Leiam o novo artigo do jornalista Reinaldo Azevedo, comentarei no final.
REVISTA VEJA
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
26/11/2010
As políticas turísticas de segurança de Sérgio Cabral
Caras e caros, este é um texto bastante importante para entender o que estava e o que está em curso. Vamos lá.
A bagunça no Rio está nos jornais e sites noticiosos do mundo inteiro. Seria notícia a qualquer tempo e em qualquer circunstância, mas chama ainda mais a atenção porque a cidade sediará a Olimpíada de 2016, e o Brasil, a Copa do Mundo de 2014 — a capital fluminense é “o” cartão postal da disputa. E todos se fazem a pergunta óbvia: terá uma cidade com essas características condições de receber esses dois mega-eventos? Falta ainda bastante tempo. Até lá, políticas sensatas, se aplicadas, podem render frutos. Mas cumpre fazer algumas considerações.
As UPPs já eram parte de uma bem-urdida política de marketing. Com ela, o governo conseguiria duas coisas: pacificar a “comunidade”, este substantivo de sentido cada vez mais etéreo, combater o crime e evitar a violência. Uma coleção de objetivos louváveis não faz necessariamente uma política pública eficiente. Bem, a coisa deu no que deu. Em algum momento, alguém rompeu algum acordo — quando o jornalismo parar de aplaudir Sérgio Cabral, talvez se descubra o que houve —, e a situação desandou. Mas reitero: a UPP, ainda que possa trazer algum benefício para os sem-estado, era um programa mais turístico do que de segurança pública. Como? Estou exagerando? Então leiam esta reportagem do Estadão de 18 de agosto (leiam com atenção). ESCULHAMBEI ESTE TROÇO AQUI. FALEI SOZINHO!!!
Recém-incorporadas ao discurso da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) criadas pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) foram adotadas pelo Ministério do Turismo. Com investimento inicial de R$ 184 mil do governo federal, será lançado dia 30, no Morro Dona Marta, com a presença confirmada do presidente Lula, o projeto-piloto Rio Top Tour. O objetivo da iniciativa, anunciada no site do ministério, é “aproveitar o potencial turístico do local a partir da inclusão dos moradores“.
O evento, em plena campanha eleitoral, estava marcado para o dia 13, como havia informado a coluna Palanque. O primeiro anúncio foi feito por Cabral, via Twitter. Ontem, no debate entre os candidatos a vice dos presidenciáveis, promovido pelo Estado, o companheiro de chapa da petista, Michel Temer (PMDB), citou o exemplo das UPPs, tema que virou quase um mantra na campanha.
O texto de divulgação do projeto - realizado em convênio com a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do Estado - é só elogios ao programa da Secretaria de Segurança do governo peemedebista: “Depois de um dia de praia, uma caminhada no calçadão e uma visita ao Cristo Redentor, nada mais agradável para o turista que conhecer mais de perto a cultura e tradição de um lugar tão rico como o Rio. Melhor ainda se esse contato se der em uma comunidade que hoje é símbolo de uma nova cidade, com seus serviços, produtos, segurança e hospitalidade prontos para atender todos os visitantes”.
O release diz que o morro, “até pouco tempo marginalizado pela violência e pelo crime organizado, caminha para se tornar esse ponto turístico dentro da Cidade Maravilhosa”. Por e-mail, o ministério informou que o projeto, “executado pelo Estado, é viabilizado por meio de um convênio que contempla uma UPP, embora não estejam necessariamente vinculados”. Ou seja, o Rio Top Tour não seria voltado exclusivamente para locais onde as UPPs estão consolidadas. Essa, contudo, não é a informação que aparece no release divulgado no dia 13, quando o ministro do Turismo, Luiz Barretto, visitou a favela.
“O objetivo é que o Rio Top Tour seja estendido para as demais comunidades que foram pacificadas com as UPPs. A segunda comunidade a receber o projeto será o Morro da Providência”, diz o texto. Barretto afirmou na ocasião estar “certo de que teremos um modelo a ser implementado em outras comunidades da cidade que também precisam desta valorização”.
Segundo o projeto, 50 moradores do Dona Marta - que tem mais de 5 mil moradores - receberão treinamento e haverá uma linha de crédito especial. Estão previstos estandes de informação no morro e em bairros próximos, placas e adesivos para promover pontos turísticos e a distribuição de folhetos em português e inglês. “O charme dos belos mirantes e das paisagens ganhou visibilidade em 1996, quando Michael Jackson gravou trechos de um videoclipe em uma laje no alto do morro”, destaca o ministério.
E agora?
Não é mesmo uma linguagem encantadora, sedutora? A bandidagem, por alguma razão, desarranjou a poesia turística de Cabral, Lula, Dilma e companhia. E a poesia antes oferecida aos turistas foi substituída pela exibição de força. Até havia pouco, a simples menção de contar com a colaboração das Forças Armadas, por exemplo, era considerada absurda. Quando o Exército era excepcionalmente chamado, lá iam os recrutas. Desta vez, são forças regulares.
