quarta-feira, 10 de junho de 2009

RIO DE JANEIRO - UM ESTADO QUE ENSINA A MATAR.

O ser humano busca o aprendizado a cada fração de segundo de sua existência. Não ingressando em parâmetros religiosos, podemos afirmar que essa busca se inicia ainda no ventre materno.
Naturalmente, possuímos uma ânsia de viver o máximo possível, com uma vontade de alcançar praticamente a imortalidade, além de buscarmos a perpetuação da nossa existência, através da transferência de atributos genéticos.
Tais verdades nos transformam em receptores de conhecimento, 24 horas por dia, um conhecimento adquirido através de interações ao longo dos processos de ensino-aprendizagem, no curso de nossa existência.
Esgotada essa premissa, em apertadíssima síntese, cada um de nós é um “aluno” na “escola da vida”.
Esse receptor busca os conhecimentos que irão propiciar o seu desenvolvimento intelectual, ético e moral, o tempo todo, portanto, o universo onde ele vive imerso é fundamental para a construção do seu “aprendizado”.
A imersão no universo familiar e social corretos fornecerá as ferramentas adequadas para que cada um de nós, após processamento com a nossa carga genética, possa viver em sociedade e crescer enquanto indivíduo.
Na década de oitenta, no Estado do Rio de Janeiro, uma política de governo tentou promover a imersão das crianças e dos adolescentes, clientes do ensino público, no universo escolar por horário integral.
A idéia era simples, porém genial, evitar a imersão desses alunos no seu universo social, que não oferecia as ferramentas corretas, por muito tempo, em razão de passarem o dia todo na escola.
Lamentavelmente, tal política de governo, não resistiu a dois governantes e hoje, raros são os Centros Integrados de Ensino Público, que mantém algumas de suas características originais.
O resultado é a construção de uma geração de excluídos, que se somou às já existentes, que atualmente precisa ser controlada, cada vez com mais violência, pelas Instituições Policiais, que obedecem a uma ordem repressiva do governo estadual.
E como ocorreu essa construção?
Conforme o tratado, sabemos que o ser humano quer aprender tudo que for possível, durante todo o tempo, no curso desses processos de ensino-aprendizagem ao longo de toda sua vida, que pode ser denominado no conjunto como “um processo contínuo de ensino-aprendizagem”.
Nas comunidades carentes, onde a exclusão da cidadania é quase total, essas crianças e adolescentes, como todas as outras, querem aprender o tempo todo, porém, estão imersas em um universo (uma escola) onde elas percebem que a maneira mais fácil de alcançar os níveis mais altos da sua limitada pirâmide, passa pelo envolvimento com os vendedores de droga da sua comunidade.
Eles sabem que se não sabem jogar bola ou cantar funk, dificilmente serão “o cara” do seu universo, sem passar pela venda de drogas.
Condenadas a essa realidade, essas crianças e esses adolescentes, aprendem (absorvem) durante 24 horas por dia, como se transformar em um olheiro, um fogueteiro, um vapor, um soldado, um gerente e um dono do morro.
Aprendem sobre armas e munições; aprendem a atirar; aprender a vender drogas e aprendem a matar, na defesa de sua vida ou na defesa do seu território.
Eles percebem a Polícia como um inimigo, um inimigo cruel quando não aceita o acordo com o seu mundo.
Percebem ainda os outros (nós) como não pertencentes ao seu universo, peças descartáveis que podem ser utilizadas para a reafirmação de suas masculidades.
Cidadão brasileiro, o Estado Brasileiro ensina a essas crianças e a esses adolescentes a matar.
Em outro artigo, trataremos desse aprendizado homicida tendo como receptores os policiais.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO

Um comentário:

Unknown disse...

Sr. Coronel. Faço minhas as suas palavras. A atividade de segurança pública vai além da esfera repressiva. Não defendo que as polícias devam atuar em áreas que não são de sua competência constitucional, mas antes, que as instituições governamentais assumam suas responsabilidades. Ou melhor ainda, que os representantes eleitos cumpram com a sua palavra efetivando suas promessas de campanha. Parabéns pelo blog. Sou policial civil e seu admirador desde que tive a honra de estar presente a uma palestra sua.