Vamos em nossas mentes, voltar no tempo e que possamos nos imaginar nos idos dos anos setenta, mais precisamente no ano de 1973.
Como muitos companheiros aqui presentes, éramos jovens cheios de energia, idealismo brotando nos poros e demonstrávamos alegria e ansiedade.
Sentíamos o então Estado da Guanabara chamando por nós como voluntários.
Dias de verão.
Sol escaldante.
Filas intermináveis para isso, para aquilo, mas passavam despercebidas, afinal o que importava é que estávamos alegres e alí já se formava o espírito de camaradagem que se moldaria ao longos dos anos!
CFAP radiante nos recebendo.
Fazenda secular!
Hoje tudo retorna em nossas mentes como num filme nostálgico.
31 de Voluntários.
O vibrante flandú.
A figura imponente do saudoso Sargento Padilha com sua voz de comando inconfundível e rouca!
O Capitão Raimundão com seu físico perfeito e voz vigorosa.
O tenente Horsae, ser humano correto, educado, um altruísta perfeito.
O tenente Modesto, o Sargento Amichi, Sargento Abreu, o Capitão Bastos, comandante da Cia e muitos outros que se perderam no tempo da memória.
Alí, começávamos a formar como aço, o verdadeiro amor a Pátria, a camaradagem e a responsabilidade de dar a vida se preciso for, "servir e proteger!"
Um ano interminável de preparação.
As famosas quartas-feiras.
Depois de formados, as famílias alegres, flashes espocando, risos , abraços, despedidas e finalmente, condução aos Batalhões escolhidos. No meu caso, o então 7o BPM, atual 9o BPM.
Área difícil, 10% das favelas concentradas naquela área, mas o que importava? Afinal éramos Soldados PM, sim senhor!
Como ainda é hoje, família intranquila.
Serviço difícil.
Haviam vestígios da ditadura militar. Anos difíceis
Folgas? Quase nunca. Muitos extras. Efetivo pequeno. Porém nem tudo estava perdido, o salário compensava.
Salário digno e merecido.
Quantos sonhos.
Quantos companheiros sacrificados compondo a "Patrulha da Saudade", lugar que até hoje existe no 9o BPM, dedicado àqueles que muito cedo foram ceifadas suas vidas e interrompidos sonhos prematuramente!
Depois as provas dificílimas para o CFC, então realizados no Maracanã e graças ao meu Bom Deus que me protegia de tudo e me chamava para seu exército divino, mas eu não O ouvia, não tinha tempo!
Um ano depois, após as provas para o CFC, numa noite ao assumir o serviço de motorista de RP, fomos então comunicado pelo Oficial de Dia, o então Tenente Adilson Anáide, que me chamava de cabo. Fui informado que havia sido aprovado em último lugar da OPM.
Senhor Cabo!
Comandante de RP.
Duas pequenas divisas, mas quanto orgulho!
Mais uma vez o retorno ao nosso querido CFAP.
Reencontro com os velhos companheiros. Já sentíamos falta de um ou outro!.
Mais um ano de preparação.
Pelotões perfeitos formados às sextas-feiras, quando o então Tenente João Carlos examinava pelotão por pelotão e sentia um leve tremor quando o mesmo se aproximava, pois se o cabelo ou o uniforme não estivesse no padrão, ficávamos de castigo no final de semana na Fazenda.
Grande formador de caráter.
Personalidade forte e honesta.
Pela antiguidade, fui indicado para xerife do Pelotão.
Mais vibração.
Goma no mug.
Cada Pelotão querendo aparecer mais que o outro.
Paradas diárias e tome polígrafos.
Até que, sendo informado de que, quem alcançasse até o quinto lugar na prova de classificação, ficaria isento da prova de seleção para o próximo CFS. Fato levado imediatamente ao conhecimento do Pelotão.
Noites insones de estudo.
Família unida ajudando.
Esposa e filhos cobrando atenção.
Então, quase no final do curso, a notícia compensadora.
Obtive o quinto lugar, aliás todos os primeiros lugares foram do Pelotão.
Cervejadas.
A volta triunfal ao CFAP.
"A Lei acima de tudo".
Mais estudo.
Finalmente aprovação difícil, suada.