E muitos — dos jornalistas ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, passando por Sérgio Cabral — falam em “dia histórico”, “decisão histórica” e outras hipérboles. Sem dúvida, estamos diante de uma mudança histórica da política de marketing. Em vez da paz, a guerra. Os turistas continuam de olho. Nunca antes nestepaiz uma política desastrada foi tão aplaudida.
Por Reinaldo Azevedo
COMENTO:
Convido você a acreditar inteiramente na versão oficial sobre o que está acontecendo no Rio de Janeiro a partir do mês de dezembro de 2008, quando foi inaugurada a UPP do Dona Marta, a primeira jóia da coroa.
Versão oficial:
No Rio de Janeiro surge uma forma revolucionária de promover a cidadania das populações que moram em comunidades carentes, nunca antes tentada, recuperando para o controle do Estado os territórios destas comunidades que se encontravam sob o domínio dos traficantes de drogas.
A recuperação é feita nos moldes do policiamento comunitário, sem que seja efetuado um único disparo que pudesse vir a vitimar um morador inocente.
Jovens Policiais Militares, sem vícios, passam a realizar o policiamento ostensivo e a desenvolver uma integração total com a comunidade.
A ideia de raro brilhantismo dá tão certo que avança pela Zona Sul, pela Tijuca, pelo Centro e alcança a Zona Oeste, não nessa ordem.
O objetivo não é impedir a venda de drogas, mas sim retirar os homens armados destas comunidades.
Um total sucesso que corre o Brasil e o mundo.
Uma fórmula mágica para vencer os traficantes.
As UPPs da Zona Sul se transformam em pontos turísticos.
Se transformam na principal bandeira para a reeleição do governador e alimenta as promessas da candidata à presidência da república.
Os traficantes que fugiam "desesperados" das UPPs foram se refugiando em outras comunidades.
Penso que resumidamente seja este o conjunto da versão oficial.
Em sendo verdadeira tal versão:
O governo do Estado do Rio de Janeiro não impediu que a venda de drogas continuasse nas comunidades onde foram instaladas as UPPs, permitindo que os viciados da região continuassem tendo acesso às drogas e ainda promoveu uma transferência dos traficantes de drogas com suas armas de guerra da Zona Sul para outras regiões, não tentando prendê-los, provavelmente para não provocar confrontos armados na Zona Sul, inicialmente, deixando para promover uma GUERRA na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde um tiro não tem a mesma importância que na Zona Sul.
Caro leitor, a partir da versão oficial, não é isso que está acontecendo?
Será que o governo estadual fará do Complexo do Alemão um grande ponto turístico?
JUNTOS SOMOS FORTES! A bagunça no Rio está nos jornais e sites noticiosos do mundo inteiro. Seria notícia a qualquer tempo e em qualquer circunstância, mas chama ainda mais a atenção porque a cidade sediará a Olimpíada de 2016, e o Brasil, a Copa do Mundo de 2014 — a capital fluminense é “o” cartão postal da disputa. E todos se fazem a pergunta óbvia: terá uma cidade com essas características condições de receber esses dois mega-eventos? Falta ainda bastante tempo. Até lá, políticas sensatas, se aplicadas, podem render frutos. Mas cumpre fazer algumas considerações.
As UPPs já eram parte de uma bem-urdida política de marketing. Com ela, o governo conseguiria duas coisas: pacificar a “comunidade”, este substantivo de sentido cada vez mais etéreo, combater o crime e evitar a violência. Uma coleção de objetivos louváveis não faz necessariamente uma política pública eficiente. Bem, a coisa deu no que deu. Em algum momento, alguém rompeu algum acordo — quando o jornalismo parar de aplaudir Sérgio Cabral, talvez se descubra o que houve —, e a situação desandou. Mas reitero: a UPP, ainda que possa trazer algum benefício para os sem-estado, era um programa mais turístico do que de segurança pública. Como? Estou exagerando? Então leiam esta reportagem do Estadão de 18 de agosto (leiam com atenção). ESCULHAMBEI ESTE TROÇO AQUI. FALEI SOZINHO!!!
Recém-incorporadas ao discurso da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) criadas pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) foram adotadas pelo Ministério do Turismo. Com investimento inicial de R$ 184 mil do governo federal, será lançado dia 30, no Morro Dona Marta, com a presença confirmada do presidente Lula, o projeto-piloto Rio Top Tour. O objetivo da iniciativa, anunciada no site do ministério, é “aproveitar o potencial turístico do local a partir da inclusão dos moradores“.
O evento, em plena campanha eleitoral, estava marcado para o dia 13, como havia informado a coluna Palanque. O primeiro anúncio foi feito por Cabral, via Twitter. Ontem, no debate entre os candidatos a vice dos presidenciáveis, promovido pelo Estado, o companheiro de chapa da petista, Michel Temer (PMDB), citou o exemplo das UPPs, tema que virou quase um mantra na campanha.
