quinta-feira, 30 de abril de 2009

O EX-POLICIAL E A "CIDADE DAS BALAS PERDIDAS".

O DIA - IQUE
O presente artigo terá como alvo o ex-policial, o “demitido” da Polícia, não importando a que instituição policial ele tenha pertencido.
Preliminarmente, devemos avançar em algumas considerações.


No Reino Encantado do Brasil, o poder político tem uma visão imediatista e focal, diferindo da nossa iniciativa privada que nada fica a dever para o mundo civilizado.
O nosso homem público é pré-histórico, no exercício da função, pois na sua vida particular é um administrador de mão cheia.
Ele pensa que pode solucionar tudo, que suas idéias mudarão a realidade e a própria existência humana, isso, tratando dos políticos que não possuem a terrível visão inteiramente seletiva, que determina que tudo acabe no seu “bolso”.
A visão a curtíssimo prazo e a falta de uma visão holística, não permite que ele faça a indispensável análise sistêmica de cada fato.
Ele não entende que precisa trabalhar em um ambiente multidisciplinar e que a vontade do povo deve ser ouvida e respeitada.
Desconhece o planejamento, indispensável em qualquer ação, nem mesmo fixa metas imediatas, de curto, médio e longo prazo, medidas básicas.
O administrador público não estabelece metas que superem o seu tempo de governo.
Pergunte a um Secretário de Saúde quais as metas da sua área para os próximos 10 anos?
Ficará sem resposta ou obterá uma resposta evasiva, pois eles só pensam em comprar, nunca em investir no patrimônio humano.
Cidadão brasileiro, quantas reportagens você já assistiu sobre “hospitais fantasmas”, monstrengos inacabados, após décadas de obras.
O hospital do Fundão é um exemplo evidente, um esqueleto gigantesco, um monumento à incompetência, que será derrubado.
E o nosso dinheiro?
Vira poeira e enche bolsos.
E os incontáveis aparelhos caríssimos que nunca Chegaram a ser instalados?
Uma vergonha e um hino à impunidade, pois ninguém é responsabilizado.
Um outro exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, o Prefeito César Maia (DEM) construiu um obelisco em Ipanema, alguns não gostaram, o Prefeito Eduardo Paes manifesta a possibilidade de derrubá-lo, e o dinheiro público, quem irá devolver aos cofres públicos, aos nossos cofres?
E, a cidade da música, inaugurada e interditada...
Isso é cruel para o país e para cada cidadão brasileiro.
Obviamente, além de tais limitações dos nossos representantes, devemos somar à ineficiência do setor público, os interesses pessoais de boa parte desses agentes, muitos envolvidos em desvios de conduta – a corrupção -, é o exemplo de cada instante.
Nunca se roubou tanto na história do Brasil, isso é uma conquista Petista – dos “guardiões” da ética...
O nosso homem público não entende que não investir em educação, especificamente nos profissionais de educação, significa condenar o futuro do país.
Na área da saúde pública, ele desconhece que médicos e enfermeiros, desmotivados e desgastados pelos muitos empregos, condenam pessoas ao risco de morte, em cada hospital público.
No tocante à segurança pública, os nossos administradores públicos não percebem que remunerando muito mal; recrutando e selecionando mal; treinando mal e assim desqualificando e desmotivando o profissional de segurança pública, ele condena toda a sociedade ao risco de morte em cada esquina.
Ele não entende que a “tática do enfrentamento”, do “confronto armado”, não é sinônimo de uma política de segurança pública.
Ontem, uma menina de 3 anos morreu no Rio de Janeiro, vítima de mais uma BALA PERDIDA.
O Rio deixou de ser a Cidade Maravilhosa, passou a ser a Cidade das Balas Perdidas.
E o ex-policial?
O poder público contribui para o envolvimento dos policiais em práticas ilegais, tendo em vista que, conhecendo a realidade das ruas, insiste em pagar ao “fiscal social” um salário famélico, o empurrando para as facilidades da corrupção.
E, por favor, não me venham com aquela baboseira que o salário não influi na corrupção no serviço público, porque existem servidores que ganham muito bem e são os maiores corruptos.
Sem dúvida, isso é fato, entretanto não podemos esquecer que toda ação humana é resultado da VONTADE DE PRATICÁ-LA e a OPORTUNIDADE DE PRÁTICÁ-LA.
Assim sendo, considerando que um policial tem inúmeras oportunidades de se corromper, ao longo de cada dia de trabalho, pois os corruptos ativos estão em todos os lugares e a qualquer hora, quanto menos ele ganhar, mais próximo estará das facilidades, se corrompendo por tostões, enquanto outros se corrompem por milhões.
O “fiscal social” ganha por dia R$ 30,00 para arriscar a própria vida, o equivalente a dois lanches em uma lanchonete de “fast food”.
O poder público não investe nas CORREGEDORIAS, que sobrevivem do idealismo dos seus integrantes, que arriscam a vida e nunca são lembrados na hora das gratificações.
Eu sou contra gratificações, já deixei claro nessas linhas, porém, se o caso é gratificar alguém, a prioridade deveria ser dos heróis das Corregedorias.
E o ex-policial?
A ineficácia do poder público em promover uma fiscalização adequada e eficiente, faz com que um policial permaneça muito tempo na instituição, antes de ser “pego” na conduta desviante e demitido.
A polícia custa a “pegá-lo” e quando o faz, ele já está completamente envolvido com o crime e suas facilidades.
Sai da Polícia e entra no outro lado.
Resultado, o Estado termina por preparar um “bandido”, que tudo sabe sobre a Polícia e os policiais, inclusive, conhece bem a rede criminosa infiltrada nas instituições policiais, o que facilita muito as suas ações (cobertura).
O ex-policial é um fruto do Estado ineficaz.
Como o analfabetismo funcional de 70% dos brasileiros é o fruto do descaso com os professores.
E, como incontáveis doenças, são o fruto da falta de saneamento básico e a falta de acesso à água potável.
Encerrando, não poderia de deixar claro que existem ex-policiais que não são envolvidos com a criminalidade, foram excluídos pela reincidência de faltas administrativas (inadaptação à vida militar) e muitos pedem “demissão” em virtude dos baixos salários.
Portanto, nem todo ex-policial é um bandido, ele pode até ter sido vítima de uma injustiça.
Devemos ter cuidado quando citamos alguém como “ex” (qualquer profissão), pois agindo assim penalizamos a Instituição, além do profissional.
JUNTOS SOMOS FORTES!

PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO

Um comentário:

Alexandre, The Great disse...

Concordamos com quase tudo, Cel Paúl!
Exceto no tocante ao "desconhecimento" do governante sobre as baixas remunerações pagas a professores, saúde e segurança como fator de depreciação dos serviços.
Ao contrário, o governador sabe sim! Sabe que o serviço será ineficaz, contudo a remuneração do servidor não reverterá diretamente para o seu bolso, ao contrário da construção de prédios - muitas vezes sem licitação - que rendem "generosas" propinas das empreiteiras.
Portanto, sabem... e sabem muito bem. É porque são ladrões e canalhas mesmo, por isso não prestigiam o servidor público.