REVISTA VEJA
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
01/12/2010 - às 17:15
Viram? Eu estava certo: “Não tenho a pretensão de acabar com tráfico no Rio”, diz Beltrame
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
01/12/2010 - às 17:15
Viram? Eu estava certo: “Não tenho a pretensão de acabar com tráfico no Rio”, diz Beltrame
Muito antes de a bandidagem botar pra quebrar no Rio, escrevi aqui que as UPPs eram unidades da polícia destinadas a acomodar duas forças: o estado e o tráfico. Um monte de gente reclamou: “Mas o que você tem contra essa prática?” Já escrevi vários textos a respeito. Leiam o que vai no Estadão Online. Volto em seguida:
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse nesta terça-feira que não tem a pretensão de acabar com o tráfico de drogas no Estado. “Minha pretensão não é acabar com o tráfico: ele existe em Londres, em Paris. O que é inaceitável é a pessoa ser vigiada, é levar o filho na escola e ver um homem com um fuzil”, afirmou Beltrame. Nos holofotes desde a semana passada, quando começou a megaoperação policial no Rio, Beltrame respondia às perguntas de usuários do Twitter. Os participantes - cerca de 300 no auge da transmissão - enviavam as mensagens por escrito ao secretário. Uma assessora então as selecionava e as lia a Beltrame, que respondia ao vivo, transmitido por uma “twitcam”.
A maior parte das mensagens parabenizava o secretário pelas operações, mas também houve perguntas críticas, como uma que questionava quais eram as garantias de que os traficantes expulsos das favelas não voltariam a se armar. “Não existe garantia. Ninguém vai assinar um cheque em branco. Mas não fazer (a operação) sob a alegação de que o traficante vai voltar é muito fácil. A gente apresentou uma solução concreta, e agora é outra realidade para manter isso”, respondeu Beltrame.
Formação
O secretário afirmou que a ocupação de áreas ainda controladas por traficantes levará tempo. “Temos que ir por partes, formar policiais com outro perfil, de polícia comunitária, e aí entrar nas comunidades. Isso demanda tempo, não podemos fazer de forma atabalhoada.” Segundo ele, o “Rio ficou muito tempo sem se preocupar com a polícia, com as academias sem nenhuma lógica para fazer concursos”.
O secretário afirmou que a operação policial em curso no Estado, que resultou na ocupação do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, tradicionais redutos de facções criminosas, aconteceu 14 meses antes do previsto. Segundo Beltrame, os planos foram antecipados porque as forças de segurança perceberam que grupos criminosos haviam se articulado para promover ataques por toda a cidade, em resposta à implantação de postos policiais em favelas anteriormente controladas por traficantes. Beltrame também tratou das denúncias de abusos cometidos nas favelas recém-ocupadas - alguns moradores afirmam que tiveram o patrimônio danificado por policiais nas revistas.
Ele disse que as forças de segurança estão à procura de famílias que se queixaram das ações e que, se comprovadas as irregularidades, os policiais serão punidos e as famílias poderão ser ressarcidas. “Mas precisamos de denúncias sérias. Se só levantar a bola e não provar, vamos ficar no achismo, no denuncismo.” O secretário ainda afirmou que a polícia não tem condições de evitar que traficantes fujam para outros Estados. “Tem muita gente (criminosos) daqui que vai para o Nordeste, e temos que ir lá fazer as prisões, mas não temos condição de não permitir que vão para lá”.
Forças Armadas
Nesta terça-feira, o governo do Rio formalizou um pedido ao Ministério da Defesa para que as Forças Armadas permaneçam atuando no Estado até outubro de 2011. O presidente Lula aceitou o pedido, dizendo que os militares ficariam à disposição do Estado o tempo que fosse necessário para garantir a paz. O prazo de 11 meses, maior do que o previsto inicialmente, foi adotado “por precaução”, segundo o governador Sérgio Cabral, que disse que o período será usado para formar policiais para atuar em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Complexo do Alemão e na favela de Vila Cruzeiro. Na segunda-feira, Cabral havia dito que solicitaria a presença de pelo menos 2 mil militares para as operações de pacificação do Complexo do Alemão.
Voltei
Está aí. Também já me antecipei a esta que seria a abordagem óbvia de Beltrame tão logo ficasse claro que o tráfico opera normalmente nas favelas “ocupadas” pelas UPPs. O que quer dizer “normalmente”? O bagulho está sendo vendido, mas os traficantes não estão nas vielas de fuzis na mão. A presença da bandidagem não é ostensiva. Esse ramo da economia passa a operar com uma mão-de-obra mais enxuta, e a relação com o poder público passa a ser mais “honesta”, né? Diminuem as chances de extorsão da polícia, uma vez que as incertas nos morros tornam-se desnecessárias, e o aparato de segurança pode ser menor.