O texto de divulgação do projeto - realizado em convênio com a Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do Estado - é só elogios ao programa da Secretaria de Segurança do governo peemedebista: “Depois de um dia de praia, uma caminhada no calçadão e uma visita ao Cristo Redentor, nada mais agradável para o turista que conhecer mais de perto a cultura e tradição de um lugar tão rico como o Rio. Melhor ainda se esse contato se der em uma comunidade que hoje é símbolo de uma nova cidade, com seus serviços, produtos, segurança e hospitalidade prontos para atender todos os visitantes”.
O release diz que o morro, “até pouco tempo marginalizado pela violência e pelo crime organizado, caminha para se tornar esse ponto turístico dentro da Cidade Maravilhosa”. Por e-mail, o ministério informou que o projeto, “executado pelo Estado, é viabilizado por meio de um convênio que contempla uma UPP, embora não estejam necessariamente vinculados”. Ou seja, o Rio Top Tour não seria voltado exclusivamente para locais onde as UPPs estão consolidadas. Essa, contudo, não é a informação que aparece no release divulgado no dia 13, quando o ministro do Turismo, Luiz Barretto, visitou a favela.
“O objetivo é que o Rio Top Tour seja estendido para as demais comunidades que foram pacificadas com as UPPs. A segunda comunidade a receber o projeto será o Morro da Providência”, diz o texto. Barretto afirmou na ocasião estar “certo de que teremos um modelo a ser implementado em outras comunidades da cidade que também precisam desta valorização”.
Segundo o projeto, 50 moradores do Dona Marta - que tem mais de 5 mil moradores - receberão treinamento e haverá uma linha de crédito especial. Estão previstos estandes de informação no morro e em bairros próximos, placas e adesivos para promover pontos turísticos e a distribuição de folhetos em português e inglês. “O charme dos belos mirantes e das paisagens ganhou visibilidade em 1996, quando Michael Jackson gravou trechos de um videoclipe em uma laje no alto do morro”, destaca o ministério.
E agora?
Não é mesmo uma linguagem encantadora, sedutora? A bandidagem, por alguma razão, desarranjou a poesia turística de Cabral, Lula, Dilma e companhia. E a poesia antes oferecida aos turistas foi substituída pela exibição de força. Até havia pouco, a simples menção de contar com a colaboração das Forças Armadas, por exemplo, era considerada absurda. Quando o Exército era excepcionalmente chamado, lá iam os recrutas. Desta vez, são forças regulares.
E muitos — dos jornalistas ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, passando por Sérgio Cabral — falam em “dia histórico”, “decisão histórica” e outras hipérboles. Sem dúvida, estamos diante de uma mudança histórica da política de marketing. Em vez da paz, a guerra. Os turistas continuam de olho. Nunca antes nestepaiz uma política desastrada foi tão aplaudida.
Por Reinaldo Azevedo
COMENTO:
Convido você a acreditar inteiramente na versão oficial sobre o que está acontecendo no Rio de Janeiro a partir do mês de dezembro de 2008, quando foi inaugurada a UPP do Dona Marta, a primeira jóia da coroa.
Versão oficial:
No Rio de Janeiro surge uma forma revolucionária de promover a cidadania das populações que moram em comunidades carentes, nunca antes tentada, recuperando para o controle do Estado os territórios destas comunidades que se encontravam sob o domínio dos traficantes de drogas.
A recuperação é feita nos moldes do policiamento comunitário, sem que seja efetuado um único disparo que pudesse vir a vitimar um morador inocente.
Jovens Policiais Militares, sem vícios, passam a realizar o policiamento ostensivo e a desenvolver uma integração total com a comunidade.
A ideia de raro brilhantismo dá tão certo que avança pela Zona Sul, pela Tijuca, pelo Centro e alcança a Zona Oeste, não nessa ordem.
O objetivo não é impedir a venda de drogas, mas sim retirar os homens armados destas comunidades.
Um total sucesso que corre o Brasil e o mundo.
Uma fórmula mágica para vencer os traficantes.
As UPPs da Zona Sul se transformam em pontos turísticos.
Se transformam na principal bandeira para a reeleição do governador e alimenta as promessas da candidata à presidência da república.
Os traficantes que fugiam "desesperados" das UPPs foram se refugiando em outras comunidades.
Penso que resumidamente seja este o conjunto da versão oficial.
Em sendo verdadeira tal versão:
O governo do Estado do Rio de Janeiro não impediu que a venda de drogas continuasse nas comunidades onde foram instaladas as UPPs, permitindo que os viciados da região continuassem tendo acesso às drogas e ainda promoveu uma transferência dos traficantes de drogas com suas armas de guerra da Zona Sul para outras regiões, não tentando prendê-los, provavelmente para não provocar confrontos armados na Zona Sul, inicialmente, deixando para promover uma GUERRA na Zona Norte do Rio de Janeiro, onde um tiro não tem a mesma importância que na Zona Sul.
Caro leitor, a partir da versão oficial, não é isso que está acontecendo?
Será que o governo estadual fará do Complexo do Alemão um grande ponto turístico?
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO
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