sábado, 8 de janeiro de 2011

OS NÚMEROS DA GLOBO: LENTA DECADÊNCIA - RODRIGO VIANA

BLOG DO ESCREVINHADOR
OS NÚMEROS DA GLOBO: LENTA DECADÊNCIA.

por Rodrigo Vianna
Altamiro Borges, aqui, e Paulo Henrique Amorim, aqui, destacam fatos que demonstram a decadência da TV Globo.
O texto de Miro mostra que o Faustão – em crise de audiência (e de faturamento?) – demitiu a banda de músicos. E que o “Fantástico” enfrenta a pior crise de sua longa história. O Paulo Henrique relata como a audiência do “JN” encolheu em dez anos: o jornal apresentado por Bonner perdeu um de cada quatro telespectadores de 2000 para 2010 – são números oficiais do IBOPE.
São fatos. Não é bom brigar com eles. Mas é bom analisar esse proceso com cautela.
Quando entrei na TV Globo, em 95, o “JN” dava quase 50 pontos de audiência. Era massacrante. O “Globo Repórter” dava perto de 40 pontos.
Em 2005/2006, quando eu estava prestes a sair da emissora, o “JN” já tinha caído pra casa dos 36 ou 37 pontos (havia dias em que o jornal local conseguia mais audiência do que o principal jornal da casa) e o “Globo Repórter” se segurava em torno de 30 ou 32 pontos (programa que desse menos de 30 abria crise, era preciso sustentar a marca dos 30).
Esse tempo ficou pra trás. O “JN” já caiu pra menos de 30 pontos. E o Globo Repórter hoje patina em 24 ou 25 – dizem-me.
O “Jornal da Record” dobrou de audiência. Em São Paulo chega a 10 pontos, em outros Estados passa dos 12 ou 13. Nas manhãs, a Globo e a Record (com o SBT um pouco atrás) brigam pau a pau. E a Record vence em muitos horários matutinos, há meses. Aos domingos, a Globo também sofre. A grande jóia da coroa da emissora carioca é o horário nobre durante a semana: novelas+ JN. Nesse caso, os números revelam que o domínio da Globo se reduz, ainda que de forma lenta.
Muita gente espera o dia em que a Globo vai passar por uma hecatombe e deixará de ser a Globo. Acredito que isso não vai acontecer: a queda será lenta, negociada, chorada…
A Globo poderia ter quebrado ali pelo ano 2000. No primeiro governo FHC, Marluce (então diretora geral) tivera duas idéias “brilhantes”: tomar dinheiro emprestado, em dólar, para capitalizar a empresa de TV a cabo do grupo; e centralizar as operações numa “holding”. Ela acreditou nas previsões do Gustavo Franco e da Miriam Leitão, de que o Real valeria um dólar para todo o sempre! Passada a reeleição de FHC, em 98, o Brasil quebrou, veio a crise cambial e a Globo ficou pendurada numa dívida em dólar que (de uma semana pra outra) triplicou.
A dívida era da TV a cabo mas, como Marluce e os geniais irmãos Marinho tinham centralizado as operações na holding, contaminou todo o grupo. A Globo entrou em “default”. Quebrou tecnicamente. Poderia ter virado uma Varig. Mas conseguiu (sabe-se lá com quais acordos e pressões políticas) equalizar a dívida.
Quando saiu da crise, em meados do primeiro mandato de Lula, a Globo (o jornalismo) estava já sob os auspícios de Ali Kamel – o Ratzinger. Ele conduziu a empresa para a direita: contra as cotas nas universidades, contras as políticas de combate ao racismo (“Não somos racistas”, diz), contra o Bolsa-Família. O grande público não percebe isso de forma racional. Mas (mesmo que de forma despolitizada) sente que a Globo ficou contra todos os avanços sociais dos últimos 8 anos. Lentamente, foi-se criando uma antipatia no público. Ouve-se por aí: a Globo não fica do lado do povão.
Não é à toa que um fenômeno novo surge nas grandes cidades, como São Paulo. Nas padarias, restaurantes populares, pontos de táxi, era comum ver televisores ligados sempre na Globo. Isso há 7 ou 8 anos. Acabou. De manhã, especialmente, a programação da Record e do SBT (e às vezes também dos canais a cabo) entra nas padarias, ocupa os lugares públicos.
Essa é uma mudança simbólica.
