nova realidade na segurança pública.
Não começar a andar com esses passos significa ficar tropeçando e caindo, provocando ferimentos e mortes.
No Rio, os discursos políticos são apenas palavras atiradas na poeira do tempo e as promessas de campanha são apenas referências perdidas na memória de alguns, da “esperteza política” na arte de conquistar votos incautos.
E, para uma melhor compreensão, vamos nos transferir para o concurso público para o Curso de Formação de Soldados da PMERJ, esclarecendo que o mesmo raciocínio pode ser estendido às demais portas das demais instituições públicas da área de segurança pública.
O que leva um jovem fluminense a participar de um concurso público que o habilitará a arriscar a própria vida, por cerca de R$ 30,00 por dia, metade do salário de uma diarista e muito inferior à diária de um pedreiro?
Cidadão brasileiro, você faria esse concurso ou deixaria que seu filho fizesse?
Pois é...
O fato é que milhares de jovens, homens e mulheres, a cada concurso, buscam o acesso às instituições “policiais”, atendendo ao recrutamento voluntário.
Parece assustadora essa realidade, milhares de jovens querendo arriscar a própria vida por metade do que ganhariam como diarista.
E por que esses jovens buscam tamanho risco, por tão pouco?
A possibilidade de ingressar no serviço público, com a sua ambicionada estabilidade.
Apenas como um trampolim, permitindo que continue estudando para outros concursos, apoiado na verdadeira “ajuda de custo” (salário) recebida do Estado.
Idealismo, vontade de promover mudanças nesse caos, ser um herói social.
A atração pelo glamour que envolve as Instituições Policiais.
E, infelizmente, uma oportunidade de ganhar muito dinheiro, além do salário, através de desvios de conduta, principalmente a concussão e a corrupção passiva.
Perdoe-nos, porém, somos “politicamente incorretos”, não podemos esquecer que considerada parcela da juventude brasileira, está impregnada pelos odores fétidos da “lei de Gérson”, ou seja, levar vantagem acima de tudo.
Isso significa que podemos dividir o conjunto de jovens que ingressa em cada Instituição Policial em dois grandes grupos:
- Os que querem ser policiais, mesmo que temporariamente; e
- Os que são criminosos (de fato ou potenciais) e querem usar as Instituições Policiais para obterem o dinheiro imundo do crime, um dinheiro que vem manchado de sangue.
Cremos que não precisamos explicar como o segundo grupo provoca mortes, todavia, citamos alguns envolvimentos desses pseudo-policiais:
- tráfico de drogas;
- milícias;
- transporte alternativo clandestino;
- grupos de extermínio;
- máquinas caça-níqueis;
- jogo dos bichos;
- concussão e corrupção passiva no curso de operações policiais;
- os despojos dos vencidos (bens dos criminosos mortos)
- segurança de criminosos;
- estacionamento irregular;
- etc.
A luta pela conquista desses espaços provoca uma série de mortes, a mídia nos revela essa realidade diariamente.
Cumpre destacar que os salários famélicos, fazem com que os integrantes das Instituições Policiais, não tenham qualquer medo de perderem o emprego, pois ganham muito mais nas “atividades paralelas”.
O dinheiro fácil da criminalidade estimula o envolvimento.
E, o primeiro grupo, os policiais de verdade, como eles provocam mortes?
As mortes que ocorrem em decorrência dos confrontos armados, estimulados em alguns Estados, como o Rio de Janeiro.
Elas são milhares, inclusive as que ocorrem na legalidade da legítima defesa, quando são lavrados os autos de resistência.
Autos de resistência que não são devidamente analisados pelo Ministério Público, o que estimula a impunidade.
Por erros, erros decorrentes do seu estado físico e emocional, completamente desgastado, tendo em vista que para prover o sustento de suas famílias, precisam ter um segundo e algumas vezes, um terceiro emprego.
Um policial ganha mais que o dobro por dia, trabalhando como segurança, apenas para citar um exemplo, na verdade, o exemplo mais comum.
O Estado comete dois graves crimes contra a sociedade.
Primeiro, paga uma “ajuda de custo” miserável (que chamam de salário), obrigando o policial a sacrificar a sua folga, o seu lazer, a companhia dos seus familiares, para trabalhar em outro “emprego”.
O maldito, porém indispensável, “bico policial”.
Em seguida, pega esse policial fisicamente desgastado e emocionalmente estressado, o coloca nas ruas, portando armas de guerra (fuzis).
Cidadão brasileiro, esse policial tem condições de analisar em uma fração de segundos se deve ou não atirar?
Analisar se os três princípios estão sendo observados? A legalidade, a oportunidade e o adestramento?
Certamente, a resposta é não.
Um NÃO que representa um SIM para a morte.
Segurança Pública, os salários da morte!
JUNTOS SOMOS FORTES!

PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO

Um comentário:

Alexandre, The Great disse...

Uma boa análise da conjuntura, Cel Paul. Acrescentaria apenas algo que afeta de forma indireta os altíssimos índices de letalidade policial: a interferência política (também)nos Cursos de Formação de Policiais. Não apenas pelas ingerências nos currículos, como na supressão de determinadas disciplinas técnicas e/ou sua substituição por outras de cunho ideológico e divorciado do foco temático "segurança pública"; como também a submissão aos mesmos "salários famélicos" dos Instrutores e Monitores dos Cursos de Formação, que obviamente também têm de exercer outra atividade (bico) com sensível perda de qualidade docente.
Entretanto analisar a conjuntura é apenas o primeiro passo: "identificar o problema". Feito isso existem os demais passos em direção a solução do problema, e é aí que verdadeiramente "o bicho pega". A falta de educação de toda uma geração e o analfabetismo funcional de grande parte da população já gerou uma "maioria bovina", presa fácil de políticos inescrupulosos, demagogos e corruptos - como os atuais que temos.
Como dar o 2º passo?
Eis o desafio que se impõe!