O GLOBO
"ONGs levam denúncias de abusos de PMs durante ocupação do Complexo do Alemão a ONU e OEA
"ONGs levam denúncias de abusos de PMs durante ocupação do Complexo do Alemão a ONU e OEA
Fabio Vasconcellos e Taís Mendes
RIO - Um relatório produzido por ONGs e que já está com deputados da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, em Brasília, menciona a suposta ocorrência de uma execução, além de roubos e torturas, praticados por PMs durante a ocupação dos complexos da Penha e do Alemão. O documento, contendo 19 relatos de moradores, foi entregue à cúpula da Secretaria estadual de Segurança na semana passada e será entregue nesta terça-feira às Relatorias Especiais sobre Tortura e Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais da ONU e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.
Alguns casos são relatos genéricos de moradores; outros são depoimentos com mais detalhes, de pessoas que afirmaram a integrantes de ONGs terem sofrido violência física e psicológica por parte de policiais. Os relatos não incluem, no entanto, denúncias de moradores sobre o tempo em que as comunidades eram subjugadas por traficantes.
De acordo com o documento, um homem identificado apenas como João Lennon, de 25 anos, teria sido executado em 28 de novembro na Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão. O caso foi relatado a integrantes da Justiça Global, que visitaram os dois complexos por três dias com outras ONGs, como a Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência e assessores da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj. Vizinhos de João Lennon, que seria viciado em crack e cunhado de um traficante, contaram que ele foi levado para dentro de casa por policiais e, em seguida, foram ouvidos disparos. O corpo teria sido retirado do local pelos PMs, ainda segundo moradores.
Um outro caso que consta do documento é o de um morador, também da Nova Brasília, que diz ter sido torturado por PMs - apesar de não ter ficado com marcas de violência. O morador contou que ele e outras duas moradoras, de 14 e 15 anos, foram algemados por volta das 8h e só liberados no fim do dia, depois de percorrem toda a favela com PMs, que queriam informações sobre armas e drogas. Os policiais teriam ainda ironizado quando o morador mostrou que tinha um crachá de trabalho. Segundo o documento elaborado pelas ONGs, o morador afirmou que, em determinado momento, os policiais o mandaram fechar os olhos e, com o cano de um fuzil em seu peito, gritavam que iriam matá-lo. Em outro momento, segundo o relato, os policiais teriam usado as três vítimas como escudo, durante uma troca de tiros com bandidos. Após horas sob o controle dos policias, inclusive com agressões como chutes e socos, os três moradores foram liberados, mas teriam ouvido dos PMs que deveriam deixar a favela. Não há registro de marcas das agressões no relatório das ONGs.
Pelo documento, que foi divulgado pelo deputado federal Chico Alencar (PSOL), da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o filho de um morador teria sido torturado com sufocamento. De acordo com o relato, PMs invadiram uma casa no dia 28 no Complexo da Penha e, após descobrirem que um dos moradores que tinha passagem pela polícia e estava no sistema semiaberto, teriam iniciado ums sessão de tortura. O rapaz foi levado para um dos quartos por dois policiais, e lá, segundo o documento, teria sido submetido a sessões de violência por mais de uma hora, com um saco plástico e agressões físicas. Apesar dos gritos da vítima, os pais do rapaz nada teriam podido fazer pois estariam na sala da casa sob a vigilância de um outro PM. Conforme o relato, o jovem teria sido levado depois pelo policiais e apresentado à imprensa como traficante. Também neste caso, o documento não registra marcas de torturas nas vítimas.
Na quinta-feira 2 de dezembro, duas casas que ficam próximas a um boca de fumo no Alemão teriam sido invadidas por homens do Bope. O documento elaborado pelas ONGs diz que os policiais estariam à procura de R$ 100 mil deixados por traficantes, e teriam dito que pagariam R$ 10 mil para quem indicasse onde estava o dinheiro. Numa das casas, depois de quebrar móveis e eletrodomésticos, teriam iniciado uma sessão de torturas com choque elétrico num dos moradores. Segundo o relato, a vítima teve as mãos e os pés amarrados. A violência teria durado cerca de meia hora.
Uma outra moradora contou aos integrantes das ONGs que estava em casa com os filhos quando chegaram policiais acompanhados de um X9 (informante) encapuzado. Segundo o relato, os policiais teriam afirmado que tinham informações de que existiriam armas e drogas na casa. Uma criança de 2 anos, que estava na casa, teria sido torturada. No relato, consta que a moradora foi jogada numa cama, espancada e espetada com uma escopeta nas costas. Ela disse que não fez exame de corpo de delito porque se sentia ameaçada.