Mas é bom não brigar com outro fato: boa parte do público segue a ter admiração e carinho pela progamação da Globo. E há motivos pra isso, entre eles a qualidade técnica. A iluminação, a textura da imagem, o cuidado com o bom acabamento. Tudo isso a Globo conseguiu manter – apesar de muitos tropeços aqui e ali.
Fora isso, apesar de toda crítica que façamos (e eu aqui faço muito) ao jornalismo global, é bom não esquecer que na TV da família Marinho há sim ótimos profissionais, gente séria que tenta (e muitas vezes consegue) fazer bom jornalismo.
Esse capital – qualidade técnica – a turma do Jardim Botânico tem conseguido manter. O que não ajuda: a política editorial, adotada por exemplo durante a posse de Dilma. Ironias desmedidas, falta de compreensão do momento histórico e uma arrogância de quem se acha no direito de “ensinar” como Dilma deve governar. A seguir nessa toada, a decadência será mais rápida…
E o que mais pode entornar o caldo por lá? Grana.
A Globo tem custos altíssimos de produção. Quem conhece de perto o Projac diz que aquilo é uma fábrica de boas novelas e minisséries, mas também uma fábrica de desperdício. Empresa familiar, que cresceu demais. Cada naco dominado por um diretor, como se fosse um feudo. Até hoje a Globo conseguiu manter essa estrutura porque ficava com uma porção gigante das verbas públicas de publicidade (isso mudou com Lula/Franklin) e com uma porção enorme da publicidade privada: o BV – bônus em que a agência é “premiada” pela Globo se concentrar seus anúncios na emissora – explica em parte essa “mágica”; outra explicação é que a Globo detem (detinha!?) de fato fatia avassaladora da audiência.
Com menos audiência, as agências (ou as empresas anunciantes, através das agências) podem pressionar para que o valor dos anúncios caia. Se isso acontecer, a Globo vai virar um elefante branco. Impossível manter aquela estrutura verticalizada se a grana encurtar.
Qual o limite que a Globo suporta? Difícil saber. Mas dispensa da banda do Faustão é um indicador de que a água pode estar subindo rápido.
Outro problema sério: o risco de perder a transmissão do futebol, ou de ter que pagar caro demais para mantê-lo.
Tudo isso está no horizonte. E mais: a entrada das teles no jogo. O Grupo Telefônica, por exemplo, fatura dez vezes mais que a Globo. Como concorrer? Só com regulação do mercado, assegurando nacos para os proprietários nacionais.
Ou seja: a Globo – que é contra a regulamentação (“censura”, eles bradam) por princípio – vai ter que pedir água, vai ter que negociar alguma regulação pra conter os estrangeiros. E aí pode entrar também a regulação que interessa à sociedade: critérios para concessões, e também para evitar o lixo eletrônico e os abusos generalizados na TV. Regulação, como em qualquer país civilizado. Até aqui a Globo tentou barrar esse debate. Mas vai ter que aceitá-lo agora, porque ficou mais frágil.
De minha parte, não torço pra que aconteça nenhuma “hecatombe”, nem que a Globo quebre. Mas para que fique menos forte, e que o mercado se divida.
Parece que é isso que está pra acontecer. Seria saudável para o Brasil.
COMENTO:
Não existe o que acrescentar, porém gostaria de lembrar que a mídia tem uma função social, um DEVER de informar corretamente ao público, algo que parece impossível de conciliar com os interesses comerciais, pois a mídia pautada pelo governo (seja ele qual for) acaba mentindo para o povo, formando uma opinião pública equivocada sobre o que realmente está acontecendo.
No Rio, o exemplo característico dessa realidade é a abordagem das UPPs feita pela mídia pautada, que só apresenta as vantagens e nunca as várias desvantagens. O resultado é que o povo apoia as UPPs, esperando viver em uma delas, algo que na quase totalidade das comunidades carentes NUNCA acontecerá.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO

6 comentários:

Ricardo Oscar Vilete chudo disse...

