PMs torturavam traficantes com choques elétricos
A Justiça decretou a prisão preventiva de seis dos oito acusados de envolvimento no grupo de extermínio – formado por civis e policiais militares – responsável pelo seqüestro, extorsão e execução de suspeitos de ligação com o tráfico de drogas em São Gonçalo e Niterói. A determinação, feita pela juíza Patrícia Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, ocorreu no mesmo dia em que Hygor Câmara Tavares, 29 anos, filho de uma oficial lotada no Batalhão de Polícia Florestal e de Meio Ambiente (BFMA), se apresentou espontaneamente a policiais da 118 ª DP (Araruama), por volta do meio-dia do dia 4 de novembro.
Ele é apontado como um dos integrantes do bando investigado por, pelo menos, 50 homicídios no município, e que ficou conhecido como Extermínio S.A, devido à estrutura montada com o objetivo de arrecadar dinheiro a partir do seqüestro e morte de supostos traficantes e de seus familiares. Após se entregar à Polícia, Hygor foi encaminhado à Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter) de Araruama, onde permanece à disposição de Justiça. O irmão do acusado, Wanderson Silva Tavares, o Gordinho ou Tenente, 34 – líder da quadrilha armada – é o único que continua foragido. O Disque-Denúncia, através do telefone 2253-1177, está oferecendo R$ 1 mil por informações que auxiliem na prisão de Gordinho.
A magistrada também decretou a prorrogação da prisão de Abdias Cruz da Silva, o Buca, 38, investigado por enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro do grupo de extermínio, cuja movimentação financeira nos últimos dois anos pode chegar a R$ 2 milhões. Com a decisão, os agentes do Núcleo de Homicídios da 72ª DP (Mutuá) acreditam ter concluído o inquérito mãe sobre a atuação da quadrilha, iniciado a partir das mortes de morte de Rafael Dias de Miranda, 22, e Diego Torres da Silva, 20. Os corpos dos jovens foram encontrados dentro de um rio, na localidade conhecida como Ipuca, no Jardim Catarina no dia 13 de julho. As vítimas foram sequestradas dois dias antes da execução na Rua Cuiabá, na Trindade.
Segundo os policiais, o inquérito, que possui 1 mil páginas divididas em seis volumes, servirá de elemento de instrução para a investigação de outras seis execuções atribuídas à quadrilha, cujos crimes foram praticados em áreas de quatro delegacias diferentes: 73ª DP (Neves), 74ª DP (Alcântara), 75ª DP (Rio do Ouro) e 79ª DP (Jurujuba).
“A primeira fase foi concluída com a decretação da prisão preventiva dos PMs e do Wanderson. O inquérito será encaminhado à Justiça. Entretanto, as investigações continuam com o objetivo de apurar os outros homicídios praticados por esse grupo”, explicou o delegado Geraldo Assed, titular da 72ª DP (Mutuá).
Os crimes aos quais o delegado se refere são os assassinatos de Josivaldo José de Oliveira Sobrinho, o Baixinho, 30, Daniel Santos Menezes, 20, o Daniel Bafo, Dyego Virtuoso, o Bodinho, 26, Buchecha do Mutuapira, e dos irmãos Nilson Zacarias da Silva Filho, 29, e Denílson Zacarias da Silva, 31. De acordo com as investigações, todos foram seqüestrados e mortos após o pagamento de resgate que variavam de R$ 15 a 20 mil.
Nomes e funções dos integrantes do grupo de extermínio
Wanderson Silva Tavares, o Gordinho ou Tenente – apontado como o líder do bando e o principal articulador das ações da quadrilha, além de ser o responsável por dividir o dinheiro arrecadado com as mortes. (FORAGIDO)
Cabo Alexsandro Horffmam Lopes – Lotado no 12º BPM (Niterói), o PM recrutava colegas de farda para participarem dos seqüestros, extorsões e assassinatos. (PRESO)
Abdias Cruz da Silva, o Buca, 38 – Apontado como responsável pela lavagem de dinheiro da quadrilha. (PRESO)
Cabos Christian Brito Guimarães e Alecsandre Nazareth Baiense, ambos lotados no 12º BPM, soldado Rogério Acácio Ferreira, lotado no 7º BPM (São Gonçalo), além do cabo Fábio Gomes do Couto, do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPtur) e Hygor Câmara Tavares – Atuavam como braço armado do bando (TODOS PRESOS)
Sessões de tortura que duravam até três horas com direito a choques elétricos, sufocamentos com sacos plásticos e espancamentos das mais diferentes formas. Violências que remetem aos períodos de recessão eram praticadas pelo grupo de extermínio. A ditadura do medo imposta pelo bando no município, entretanto, tinha como seus “subversivos” os suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas na região e seus familiares.