Retorno vibrante à Unidade.
As continências recebidas, mais comemorações.
Sr. Sargento.
Comandante de pequena fração da tropa.
Serviço de PATAMO, mais preocupação da família e a temida "patrulha da Saudade" crescendo!
Nos idos do ano de 1987, ao ser informado da criação da então 4a CIPM em Teresópolis e que precisava de sangue novo, decidi solicitar a pedido, transferência. Criada em 30 de janeiro de 1987, cheguei em março daquele ano cheio de gás.
Terceiro Sargento.
E ao chegar numa tarde chuvosa e fria para apresentar-me, deparei-me com o SGT Paulo Roberto, nosso querido Paulo Mineiro que me alertava:" Vem devagar porque aqui é diferente do 9BPM!
Conselho sensato, mas não obedeci e sofri na carne e no afastamento da família, com punição imposta pelo saudoso Cel. Divaldo, ausente deste mundo tão cedo e que nas horas de folga, era um excelente jogador de buraco. Que Deus o tenha!
Serviço burocrata.
O 1o SGT Mendonça, treme terra valente me esperando na P/1. Porém ele é prova de que as folhas de alterações, pela primeira vez em anos, foram atualizadas!
P/1, P/3, P/5 e Secretário eventual.
Comandante Major Celso Luiz Pimentel Novaes, Oficial exigente.
Fazia uns dez ofícios, nunca estava bom!
Aprendizado para o resto da vida.
Bom Comandante, humano e fiel.
Os anos pasando implacavelmente se fazendo sentir. Os ossos estalando por qualquer coisa. Uma dor na cabeça do fêmur. As vistas embaçando. Os filhos crescendo, cobrando atenção.
"Fazer cumprir a Lei".
Velhos companheiros ausentes nas comemorações.
O passarinheiro Ladeira, não fazi mal a ninguém, morto covardemente.
O Sardinha, o Moisés, o Zé Carlos, policial duro mas amigo leal, o Mussum e em especial o meu companheiro de viagens, o bom cristão Senhorinho.
E a Patrulha da Saudade nos perseguindo!
Até que, após assinar requerimento, numa tarde fria e chuvosa, recebi do então Comandante Major Peixoto, outro amigo, a notícia de que, se quizesse, não precisava mais vir ao quartel. Havia sido publicada minha reforma. Estava dispensado do serviço.
Fui vagarosamente , o tanto quanto minha perna prejudicada permitia, para o alojamento frio e vazio, e lá sozinho, vi por alguns minutos toda minha vida profissional passando diante dos meus olhos e senti, confesso, vontade de chorar!
Ali estava eu, havia cumprido com o meu dever, dei o melhor de mim, cultivando amizades, nem sempre agradando, alquebrado, doente da perna esquerda, uma pálida fotografia daquele jovem então com 26 anos de vida, cheio de virilidade e destemor!
Doei meu fardamento a pedidos, relembrando naquele momento, peça por peça, cada símbolo o que representou para mim.
Despedi-me de alguns companheiros que alí se encontravam, desci a rampa, ainda não acreditava como o tempo passou e eu não me dei conta!
Tudo passou muito rápido.
Ultrapassei o portão.
Olhei para trás e meus olhos encheram-se de lágrimas!
Um Sd PM na sua guarita, olhava-me admirado sem nada entender!
Resoluto, voltei-me para a rua seguindo o meu caminho, enfim outra missão se apresentava.
Curiosamente a chuva havia cessado e vislumbrava-se uma bela tarde!
Hoje, com 64 anos, cuido dos meus netos queridos e tento me aproximar cada vez mais dos meus filhos.
Na época, não havia tempo!
Cuido com mais carinho de minha querida e dedicada esposa, pois sem a mesma a meu lado, nada teria acontecido de bom em minha vida. Tento recuperar o tempo desperdiçado junto dos meus. Este ano completaremos 37 anos de casados.
Retorno a minha vocação através do batismo e creio firmemente de que tudo o que passei, foi obra e graça do meu Bom Deus.
Tornei-me um GUERREIRO DA PAZ!
Abraços fraternos,
TENENTE DE POLÍCIA CELSO CHAGAS.
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO
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