quinta-feira, 14 de outubro de 2010

BLOG COTURNO NOTURNO: OS FALSÁRIOS - DEMÉTRIO MAGNOLI.

BLOG COTURNO NOTURNO:
Quinta-feira, Outubro 14, 2010
Sensus: em 15 dias, diferença entre Serra e Dilma cai 15,3 pontos percentuais, apontando empate técnico. Isso é 1 milhão de votos por dia.
A última pesquisa Sensus mostrava Dilma Rousseff com 53,9% x 34,5% de José Serra, em um improvável segundo turno, já que o instituto dava a fatura como liquidada no primeiro turno. Pois é. Agora Serra aparece com 47,7%,tendo crescido 13,2 pontos percentuais. Dilma, por sua vez, cai para 52,3%, perdendo 1,6 ponto percentual. Com margem de erro de 2,2%, há um empate técnico. Os institutos continuam tentando mostrar, numericamente, que Dilma Rousseff não está perdendo votos. Só não está ganhando. É mais um truque estatístico para enganar o eleitor brasileiro. Aquela velha e batida história de que o voto da Dilma é sólido. O Ibope diminuiu os indecisos para 3%, já a Sensus aumentou para 6,6%. E afirma que 22% ainda podem trocar o voto. Clique na imagem e leia, abaixo, artigo de Demétrio Magnoli sobre "pesquisas eleitorais".
Blog Coturno Noturno
Eis, o artigo de Demétrio Magnoli:
OS FALSÁRIOS
Demétrio Magnoli

Carlos Augusto Montenegro, o presidente do Ibope, profetizou há muitos meses uma vitória folgada de José Serra no primeiro turno. A campanha não havia começado e o Ibope não tinha pesquisas relevantes. O Oráculo falou para bajular aquele que, presumia sua sabedoria política, seria o próximo presidente. Mais tarde, durante a campanha, de posse de inúmeras pesquisas, o Oráculo asseverou com a mesma convicção que Dilma Rousseff venceria no primeiro turno. A bajulação aos poderosos de turno obedece a uma lógica inflexível. Na mesma entrevista, ele sugeriu que a oposição atentava contra a democracia ao repercutir os escândalos no governo. Cada um fala o que quer, nos limites da lei, mas o Oráculo de araque não se limita a isso: ele vende um produto falsificado.
Pesquisas de opinião declaram uma margem de erro e um intervalo de confiança. A margem de erro expressa a variação admissível em relação aos resultados divulgados. O intervalo de confiança expressa a confiabilidade da pesquisa - ou seja, a probabilidade de que ela fique dentro da margem de erro. Na noite de 3 de outubro, o Ibope divulgou as pesquisas de boca de urna para a eleição nacional e para 16 Estados, registradas com margem de erro de 2% e intervalo de confiança de 99%. Das 17 pesquisas, 12 ficaram fora da margem de erro. O intervalo de confiança real é inferior a 30%. Um cenário similar, catastrófico, emerge das pesquisas para o Senado. Há tanta diferença assim entre isso e vender automóveis com defeitos nos freios?
O Ibope não está só. Datafolha, Sensus e Vox Populi não fizeram pesquisas de boca de urna, mas suas pesquisas imediatamente anteriores também não resistem ao cotejo com as apurações. Todos os grandes institutos brasileiros cometem um mesmo erro metodológico, bem conhecido pelos especialistas. Eles usam o sistema de amostragem por cotas, que tenta produzir uma miniatura do universo pesquisado. A amostra é montada com base em variáveis como sexo, idade, escolaridade e renda. Isso significa que a escolha dos indivíduos da amostra não é aleatória, oscilando ao sabor de variáveis arbitrárias e contrariando os princípios teóricos da amostragem estatística.
O Gallup aprendeu a lição depois de errar na previsão de triunfo de Thomas Dewey nas eleições americanas de 1948. Venceu Harry Truman e o instituto mudou sua metodologia, adotando um plano de amostragem probabilística, que gera amostras aleatórias. Quase meio século depois, os institutos britânicos finalmente renunciaram à amostragem por cotas. O copo entornou em 1992, quando as pesquisas baseadas na metodologia furada previram a vitória trabalhista, mas triunfou o conservador John Major. Na sequência, uma equipe de especialistas identificou o problema e apresentou a solução. Os institutos brasileiros conhecem toda essa história. Não mudam porque a metodologia atual é mais prática e barata. Vendem gato por lebre.
A amostragem por cotas não permite calcular a margem de erro. Os institutos "resolvem" a dificuldade chutando uma margem de erro, que exibem como fruto de cálculo rigoroso. Como as eleições brasileiras costumam ter nítidos favoritos, eles iludem deliberadamente a opinião pública, cantando acertos onde existem, sobretudo, equívocos. Não é um fenômeno novo. Jorge de Souza, no seu Pesquisa Eleitoral: Críticas e Técnicas (Editora do Senado, 1990), já registrava que 16 das 23 pesquisas Ibope referentes às eleições estaduais de 1986 se situaram fora da margem de erro - o mesmo desastroso intervalo de confiança, em torno de 30%, verificado neste 3 de outubro.
Nem todos os institutos são iguais. O Datafolha conserva notável isenção partidária, embora também utilize o indefensável sistema de amostragem por cotas. O Oráculo do Ibope anda ao redor dos poderosos, sem discriminar partidos ou candidatos, farejando oportunidades em todos os lados. Marcos Coimbra, seu congênere do Vox Populi, pratica uma subserviência mais intensa, porém serve apenas a um senhor. Durante toda a campanha, o Militante assinou panfletos políticos governistas fantasiados como análises técnicas de tendências eleitorais. Dia após dia, sem descanso, sugeriu a inevitabilidade do triunfo da candidata palaciana no primeiro turno. Sua pesquisa da véspera do primeiro turno, publicada com fanfarra por uma legião de blogueiros chapa-branca, cravou 53,4% dos votos válidos para Dilma Rousseff. Errou em 6,5 pontos porcentuais, quase três vezes a margem de erro proclamada, de 2,2%.
Pesquisas, obviamente, não decidem eleições. Mas elas têm um impacto que não é desprezível. Sob a influência dos humores cambiantes do eleitorado, supostamente captados com precisão decimal pelas pesquisas, consolidam-se ou se dissolvem alianças estaduais, aumentam ou diminuem as doações de campanha, emergem ou desaparecem argumentos utilizados na propaganda eleitoral, modifica-se a percepção pública sobre os candidatos. Os institutos comercializam um produto rotulado como informação. Se fosse leite, intoxicaria os consumidores. Sendo o que é, envenena a democracia.
Beto Richa, o governador eleito em primeiro turno no Paraná, obteve da Justiça Eleitoral a proibição da divulgação de pesquisas eleitorais que não o favoreciam. A censura é intolerável, principalmente quando solicitada por alguém que se comprazia em dar publicidade a pesquisas anteriores, nas quais figurava à frente. Ele poderia ter usado o horário eleitoral para expor a incúria metodológica dos institutos e o lamentável papel desempenhado por alguns de seus responsáveis, como o Oráculo e o Militante. A opinião pública, ludibriada a cada eleição, encontra-se no limiar da saturação. Mais um pouco, aplaudirá o gesto oportunista de Richa e clamará pela censura. Que tal os institutos agirem antes disso, mesmo se tão depois do Gallup?
Ah, por sinal, qual é mesmo a taxa de aprovação do governo Lula?
Sociólogo, é Doutor em Geografia Humana pela USP.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO

5 comentários:

Anônimo disse...

Blog do Claudio Humberto - 14/10/2010

No buraco.

Se operação-resgate de mineiros fosse no Brasil, o governo faria “licitação emergencial”, vencendo os de sempre (mais 6% de comissão, claro). A cápsula emperraria e Lula discursaria na boca do buraco.
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Alguém discorda ou duvida??

Anônimo disse...

Excelente análise da conjuntura do Prof. Demétrio Magnoli.
Fez uma crítica elegante, pois o que qualquer um vê é que os institutos de pesquisa viraram "bu$ine$$".

Anônimo disse...

Reprodução do ex-blog do César Maia.

AGORA DILMA TRANSFERE A PARADA GAY PARA NOVEMBRO!

A Parada Gay sempre foi em setembro, no Rio. Cabral -seu entusiasta, participando sempre do beijaço- com temor ao desgaste juntos aos evangélicos e católicos, a transferiu para outubro. Mas não pensava que haveria segundo turno para presidente. Agora, a pedidos da campanha de Dilma, Cabral pediu e conseguiu transferir a Parada Gay para novembro, dia 14. Temor total ao voto conservador, tão importante o foi no primeiro turno. Cabral e Dilma estão escondendo a Parada Gay no armário.

SD PMERJ disse...

CÉL PAUL, BOA NOITE, COMO VOTAR EM JOSÉ SERRA SE ELE É SABIDAMENTE CONTRA A PEC 300 E O PRONASCI, NÃO ENTENDO, DILMA É CONTRA A PEC 300 MAS NOS DEU O PRONASCI, UMA ESMOLA É VERDADE, MAS QUEM ESTÁ MORRENDO DE FOME ACEITA QUALQUER COISA.
ABRAÇOS!
A LUTA CONTINUA!

Paulo Ricardo Paúl disse...

Grato pelos comentários.
Caro Sd PMERJ:
Nunca soube que Serra fosse contra o PRONASCI, mas soube sobre a PEC. Penso que a oposição era com relação a equiparação com o DF e não no modelo atual, um piso salarial.
Eu entendo sua posição, mas sou contra todas as gratificações. Sempre me manifestei assim, inclusive quando recebia na ativa. Temos que lutar por salários. Todas as bolsas são enganações.
Juntos Somos Fortes!