Em nota, a Secretaria de Segurança informou que o secretário José Mariano Beltrame não tomou conhecimento do conteúdo do relatório. Segundo a secretaria, "desde o dia da ocupação, quando a imprensa apresentou as primeiras denúncias, agentes das corregedorias passaram a trabalhar no Complexo do Alemão. Cerca de 50 procedimentos apuratórios foram abertos desde então, mas, devido à fragilidade dos testemunhos ou das provas apresentadas, os órgãos de controle pediram mais prazo para aprofundar as investigações". Ainda segundo a nota, a pedido do secretário, a Defensoria Pública do estado pôs uma equipe para atender às queixas da população local.
Diretora da Justiça Global, Sandra Carvalho não chegou a visitar as comunidades, mas finalizou o relatório a ser enviado nesta terça à ONU e à OEA. Ela disse que o documento final sugere aos organismos internacionais que peçam esclarecimentos às autoridades brasileiras sobre as denúncias. O relatório também solicita uma visita do relator da ONU nas comunidades.
- Em 2007, o relator esteve no Alemão e fez um relatório de denúncia de abuso policial na comunidade. O Brasil foi cobrado pela ONU e um segundo relatório, com certeza, será muito ruim para o país. O que temos de relatos demonstra a realidade do que está acontecendo. As denúncias são graves e mostram que os moradores continuam sofrendo com a presença da polícia - disse ela.
Apesar de até segunda-feira não ter lido o relatório, o deputado Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, destacou que ouviu denúncias semelhantes quando visitou as favelas após a ocupação:
- Também recebi algumas pessoas no meu gabinete e imagino o teor das denúncias. Da mesma forma que recebi relatos de policiais cordiais, recebi queixas de policiais agressivos".
RIO - Um relatório produzido por ONGs e que já está com deputados da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, em Brasília, menciona a suposta ocorrência de uma execução, além de roubos e torturas, praticados por PMs durante a ocupação dos complexos da Penha e do Alemão. O documento, contendo 19 relatos de moradores, foi entregue à cúpula da Secretaria estadual de Segurança na semana passada e será entregue nesta terça-feira às Relatorias Especiais sobre Tortura e Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais da ONU e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA.
Alguns casos são relatos genéricos de moradores; outros são depoimentos com mais detalhes, de pessoas que afirmaram a integrantes de ONGs terem sofrido violência física e psicológica por parte de policiais. Os relatos não incluem, no entanto, denúncias de moradores sobre o tempo em que as comunidades eram subjugadas por traficantes.
De acordo com o documento, um homem identificado apenas como João Lennon, de 25 anos, teria sido executado em 28 de novembro na Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão. O caso foi relatado a integrantes da Justiça Global, que visitaram os dois complexos por três dias com outras ONGs, como a Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência e assessores da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj. Vizinhos de João Lennon, que seria viciado em crack e cunhado de um traficante, contaram que ele foi levado para dentro de casa por policiais e, em seguida, foram ouvidos disparos. O corpo teria sido retirado do local pelos PMs, ainda segundo moradores.
Um outro caso que consta do documento é o de um morador, também da Nova Brasília, que diz ter sido torturado por PMs - apesar de não ter ficado com marcas de violência. O morador contou que ele e outras duas moradoras, de 14 e 15 anos, foram algemados por volta das 8h e só liberados no fim do dia, depois de percorrem toda a favela com PMs, que queriam informações sobre armas e drogas. Os policiais teriam ainda ironizado quando o morador mostrou que tinha um crachá de trabalho. Segundo o documento elaborado pelas ONGs, o morador afirmou que, em determinado momento, os policiais o mandaram fechar os olhos e, com o cano de um fuzil em seu peito, gritavam que iriam matá-lo. Em outro momento, segundo o relato, os policiais teriam usado as três vítimas como escudo, durante uma troca de tiros com bandidos. Após horas sob o controle dos policias, inclusive com agressões como chutes e socos, os três moradores foram liberados, mas teriam ouvido dos PMs que deveriam deixar a favela. Não há registro de marcas das agressões no relatório das ONGs.
