BLOG DO REINALDO AZEVEDO
28/11/2010 - às 18:28
O acordo, a ocupação pacífica do Complexo do Alemão e o futuro
Como vocês estão cansados de saber a esta altura, a polícia entrou no Complexo do Alemão praticamente sem resistência. Bandido é bandido, mas não é burro. Resistir ao aparato que reúne PM (Bope), PF e Forças Armadas seria suicídio coletivo. Muita droga foi apreendida. Não se sabe ao certo o número de presos até agora, mas não são muitos. Também é pequena a apreensão de armas, dado o arsenal já exibido pelos bandidos. A ocupação não rende um filme de ação, algo como Tropa de Elite 3. Acabou sendo chocha. Melhor assim em certo sentido. Do contrário, haveria muitas mortes: de bandidos, de militares e também de moradores. Depois de cantar o Hino Nacional, o Hino da Proclamação da República, o Hino à Bandeira e o Hino da Independência, a gente pode começar a pensar.
Esse desdobramento não é acidental. Desde o cerco ao complexo, as forças de segurança negociam com a bandidagem. O, como é mesmo?, “mediador social” (ou coisa assim) José Júnior, da ONG AfroReggae, foi uma das pessoas que fizeram o meio-de-campo. A “ocupação” só foi decidida depois de um acordo. Ficou estabelecido que as forças de segurança “invadiriam” a área sem resistência. Os bandidos ofereceram a passividade, e o Estado lhes deu o direito de tentar fugir. A região é gigantesca. Bem poucos trazem estampado no corpo a marca “sou bandido”, a exemplo de um tal Leandro Sedano, 20 anos. Ele mandou tatuar três vezes o nome de “Fernandinho Bera Mar” (sic) nos braços; numa das mãos, um folha de maconha; nas costas, a expressão “eu cheiro”. Ou seja: Leandro é um Zé Mané. O tráfico não confiaria a ele um papelote de cocaína para vender - ele cheiraria o pó… A polícia não tem o retrato de todos os traficantes, e ninguém pode ser preso se estiver em casa, assistindo ao confronto Corinthians X Fluminense…
É claro que era preciso ocupar o Complexo do Alemão — aliás, é preciso levar Estado a todas as favelas do Rio. No que concerne à entrada no morro propriamente, o certo é isso que se vem fazendo agora, não o que se vinha fazendo antes. Essa política é, sim, desdobramento da anterior (aquela que não prendia ninguém), mas pelo avesso. As conseqüências negativas da escolha anterior forçaram a ação de emergência — embora esperada há pelo menos 20 anos pelos trabalhadores, que são reféns do narcotráfico, e pelo conjunto dos cariocas, que não suportavam mais ter sua rotina abalada pelos traficantes. Pensando a coisa toda só por suas conseqüências, talvez se possa dizer que há males que vêm para bem — se vierem. O que quero dizer?
Feita a ocupação, é preciso fazer o trabalho de investigação para prender os traficantes, O QUE NÃO FOI FEITO ATÉ AGORA NAS 13 FAVELAS PACIFICADAS. Em 11 delas, o tráfico opera normalmente. Mudou a logística, mudou o comportamento dos traficantes, direitos mínimos são garantidos pela Polícia, mas o comércio do bagulho segue normalmente. Soldados do tráfico, tornados desnecessários nas favelas aonde chegaram as UPPs, haviam se deslocado para as favelas nas quais a polícia ainda não está presente.
Pedem que, nos meus textos, eu dê tempo ao tempo. Ora, claro que sim! Só estou chamando a atenção para uma evidência: caso se repita no Alemão o que aconteceu nas 13 favelas já “pacificadas”, o tráfico será “civilizado”, e quase ninguém será preso, com uma apreensão de armas pequena, dado o arsenal da bandidagem. E a isso não se pode chamar exatamente “combater” o tráfico.