Os alvos eram escolhidos por uma espécie de Serviço de Inteligência do grupo paramilitar, constituído por uma rede de informantes, os populares X9, que atuavam nas comunidades com a finalidade de identificar possíveis vítimas. Eles se infiltravam entre os criminosos e chegavam a integrar o tráfico de drogas como forma de obter informações privilegiadas.
O objetivo de poder desse Estado paralelo, contudo, não era político, mas especificamente financeiro: seqüestrar, extorquir e executar os alvos. Os crimes teriam rendido mais de R$ 2 milhões ao bando nos últimos dois anos.
O jornalista Gustavo Carvalho teve acesso, com exclusividade, às interceptações telefônicas – autorizadas pela Justiça – que culminaram na desarticulação da quadrilha armada com a prisão de cinco PMs, em setembro desse ano.
As gravações, ocorridas no dia 13 de agosto, narram o martírio de Dyego Virtuoso, o Bodinho, de 26 anos. Seqüestrado em sua residência no Complexo do Salgueiro, ele foi encontrado morto com marcas de tiros no início da manhã do dia seguinte, na Rua Doutor Manoel Duarte, no bairro Gradim. Os diálogos travados entre o cabo Lopes – responsável pelo recrutamento de colegas de farda para as ações criminosas – e Wanderson, apontado como o chefe do bando e o único ainda foragido, com uma informante mostram as articulações do grupo de extermínio para chegar ao suspeito de envolvimento com o tráfico no Salgueiro.
A expectativa era de que o seqüestro de Bodinho, previamente escolhido sob a suspeita de ser tesoureiro das bocas de fumo de Antônio Hilário Ferreira, o Rabicó, rendesse R$ 15 mil ao bando. Entretanto, após de mais de três horas de tortura, as negociações com a família chegaram ao fim sem que o resgate fosse pago. O áudio da tortura a qual Bodinho foi submetido chocou até os policiais da 72ª DP (Mutuá).
Eles chegaram realizar buscas, mas não conseguiram encontrar o local onde ela era praticada. Para a surpresa dos agentes, a tortura das vítimas ocorria na casa de Gordinho, no Boassu, que não se intimidava com a presença dos dois enteados e da mulher na residência para praticá-la.
No final, após o desfecho frustrado, Lopes lamenta que o “serviço” o fez gastar apenas dinheiro, gasolina e munição. Irônico, Gordinho comenta que Bodinho fez curso com o Rambo para agüentar as mais de três horas no aparelho de choque. Além dos dois, participaram no seqüestro e morte de Bodinho os cabos Christian Brito Guimarães e Alecsandre Nazareth Baiense.
Bodinho é capturado no dia 13 de agosto às 21h57min (Início da tortura)
Lopes: Você tá dado, maluco. O meu X9 (informante) é vapor. O meu X é vapor. Dá o papo logo. E aí, qual vai ser do desenrolo?
Bodinho (ao fundo): Por favor, senhor, não faz isso comigo não, por favor. Você acha que se eu fosse gerente do tráfico eu ia tá morando ali, naquele lugar. O senhor acha? (gritos de dor devido aos choques elétricos).
Lopes: Acho. Pra dichavar, tu cai ali.
Bodinho: Jamais, jamais (gritos de dor).
Lopes: Alô. Tá ouvindo? Daqui a pouco te ligo de novo.
Bodinho: Por favor, não faz isso comigo não.
Gordinho: Fala a verdade (...), fala a verdade.
Madrugada do dia 14 de agosto, 1h17min. (Continuação da tortura)
Gordinho: Fala aí, Xuxa (X9)!
