BLOG DO REINALDO AZEVEDO
27/11/2010 - às 6:39
Se preciso, contesto o Vaticano; imaginem se não contestaria Sérgio Cabral…
Leitores — alguns com sinceridade, outros com ironia — comentam que minhas observações sobre a violência no Rio vão na contramão da maré influente na imprensa; um marulho, quase uma voz única. E daí? Isso não me incomoda absolutamente! Fosse a primeira vez, talvez eu meu preocupasse. Mas não é. Já discordei até de uma tradução endossada pelo Vaticano numa Exortação Apostólica de Bento 16… Quando as forças constitucionais de Honduras depuseram Manuel Zelaya, a maioria chamava democrata o golpista e golpistas os democratas. Fui minoria. Eu estava certo nos dois casos, o que não torna a minha opinião de agora inquestionável, é claro.
Cumpre, de resto, destacar, que eu acredito, sim, que bandidos têm de ser enfrentados e presos, como se está fazendo agora. Quem não acreditava nisso era Sérgio Cabral. E acho que as Forças Armadas têm de atuar, quando necessário, para garantir a segurança interna. É um ordenamento constitucional. As minhas reservas nunca foram essas. Ao contrário até: o que eu criticava era o mito das UPPs, que não prendiam ninguém, que não apreendiam drogas, que não enfrentavam resistência. Aquilo nunca existiu. Mas foram cantadas em prosa e verso.
Levantar questões que o discurso oficial não consegue explicar é uma das tarefas do jornalismo. Declinar desse trabalho corresponde a renunciar à missão. Não o farei. Em 2006, numa entrevista ao vivo, encontrável no YouTube, William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional, perguntou ao então governador de São Paulo, Cláudio Lembo, o que havia dado errado na governança, já que o PCC estava botando pra quebrar. Pergunta cabível. Em 2010, é preciso que alguém pergunte a Sérgio Cabral: “Mas governador, o que deu errado?” Não se pergunta — na Globo e em lugar nenhum! Em 2006, em São Paulo, as TVs enfatizavam o medo da população, o constrangimento, os sustos, a estupefação; em 2010, o que vemos nas ruas do Rio, em todas as emissoras, é uma população valente, corajosa, que segue adiante, que reconhece os desafios do governo e da polícia.
Certamente havia algo de errado em 2006 em São Paulo — o problema parece ter sido corrigido ou mitigado ao menos —, e a pergunta era cabível, sim. Mais do que isso: era necessária. Em 2010, a impressão que se tem é que Sérgio Cabral está colhendo os resultados dos seus acertos. Ele foi tão eficiente, mas tão eficiente, que a bandidagem se revoltou e decidiu botar fogo no Rio. Estou entre os que acham que as críticas de 2006 ajudaram o governo de São Paulo a corrigir seus erros — os índices de homicídio no estado, por exemplo, atingem a marca histórica de 9 por 100 mil habitantes. E acredito que o espírito cívico de 2010 no Rio está endossando e encobrindo erros, que cobram o seu preço.
Já exibi aqui o link de uma penca de textos meus em que prego que as Forças Armadas atuem para recuperar o território cedido ao narcotráfico. Mas não existe recuperação sem que se prendam os malfeitores e se faça o devido processo legal. E nada disso existia no Rio, no modelo mágico tão aplaudido pela imprensa quanto aplaudido é agora o seu contrário. Lembo, à época, foi criticado porque não teria aceitado a ajuda federal — o que é papo furado. A PM de São Paulo tem 150 mil homens. Em seis dias, a crise estava debelada, e nem haveria como administrar as forças federais, que colaboraram, sim, com agentes da PF. É claro que existe crime organizado incrustado em áreas do estado e da capital, mas inexistem em São Paulo fortalezas onde a polícia não entra. A ajuda das Forças Armadas, então, naquele caso ao menos, teria sido inócua. Mas o questionamento era cabível.
Eleições
Havia uma diferença importante nos ataques do PCC em 2006: aconteceram em maio, em ano eleitoral, e o cachorros loucos do subjornalismo estavam ativíssimos em todas as emissoras. O candidato era Geraldo Alckmin, e o crime organizado resolveu, digamos assim, fazer campanha eleitoral. No Rio, como se nota, é diferente — e também isso parece não despertar a curiosidade de ninguém. A política de segurança pública foi um dos carros-chefe da campanha eleitoral de Cabral. Foi anunciada como modelo pela então candidata Dilma Rousseff, que prometeu levá-la para todos os cantos do país. Deus nos livre dessa hora!!! Como era uma política que não prendia ninguém, se nacionalizada, talvez a idéia seja exportar bandidos para nossos vizinhos da América do Sul, não é mesmo?
Cumpre notar que, em 2006, o Lula candidato, esquecendo-se de sua condição de Lula presidente, chegou a tratar do PCC em debates, tentando evidenciar o que seria a falência da segurança pública em São Paulo. Em 2010, por incrível que pareça, Dilma Rousseff repetiu a dose, aludindo aos mesmos fatos daquele ano, ignorando que, fosse o índice de homicídios do Brasil igual aos do estado cuja política ela atacava, em vez de 50 mil ocorrências por ano, haveria apenas 17.100; seriam poupadas 32.900 vidas. Em 2006, Lembo — e, por tabela, o então presidenciável, Geraldo Alckimin — foi fustigado pelo jornalismo; em 2010, Cabral está sendo tratado como o líder da resistência.
Não! Eu não me importo de estar na contramão de absolutamente nada! E cumpre ficar vigilante para vermos os desdobramentos. Ao menos umas duas centenas de bandidos migraram da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão; sei lá que outro tanto já estava naquela fortaleza. Qualquer ocupação que não resulte na prisão em massa da bandidagem terá o cheiro inequívoco do acordo.