Fala-se na apreensão de até 20 toneladas de maconha só no Alemão! É um troço fabuloso! Dado o andar anterior da carruagem, toda essa mercadoria logo seria posta para circular, financiando esse ramo da economia que, estima-se, emprega 16 mil pessoas só no Rio de Janeiro. Como se nota, estavam certos todos aqueles que se perguntavam indignados: “Mas por que a polícia e as Forças Armadas não sobem os morros e tomam as fortalezas do tráfico?” Pois é… Por quê? Que bom que o tenham feito agora!
Os próximos dias e meses dirão até onde se preparou um espetáculo para turistas — como turística era a política anterior. Sem investigação, prisões em massa e o devido processo legal, nada feito!
Por Reinaldo Azevedo
JUNTOS SOMOS FORTES!Esse desdobramento não é acidental. Desde o cerco ao complexo, as forças de segurança negociam com a bandidagem. O, como é mesmo?, “mediador social” (ou coisa assim) José Júnior, da ONG AfroReggae, foi uma das pessoas que fizeram o meio-de-campo. A “ocupação” só foi decidida depois de um acordo. Ficou estabelecido que as forças de segurança “invadiriam” a área sem resistência. Os bandidos ofereceram a passividade, e o Estado lhes deu o direito de tentar fugir. A região é gigantesca. Bem poucos trazem estampado no corpo a marca “sou bandido”, a exemplo de um tal Leandro Sedano, 20 anos. Ele mandou tatuar três vezes o nome de “Fernandinho Bera Mar” (sic) nos braços; numa das mãos, um folha de maconha; nas costas, a expressão “eu cheiro”. Ou seja: Leandro é um Zé Mané. O tráfico não confiaria a ele um papelote de cocaína para vender - ele cheiraria o pó… A polícia não tem o retrato de todos os traficantes, e ninguém pode ser preso se estiver em casa, assistindo ao confronto Corinthians X Fluminense…
É claro que era preciso ocupar o Complexo do Alemão — aliás, é preciso levar Estado a todas as favelas do Rio. No que concerne à entrada no morro propriamente, o certo é isso que se vem fazendo agora, não o que se vinha fazendo antes. Essa política é, sim, desdobramento da anterior (aquela que não prendia ninguém), mas pelo avesso. As conseqüências negativas da escolha anterior forçaram a ação de emergência — embora esperada há pelo menos 20 anos pelos trabalhadores, que são reféns do narcotráfico, e pelo conjunto dos cariocas, que não suportavam mais ter sua rotina abalada pelos traficantes. Pensando a coisa toda só por suas conseqüências, talvez se possa dizer que há males que vêm para bem — se vierem. O que quero dizer?
Feita a ocupação, é preciso fazer o trabalho de investigação para prender os traficantes, O QUE NÃO FOI FEITO ATÉ AGORA NAS 13 FAVELAS PACIFICADAS. Em 11 delas, o tráfico opera normalmente. Mudou a logística, mudou o comportamento dos traficantes, direitos mínimos são garantidos pela Polícia, mas o comércio do bagulho segue normalmente. Soldados do tráfico, tornados desnecessários nas favelas aonde chegaram as UPPs, haviam se deslocado para as favelas nas quais a polícia ainda não está presente.
Pedem que, nos meus textos, eu dê tempo ao tempo. Ora, claro que sim! Só estou chamando a atenção para uma evidência: caso se repita no Alemão o que aconteceu nas 13 favelas já “pacificadas”, o tráfico será “civilizado”, e quase ninguém será preso, com uma apreensão de armas pequena, dado o arsenal da bandidagem. E a isso não se pode chamar exatamente “combater” o tráfico.
Fala-se na apreensão de até 20 toneladas de maconha só no Alemão! É um troço fabuloso! Dado o andar anterior da carruagem, toda essa mercadoria logo seria posta para circular, financiando esse ramo da economia que, estima-se, emprega 16 mil pessoas só no Rio de Janeiro. Como se nota, estavam certos todos aqueles que se perguntavam indignados: “Mas por que a polícia e as Forças Armadas não sobem os morros e tomam as fortalezas do tráfico?” Pois é… Por quê? Que bom que o tenham feito agora!