X9: E aí?
Gordinho: E aí nada. O cara (Bodinho) fala que não é ele, que não é ele. O cara já está em três horas de tortura. Já gastamos o aparelho de choque todinho nele e ele está negando até o fim.
X9: Não é possível (...). Vocês conversaram com a mãe, com a mulher dele?
Gordinho: A mãe dele falou que desceu só pra ver o negócio porque ele tava preso. Pra poder agitar o documento. A mulher dele trabalha em confecção e ele fala que não é ele. Que saiu dessa vida, que parou (...)
X9: É mentira!
Gordinho: E qual o comentário aí?
X9: Só tá o comentário que ele rodou (...) Só isso...
Gordinho: Tá, mas o pessoal da boca não tá falando nada não?
X9: Só comentam que ele rodou.
Gordinho: Você não tem o telefone de ninguém da boca para fazer o contato?
X9: Não. Telefone eu não tenho não. Lá de cima, nada.
Gordinho: É que a gente liga para o cara e fala que foi ele que deu. Mandaram te ligar aí, meu irmão, a situação é essa, essa e essa (...). Ele quer que ligue para a mãe e para a mulher dele, mas você sabe se envolver família vai dar pica de novo, né?
X9: Mas é mais fácil ligar pra mãe ou pra mulher dele para elas avisarem
Gordinho: Tá. Fala com Negão (Lopes) aqui.
Lopes: Fala aí.
X9: É mais fácil ligar pra mulher dele para ela ir lá em cima desenrolar. A mulher dele que tem que desenrolar. O comentário que tá aqui é que ele rodou, mas quem vai lá desenrolar? Tem que ir alguém...
Lopes: Daqui a pouco eu te ligo pra ver qual é.
X9: Tá bom.
Manhã do dia 14 de agosto, 12h14min (Bodinho é encontrado morto e Lopes lamenta plano frustrado)
Lopes: Acordei agora. Nada! Você teve aquela idéia de acionar a mulher dele, mas cadê? Devem ter saído para procurar. Ficamos até três da manhã ligando pra casa dele, chamava e ninguém atendia. Voltar lá não tinha como. Você foi na firma (na boca de fumo) e nada também. Gastamos tempo, gasolina, dinheiro e munição. Só!
X9: E pra piorar na madrugada segurei maior p. Meu filho tá na maior m. Minha mãe levou ele para o hospital, sem nenhum centavo. Eu rezando pra você me ligar pra dizer que rendeu R$ 50 mil.
Lopes: Tinha sete reais e um isqueiro verde no bolso de Maria (Bodinho). PQP. É tralha, mas eu acho que tinha perdido a condição mesmo.
Tarde do dia 14 de agosto, 13h27. (Gordinho ironiza o fato de Bodinho ter suportado a tortura durante três horas)
Gordinho: Aí, Negão. Não tem aquele amigo que trabalhava na casinha lá dentro? Falou que o moleque (Bodinho) tinha o dinheiro pra perder e valia uns R$ 15 mil, cara. Ele era tudo aquilo mesmo que o X9 falou. O cara confirmou aqui sem saber de nada e falou que tinha pra perder. Acho que esse moleque fez curso com o Rambo. Aquele Moleque ia ser guerrilheiro, só pode (...).
Lopes: O moleque me convenceu, compadre. No início, tudo bem. Mas não é possível alguém agüentar aquilo tudo não. Um merdinha daquele? Agüentar três horas de tortura direto. Não agüenta isso não, velho. Muita coisa pra ele bancar.
JUNTOS SOMOS FORTES!Ele é apontado como um dos integrantes do bando investigado por, pelo menos, 50 homicídios no município, e que ficou conhecido como Extermínio S.A, devido à estrutura montada com o objetivo de arrecadar dinheiro a partir do seqüestro e morte de supostos traficantes e de seus familiares. Após se entregar à Polícia, Hygor foi encaminhado à Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter) de Araruama, onde permanece à disposição de Justiça. O irmão do acusado, Wanderson Silva Tavares, o Gordinho ou Tenente, 34 – líder da quadrilha armada – é o único que continua foragido. O Disque-Denúncia, através do telefone 2253-1177, está oferecendo R$ 1 mil por informações que auxiliem na prisão de Gordinho.