Se achar que devo, contesto o Vaticano. Imaginem se não contestaria Sérgio Cabral…
Por Reinaldo Azevedo
JUNTOS SOMOS FORTES!Cumpre, de resto, destacar, que eu acredito, sim, que bandidos têm de ser enfrentados e presos, como se está fazendo agora. Quem não acreditava nisso era Sérgio Cabral. E acho que as Forças Armadas têm de atuar, quando necessário, para garantir a segurança interna. É um ordenamento constitucional. As minhas reservas nunca foram essas. Ao contrário até: o que eu criticava era o mito das UPPs, que não prendiam ninguém, que não apreendiam drogas, que não enfrentavam resistência. Aquilo nunca existiu. Mas foram cantadas em prosa e verso.
Levantar questões que o discurso oficial não consegue explicar é uma das tarefas do jornalismo. Declinar desse trabalho corresponde a renunciar à missão. Não o farei. Em 2006, numa entrevista ao vivo, encontrável no YouTube, William Bonner, editor-chefe do Jornal Nacional, perguntou ao então governador de São Paulo, Cláudio Lembo, o que havia dado errado na governança, já que o PCC estava botando pra quebrar. Pergunta cabível. Em 2010, é preciso que alguém pergunte a Sérgio Cabral: “Mas governador, o que deu errado?” Não se pergunta — na Globo e em lugar nenhum! Em 2006, em São Paulo, as TVs enfatizavam o medo da população, o constrangimento, os sustos, a estupefação; em 2010, o que vemos nas ruas do Rio, em todas as emissoras, é uma população valente, corajosa, que segue adiante, que reconhece os desafios do governo e da polícia.
Certamente havia algo de errado em 2006 em São Paulo — o problema parece ter sido corrigido ou mitigado ao menos —, e a pergunta era cabível, sim. Mais do que isso: era necessária. Em 2010, a impressão que se tem é que Sérgio Cabral está colhendo os resultados dos seus acertos. Ele foi tão eficiente, mas tão eficiente, que a bandidagem se revoltou e decidiu botar fogo no Rio. Estou entre os que acham que as críticas de 2006 ajudaram o governo de São Paulo a corrigir seus erros — os índices de homicídio no estado, por exemplo, atingem a marca histórica de 9 por 100 mil habitantes. E acredito que o espírito cívico de 2010 no Rio está endossando e encobrindo erros, que cobram o seu preço.
Já exibi aqui o link de uma penca de textos meus em que prego que as Forças Armadas atuem para recuperar o território cedido ao narcotráfico. Mas não existe recuperação sem que se prendam os malfeitores e se faça o devido processo legal. E nada disso existia no Rio, no modelo mágico tão aplaudido pela imprensa quanto aplaudido é agora o seu contrário. Lembo, à época, foi criticado porque não teria aceitado a ajuda federal — o que é papo furado. A PM de São Paulo tem 150 mil homens. Em seis dias, a crise estava debelada, e nem haveria como administrar as forças federais, que colaboraram, sim, com agentes da PF. É claro que existe crime organizado incrustado em áreas do estado e da capital, mas inexistem em São Paulo fortalezas onde a polícia não entra. A ajuda das Forças Armadas, então, naquele caso ao menos, teria sido inócua. Mas o questionamento era cabível.
Eleições
Havia uma diferença importante nos ataques do PCC em 2006: aconteceram em maio, em ano eleitoral, e o cachorros loucos do subjornalismo estavam ativíssimos em todas as emissoras. O candidato era Geraldo Alckmin, e o crime organizado resolveu, digamos assim, fazer campanha eleitoral. No Rio, como se nota, é diferente — e também isso parece não despertar a curiosidade de ninguém. A política de segurança pública foi um dos carros-chefe da campanha eleitoral de Cabral. Foi anunciada como modelo pela então candidata Dilma Rousseff, que prometeu levá-la para todos os cantos do país. Deus nos livre dessa hora!!! Como era uma política que não prendia ninguém, se nacionalizada, talvez a idéia seja exportar bandidos para nossos vizinhos da América do Sul, não é mesmo?
Cumpre notar que, em 2006, o Lula candidato, esquecendo-se de sua condição de Lula presidente, chegou a tratar do PCC em debates, tentando evidenciar o que seria a falência da segurança pública em São Paulo. Em 2010, por incrível que pareça, Dilma Rousseff repetiu a dose, aludindo aos mesmos fatos daquele ano, ignorando que, fosse o índice de homicídios do Brasil igual aos do estado cuja política ela atacava, em vez de 50 mil ocorrências por ano, haveria apenas 17.100; seriam poupadas 32.900 vidas. Em 2006, Lembo — e, por tabela, o então presidenciável, Geraldo Alckimin — foi fustigado pelo jornalismo; em 2010, Cabral está sendo tratado como o líder da resistência.
Não! Eu não me importo de estar na contramão de absolutamente nada! E cumpre ficar vigilante para vermos os desdobramentos. Ao menos umas duas centenas de bandidos migraram da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão; sei lá que outro tanto já estava naquela fortaleza. Qualquer ocupação que não resulte na prisão em massa da bandidagem terá o cheiro inequívoco do acordo.
Se achar que devo, contesto o Vaticano. Imaginem se não contestaria Sérgio Cabral…
Por Reinaldo Azevedo
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
Ex-CORREGEDOR INTERNO
2 comentários:
Hehehe... Reinaldão, como sempre, botando o dedo na pereba.
Em São Paulo, as coisas são bem diferentes do Rio de Janeiro.
Até algumas denúncias de corrupção no governo, só são divulgadas por lá.
As do RIO DE JANEIRO!!!
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