Os próximos dias e meses dirão até onde se preparou um espetáculo para turistas — como turística era a política anterior. Sem investigação, prisões em massa e o devido processo legal, nada feito!
Por Reinaldo Azevedo
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO
4 comentários:
Vou mais além, de nada adiantará se os políticos corruptos continuarem desviando verbas da educação, da saúde e da segurança, se os viciados continuarem consumindo, se nós, povo, continuarmos apáticos e coniventes com as coisas erradas e não colocarmos a "boca no trombone" denunciando e cobrando soluções efetivas para os problemas que afligem nosso Estado.
Creio que segurança pública seja apenas uma parte da solução do problema, que deverá ser acionada quando todas as outras medidas não surtirem efeito. Se não forem reformuladas as políticas públicas de forma a possibilitar que as crianças que hoje estão nessas comunidades tenham uma outra perspectiva, as medidas adotadas não surtirão nenhum efeito prático e estaremos presenciando somente mais uma "enxugação de gelo" como já vimos tantas vezes.
A questão da prisão como forma de punir os meliantes, é extremamente necessária, porém, se não houver uma reformulação na maneira como essas punições são aplicadas, também não adiantará de nada prendê-los. Sou a favor de uma legislação mais rígida, de uma punição exemplar, mas será que só isso resolve o problema? É notório que o nosso sistema carcerário não ressocializa ninguém, ao contrário, a grande maioria dos indivíduos que o adentram, saem de lá pior do que entraram e se tivermos em mente que a verdadeira função desse sistema é fazer com que aqueles que cometeram crimes sejam punidos e tenham a possibilidade de serem reinseridos na sociedade, veremos o quão inútil será prender mais se mudanças não forem feitas. Além disso, um questionamento que vale a pena ser feito é se o mal que esses meliantes fazem à sociedade, deixemos de lado os discursos hipócritas e a ideologia que a mídia tenta nos empurrar garganta abaixo, são menores do que o mal que os corruptos fazem, paremos para refletir e vamos analisar:o bandido comum mata uma, duas, três, talvez uma centena de pessoas em sua vida de crimes, o que realmente é muitíssimo grave, principalmente se for um familiar nosso, uma criança, uma mulher grávida, um idoso, porém, um colarinho branco que desvia verba da saúde, dos hospitais, da educação, da segurança, mata muito mais que isso e todo tipo de pessoas de uma tacada só, cometendo verdadeiros genocídios e se passam por pessoas respeitadas, são homenageadas pela sociedade e hipocritamente pedem punições mais rígidas para os meliantes, pensem se estou errado. Sem falar em outros tipos de crimes com os quais são coniventes e, que apesar de tudo, dificilmente são punidos e, quando o são, a chance de pararem no mesmo lugar daqueles outros são muito remotas.
Pensem nisso.
Reinaldão, sempre enfiando o dedo na pereba da segurança pública do RJ. Uma hora esse furúnculo estoura...
Concordo plenamente com o seu comentário, mas uma coisa não inibe a outra. Cada degrau de uma vez; o que não pode é, à espera de justiça social, deixarmos a bandidagem aniquilar as classes pobre e média porque os políticos corruptos e nobres deste país possuem segurança privada e pública e carros blindados à vontade, nós não. Minha prioridade é que eu e minha família sobrevivamos, só assim poderemos não votar nesses que estão por aí. A mudança das condições gerais da sociedade é um processo lento e cada vez mais difícil do jeito que está. Até para as pessoas de bem fazerem alguma coisa está difícil no Rio de Janeiro, onde a corrupção e outras ilegalidades imperam. A solução, nos últimos anos, tem sido sair daqui: empresas e cidadãos de bem procuram outros estados ou países; quem quer sacanagem vem pra cá. Até empresas daqui usam os serviços de outros estados, como por exemplo o emplacamento de autos.
Isso aí!
Quando é que vamos descobrir o "acerto" entre Gov.do Estado e ADA + Milícias?
Claro que esta é uma análise "bestial", mas que deve ter um fundinho de razão, a isso deve!
Paúl neles!!!
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