Concordo em genero numero e grau com o Sr., Cel Paul, a sociedade desperta, mesmo que tardia e demoradamente e, aos poucos saberá separar o joio do trigo.

Daniel Gurjão disse...

Coronel,

Muito cuidado com esses textos criticando a Rede Globo, principalmente vindo de ex-funcionários - mandados embora por falta de competência - que agora estão na Rede Record, o grupo de mídia que hoje mais recebe benefícios do Governo Federal e, como não poderia deixar de ser, é o mais puxa-saco de todos.

Primeiro: não foi só a audiência da Globo que caiu. Todas as emissoras perderam audiência, e a razão disso é o crescimento da internet no País. Cada vez mais as pessoas ligam menos a TV e preferem se entreter e se informar pela rede (eu mesmo abri mão de ter televisão no quarto há quase 4 anos). Só que independentemente disso, o "share" - percentual da audiência - da Globo continua altíssimo. E a razão disso também é um tanto óbvia: a programação da Globo ainda é sim muito superior à da concorrência em todos os aspectos, e não só o "técnico" como o ex-jornalista quer que nós acreditemos.

Segundo: o segredo do crescimento da audiência da Record nos últimos anos é a decisão que eles tomaram de imitar a Globo em rigorosamente tudo: telenovelas, telejornais, esportes... Mesma grade, mesmas atrações, mesmos temas e até vários ex-funcionários globais. Mas a Record já chegou ao limite do crescimento, porque a maioria dos telespectadores ainda prefere consumir a Rede Globo original do que a sua versão genérica, com atores e jornalistas de segunda mão.

Terceiro: se o Domingão do Faustão estivesse em crise, seu apresentador não seria o profissional mais bem pago do show-business (e o de maior credibilidade também), recebendo só de patrocínios de empresas privadas mais de 5 milhões de reais por mês! Nem falarei do faturamento do BBB, também todo ele vindo de patrocínios privados, comparado ao qual a "Fazenda" realmente parece uma roça quase virando um brejo... Será que a Record pode dizer de onde vem o seu faturamento?

Paulo Ricardo Paúl disse...

Grato pelos comentários.
Vou publicar as suas explicações.
Juntos Somos Fortes!

Anônimo disse...

Pául este texto só de ter o dedo sujo de P.H. Amorim não tem credibilidade alguma. Até comentei hoje o fato no twitter. Uma repórter do Fala Brasil entrevistava um morador da Z.Leste de SP, e ele disse que residia na localidade há 32 anos e que durante este tempo presenciou várias enchentes. A repórter lhe indagou, se esta tinha sido a pior. Ele disse que a pior tinha sido no tempo da Marta (Marta Suplicy ex. prefeita de SP pelo PT), a repórter não deixou nem o entrevistado concluir a sua fala cortou subitamente a transmissão.
Isso mostra todo o partidarismo da Record pró PT. O jornalismo daquele canal é bajulador da cleptocracia e do desgoverno Lula.

Paulo Ricardo Paúl disse...

O texto não é de PHA, cabe destacar.
Na campanha eleitoral percebi a Record e o SBT pró-Lula e a Globo pró-Serra.
Como tudo no Brasil, a mídia precisa sofrer uma grande revolução.
Juntos Somos Fortes!

Anônimo disse...

SBT pró Lula? O Carlos Nascimento quase todo dia malhava o Lula no SBT Brasil. Tudo bem que teve aquele episódio infeliz da bolinha de papel, que foi na semana que o Silvio Santos visitou o (...), digo Lula em Brasília, mas depois que ele (Lula) não fez a doação prometida para o teleton e nem apareceu para abrir a campanha como tinha convidado com o SS, o SBT malha os PTralhas direto.
A BAND que fez oposição durante toda a campanha eleitoral e depois da vitória da Dilma passou a bajular os PTralhas fez até um especial do (...) com o indigesto título 80 anos em 8