A magistrada também decretou a prorrogação da prisão de Abdias Cruz da Silva, o Buca, 38, investigado por enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro do grupo de extermínio, cuja movimentação financeira nos últimos dois anos pode chegar a R$ 2 milhões. Com a decisão, os agentes do Núcleo de Homicídios da 72ª DP (Mutuá) acreditam ter concluído o inquérito mãe sobre a atuação da quadrilha, iniciado a partir das mortes de morte de Rafael Dias de Miranda, 22, e Diego Torres da Silva, 20. Os corpos dos jovens foram encontrados dentro de um rio, na localidade conhecida como Ipuca, no Jardim Catarina no dia 13 de julho. As vítimas foram sequestradas dois dias antes da execução na Rua Cuiabá, na Trindade.
Segundo os policiais, o inquérito, que possui 1 mil páginas divididas em seis volumes, servirá de elemento de instrução para a investigação de outras seis execuções atribuídas à quadrilha, cujos crimes foram praticados em áreas de quatro delegacias diferentes: 73ª DP (Neves), 74ª DP (Alcântara), 75ª DP (Rio do Ouro) e 79ª DP (Jurujuba).
“A primeira fase foi concluída com a decretação da prisão preventiva dos PMs e do Wanderson. O inquérito será encaminhado à Justiça. Entretanto, as investigações continuam com o objetivo de apurar os outros homicídios praticados por esse grupo”, explicou o delegado Geraldo Assed, titular da 72ª DP (Mutuá).
Os crimes aos quais o delegado se refere são os assassinatos de Josivaldo José de Oliveira Sobrinho, o Baixinho, 30, Daniel Santos Menezes, 20, o Daniel Bafo, Dyego Virtuoso, o Bodinho, 26, Buchecha do Mutuapira, e dos irmãos Nilson Zacarias da Silva Filho, 29, e Denílson Zacarias da Silva, 31. De acordo com as investigações, todos foram seqüestrados e mortos após o pagamento de resgate que variavam de R$ 15 a 20 mil.
Nomes e funções dos integrantes do grupo de extermínio
Wanderson Silva Tavares, o Gordinho ou Tenente – apontado como o líder do bando e o principal articulador das ações da quadrilha, além de ser o responsável por dividir o dinheiro arrecadado com as mortes. (FORAGIDO)
Cabo Alexsandro Horffmam Lopes – Lotado no 12º BPM (Niterói), o PM recrutava colegas de farda para participarem dos seqüestros, extorsões e assassinatos. (PRESO)
Abdias Cruz da Silva, o Buca, 38 – Apontado como responsável pela lavagem de dinheiro da quadrilha. (PRESO)
Cabos Christian Brito Guimarães e Alecsandre Nazareth Baiense, ambos lotados no 12º BPM, soldado Rogério Acácio Ferreira, lotado no 7º BPM (São Gonçalo), além do cabo Fábio Gomes do Couto, do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPtur) e Hygor Câmara Tavares – Atuavam como braço armado do bando (TODOS PRESOS)
Sessões de tortura que duravam até três horas com direito a choques elétricos, sufocamentos com sacos plásticos e espancamentos das mais diferentes formas. Violências que remetem aos períodos de recessão eram praticadas pelo grupo de extermínio. A ditadura do medo imposta pelo bando no município, entretanto, tinha como seus “subversivos” os suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas na região e seus familiares.
Os alvos eram escolhidos por uma espécie de Serviço de Inteligência do grupo paramilitar, constituído por uma rede de informantes, os populares X9, que atuavam nas comunidades com a finalidade de identificar possíveis vítimas. Eles se infiltravam entre os criminosos e chegavam a integrar o tráfico de drogas como forma de obter informações privilegiadas.
O objetivo de poder desse Estado paralelo, contudo, não era político, mas especificamente financeiro: seqüestrar, extorquir e executar os alvos. Os crimes teriam rendido mais de R$ 2 milhões ao bando nos últimos dois anos.
O jornalista Gustavo Carvalho teve acesso, com exclusividade, às interceptações telefônicas – autorizadas pela Justiça – que culminaram na desarticulação da quadrilha armada com a prisão de cinco PMs, em setembro desse ano.