Pelo documento, que foi divulgado pelo deputado federal Chico Alencar (PSOL), da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o filho de um morador teria sido torturado com sufocamento. De acordo com o relato, PMs invadiram uma casa no dia 28 no Complexo da Penha e, após descobrirem que um dos moradores que tinha passagem pela polícia e estava no sistema semiaberto, teriam iniciado ums sessão de tortura. O rapaz foi levado para um dos quartos por dois policiais, e lá, segundo o documento, teria sido submetido a sessões de violência por mais de uma hora, com um saco plástico e agressões físicas. Apesar dos gritos da vítima, os pais do rapaz nada teriam podido fazer pois estariam na sala da casa sob a vigilância de um outro PM. Conforme o relato, o jovem teria sido levado depois pelo policiais e apresentado à imprensa como traficante. Também neste caso, o documento não registra marcas de torturas nas vítimas.
Na quinta-feira 2 de dezembro, duas casas que ficam próximas a um boca de fumo no Alemão teriam sido invadidas por homens do Bope. O documento elaborado pelas ONGs diz que os policiais estariam à procura de R$ 100 mil deixados por traficantes, e teriam dito que pagariam R$ 10 mil para quem indicasse onde estava o dinheiro. Numa das casas, depois de quebrar móveis e eletrodomésticos, teriam iniciado uma sessão de torturas com choque elétrico num dos moradores. Segundo o relato, a vítima teve as mãos e os pés amarrados. A violência teria durado cerca de meia hora.
Uma outra moradora contou aos integrantes das ONGs que estava em casa com os filhos quando chegaram policiais acompanhados de um X9 (informante) encapuzado. Segundo o relato, os policiais teriam afirmado que tinham informações de que existiriam armas e drogas na casa. Uma criança de 2 anos, que estava na casa, teria sido torturada. No relato, consta que a moradora foi jogada numa cama, espancada e espetada com uma escopeta nas costas. Ela disse que não fez exame de corpo de delito porque se sentia ameaçada.
Em nota, a Secretaria de Segurança informou que o secretário José Mariano Beltrame não tomou conhecimento do conteúdo do relatório. Segundo a secretaria, "desde o dia da ocupação, quando a imprensa apresentou as primeiras denúncias, agentes das corregedorias passaram a trabalhar no Complexo do Alemão. Cerca de 50 procedimentos apuratórios foram abertos desde então, mas, devido à fragilidade dos testemunhos ou das provas apresentadas, os órgãos de controle pediram mais prazo para aprofundar as investigações". Ainda segundo a nota, a pedido do secretário, a Defensoria Pública do estado pôs uma equipe para atender às queixas da população local.
Diretora da Justiça Global, Sandra Carvalho não chegou a visitar as comunidades, mas finalizou o relatório a ser enviado nesta terça à ONU e à OEA. Ela disse que o documento final sugere aos organismos internacionais que peçam esclarecimentos às autoridades brasileiras sobre as denúncias. O relatório também solicita uma visita do relator da ONU nas comunidades.
- Em 2007, o relator esteve no Alemão e fez um relatório de denúncia de abuso policial na comunidade. O Brasil foi cobrado pela ONU e um segundo relatório, com certeza, será muito ruim para o país. O que temos de relatos demonstra a realidade do que está acontecendo. As denúncias são graves e mostram que os moradores continuam sofrendo com a presença da polícia - disse ela.
Apesar de até segunda-feira não ter lido o relatório, o deputado Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Alerj, destacou que ouviu denúncias semelhantes quando visitou as favelas após a ocupação:
- Também recebi algumas pessoas no meu gabinete e imagino o teor das denúncias. Da mesma forma que recebi relatos de policiais cordiais, recebi queixas de policiais agressivos".
COMENTO:
O Estado não pode agir como bandido, portanto, todas as denúncias devem ser apuradas.
Pessoalmente, lamento que ainda não recebi qualquer notícia sobre as investigações da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ sobre as denúncias que fiz contra a violação de direitos dos Policiais Militares que estão trabalhando obrigados nas UPPs, inclusive com desrespeito ao edital do concurso.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO
O Estado não pode agir como bandido, portanto, todas as denúncias devem ser apuradas.
Pessoalmente, lamento que ainda não recebi qualquer notícia sobre as investigações da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ sobre as denúncias que fiz contra a violação de direitos dos Policiais Militares que estão trabalhando obrigados nas UPPs, inclusive com desrespeito ao edital do concurso.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO
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