As gravações, ocorridas no dia 13 de agosto, narram o martírio de Dyego Virtuoso, o Bodinho, de 26 anos. Seqüestrado em sua residência no Complexo do Salgueiro, ele foi encontrado morto com marcas de tiros no início da manhã do dia seguinte, na Rua Doutor Manoel Duarte, no bairro Gradim. Os diálogos travados entre o cabo Lopes – responsável pelo recrutamento de colegas de farda para as ações criminosas – e Wanderson, apontado como o chefe do bando e o único ainda foragido, com uma informante mostram as articulações do grupo de extermínio para chegar ao suspeito de envolvimento com o tráfico no Salgueiro.
A expectativa era de que o seqüestro de Bodinho, previamente escolhido sob a suspeita de ser tesoureiro das bocas de fumo de Antônio Hilário Ferreira, o Rabicó, rendesse R$ 15 mil ao bando. Entretanto, após de mais de três horas de tortura, as negociações com a família chegaram ao fim sem que o resgate fosse pago. O áudio da tortura a qual Bodinho foi submetido chocou até os policiais da 72ª DP (Mutuá).
Eles chegaram realizar buscas, mas não conseguiram encontrar o local onde ela era praticada. Para a surpresa dos agentes, a tortura das vítimas ocorria na casa de Gordinho, no Boassu, que não se intimidava com a presença dos dois enteados e da mulher na residência para praticá-la.
No final, após o desfecho frustrado, Lopes lamenta que o “serviço” o fez gastar apenas dinheiro, gasolina e munição. Irônico, Gordinho comenta que Bodinho fez curso com o Rambo para agüentar as mais de três horas no aparelho de choque. Além dos dois, participaram no seqüestro e morte de Bodinho os cabos Christian Brito Guimarães e Alecsandre Nazareth Baiense.
Bodinho é capturado no dia 13 de agosto às 21h57min (Início da tortura)
Lopes: Você tá dado, maluco. O meu X9 (informante) é vapor. O meu X é vapor. Dá o papo logo. E aí, qual vai ser do desenrolo?
Bodinho (ao fundo): Por favor, senhor, não faz isso comigo não, por favor. Você acha que se eu fosse gerente do tráfico eu ia tá morando ali, naquele lugar. O senhor acha? (gritos de dor devido aos choques elétricos).
Lopes: Acho. Pra dichavar, tu cai ali.
Bodinho: Jamais, jamais (gritos de dor).
Lopes: Alô. Tá ouvindo? Daqui a pouco te ligo de novo.
Bodinho: Por favor, não faz isso comigo não.
Gordinho: Fala a verdade (...), fala a verdade.
Madrugada do dia 14 de agosto, 1h17min. (Continuação da tortura)
Gordinho: Fala aí, Xuxa (X9)!
X9: E aí?
Gordinho: E aí nada. O cara (Bodinho) fala que não é ele, que não é ele. O cara já está em três horas de tortura. Já gastamos o aparelho de choque todinho nele e ele está negando até o fim.
X9: Não é possível (...). Vocês conversaram com a mãe, com a mulher dele?
Gordinho: A mãe dele falou que desceu só pra ver o negócio porque ele tava preso. Pra poder agitar o documento. A mulher dele trabalha em confecção e ele fala que não é ele. Que saiu dessa vida, que parou (...)
X9: É mentira!
Gordinho: E qual o comentário aí?
X9: Só tá o comentário que ele rodou (...) Só isso...
Gordinho: Tá, mas o pessoal da boca não tá falando nada não?
X9: Só comentam que ele rodou.
Gordinho: Você não tem o telefone de ninguém da boca para fazer o contato?
X9: Não. Telefone eu não tenho não. Lá de cima, nada.
Gordinho: É que a gente liga para o cara e fala que foi ele que deu. Mandaram te ligar aí, meu irmão, a situação é essa, essa e essa (...). Ele quer que ligue para a mãe e para a mulher dele, mas você sabe se envolver família vai dar pica de novo, né?
X9: Mas é mais fácil ligar pra mãe ou pra mulher dele para elas avisarem
Gordinho: Tá. Fala com Negão (Lopes) aqui.
Lopes: Fala aí.
X9: É mais fácil ligar pra mulher dele para ela ir lá em cima desenrolar. A mulher dele que tem que desenrolar. O comentário que tá aqui é que ele rodou, mas quem vai lá desenrolar? Tem que ir alguém...
Lopes: Daqui a pouco eu te ligo pra ver qual é.
X9: Tá bom.
Manhã do dia 14 de agosto, 12h14min (Bodinho é encontrado morto e Lopes lamenta plano frustrado)
Lopes: Acordei agora. Nada! Você teve aquela idéia de acionar a mulher dele, mas cadê? Devem ter saído para procurar. Ficamos até três da manhã ligando pra casa dele, chamava e ninguém atendia. Voltar lá não tinha como. Você foi na firma (na boca de fumo) e nada também. Gastamos tempo, gasolina, dinheiro e munição. Só!
X9: E pra piorar na madrugada segurei maior p. Meu filho tá na maior m. Minha mãe levou ele para o hospital, sem nenhum centavo. Eu rezando pra você me ligar pra dizer que rendeu R$ 50 mil.
Lopes: Tinha sete reais e um isqueiro verde no bolso de Maria (Bodinho). PQP. É tralha, mas eu acho que tinha perdido a condição mesmo.
Tarde do dia 14 de agosto, 13h27. (Gordinho ironiza o fato de Bodinho ter suportado a tortura durante três horas)
Gordinho: Aí, Negão. Não tem aquele amigo que trabalhava na casinha lá dentro? Falou que o moleque (Bodinho) tinha o dinheiro pra perder e valia uns R$ 15 mil, cara. Ele era tudo aquilo mesmo que o X9 falou. O cara confirmou aqui sem saber de nada e falou que tinha pra perder. Acho que esse moleque fez curso com o Rambo. Aquele Moleque ia ser guerrilheiro, só pode (...).
Lopes: O moleque me convenceu, compadre. No início, tudo bem. Mas não é possível alguém agüentar aquilo tudo não. Um merdinha daquele? Agüentar três horas de tortura direto. Não agüenta isso não, velho. Muita coisa pra ele bancar.
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO
Um comentário:
BOM DIA CEL PAUL....ELES TEM QUE FICAR MUITO TEMPO ATRAS DAS GRADES....MAS TEMOS CASOS DE "OFICIAIS" MUITO PIORES E NAO DÃO TANTA IMPORTANCIA !!! SABEMOS QUE TEM MUITOS OFICIAIS ENVOLVIDOS EM MILICIAS, ONDE MATAM E EXTORQUERM MORADORES ( NO MEU VER MUITO PIOR DO QUE EXTORQUIR VAGABUNDOS) E NINGUEM DA TANTA OU NENHUMA IMPORTANCIA !!! SABEMOS DE BOATOS QUE TODO BATALHAO E DELEGACIA RECEBEM DINHEIRO DO JOGO DO BICHO, MAQUINAS CAÇA NIQUEL, COPERATIVAS DE VANS, TRAFICO E AI ???? SERA DIFICIL INVESTIGAR ???? O SENHOR FICOU A FRENTE DA CORREGEDORIA E SABE DO QUE EU ESTOU FALANDO !!! COM OS HOMENS CERTOS( BOA EQUIPE)E EQUIPAMENTOS QUALQUER DENUCIA VERDADEIRA É APURADA...OU SERA DIFICIL ???? SABE CORONEL...POR ISSO QUE ACREDITO EM CORREGEDORIA...NO MEU VER A CORREGEDORIA SO IRÁ FUNCIONAR SE FOR TOTALMENTE " INDEPENDENTE" DAS POLICIAS...QUEM SABE LIGADA DIRETAMENTE AO MINISTERIO PUBLICO ??? " PENSE NISSO , VOTEI NO SENHOR E QUEM SABE NA PROXIMA ELEIÇÃO COM SEU TRABALHO CORRETO O SENHOR NAOP CONSIGA SE ELEGER E FAZER UM PROJETO PARA UMA CORREGEDORIA INDEPENDENTE??? UM ABRAÇO!
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