Muito bem: tráfico de drogas existe em todos os países; ele só não pode é ser o governo local, como era na Vila Cruzeiro e no Alemão; como ainda é na Rocinha e em centenas de outras favelas — outro tanto é assombrado pelas milícias, formadas por policiais e ex-policiais. Sei disso. Só que as coisas não são assim tão simples.
Uma coisa é existir o tráfico de drogas, e a polícia tentar combatê-lo: sabendo onde se alojam os traficantes, vai lá e prende a canalha. Outra, diferente, é saber onde estão os vagabundos — e, dadas as suas características, é impossível a uma UPP ignorá-lo — e não fazer nada porque a ação não se inscreve nos princípios da tal pacificação. E eu sustento, porque tenho informações a respeito — se jornalistas corajosos quiserem se infiltrar, é pule de dez! —, que as UPPs passaram a conviver com o “tráfico civilizado”.
O Brasil deu o primeiro passo para uma forma de legalização da droga. Que se dê ao evento “histórico” a sua real dimensão. Alguém perguntará: “Ora, se diminui a violência, que mal há nisso?” É… Uma boa forma de diminuir a criminalidade é descriminar o crime, não é mesmo?
Por Reinaldo Azevedo
JUNTOS SOMOS FORTES!O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse nesta terça-feira que não tem a pretensão de acabar com o tráfico de drogas no Estado. “Minha pretensão não é acabar com o tráfico: ele existe em Londres, em Paris. O que é inaceitável é a pessoa ser vigiada, é levar o filho na escola e ver um homem com um fuzil”, afirmou Beltrame. Nos holofotes desde a semana passada, quando começou a megaoperação policial no Rio, Beltrame respondia às perguntas de usuários do Twitter. Os participantes - cerca de 300 no auge da transmissão - enviavam as mensagens por escrito ao secretário. Uma assessora então as selecionava e as lia a Beltrame, que respondia ao vivo, transmitido por uma “twitcam”.
A maior parte das mensagens parabenizava o secretário pelas operações, mas também houve perguntas críticas, como uma que questionava quais eram as garantias de que os traficantes expulsos das favelas não voltariam a se armar. “Não existe garantia. Ninguém vai assinar um cheque em branco. Mas não fazer (a operação) sob a alegação de que o traficante vai voltar é muito fácil. A gente apresentou uma solução concreta, e agora é outra realidade para manter isso”, respondeu Beltrame.
Formação
O secretário afirmou que a ocupação de áreas ainda controladas por traficantes levará tempo. “Temos que ir por partes, formar policiais com outro perfil, de polícia comunitária, e aí entrar nas comunidades. Isso demanda tempo, não podemos fazer de forma atabalhoada.” Segundo ele, o “Rio ficou muito tempo sem se preocupar com a polícia, com as academias sem nenhuma lógica para fazer concursos”.
O secretário afirmou que a operação policial em curso no Estado, que resultou na ocupação do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro, tradicionais redutos de facções criminosas, aconteceu 14 meses antes do previsto. Segundo Beltrame, os planos foram antecipados porque as forças de segurança perceberam que grupos criminosos haviam se articulado para promover ataques por toda a cidade, em resposta à implantação de postos policiais em favelas anteriormente controladas por traficantes. Beltrame também tratou das denúncias de abusos cometidos nas favelas recém-ocupadas - alguns moradores afirmam que tiveram o patrimônio danificado por policiais nas revistas.
Ele disse que as forças de segurança estão à procura de famílias que se queixaram das ações e que, se comprovadas as irregularidades, os policiais serão punidos e as famílias poderão ser ressarcidas. “Mas precisamos de denúncias sérias. Se só levantar a bola e não provar, vamos ficar no achismo, no denuncismo.” O secretário ainda afirmou que a polícia não tem condições de evitar que traficantes fujam para outros Estados. “Tem muita gente (criminosos) daqui que vai para o Nordeste, e temos que ir lá fazer as prisões, mas não temos condição de não permitir que vão para lá”.
Forças Armadas
Nesta terça-feira, o governo do Rio formalizou um pedido ao Ministério da Defesa para que as Forças Armadas permaneçam atuando no Estado até outubro de 2011. O presidente Lula aceitou o pedido, dizendo que os militares ficariam à disposição do Estado o tempo que fosse necessário para garantir a paz. O prazo de 11 meses, maior do que o previsto inicialmente, foi adotado “por precaução”, segundo o governador Sérgio Cabral, que disse que o período será usado para formar policiais para atuar em Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Complexo do Alemão e na favela de Vila Cruzeiro. Na segunda-feira, Cabral havia dito que solicitaria a presença de pelo menos 2 mil militares para as operações de pacificação do Complexo do Alemão.
Voltei
Está aí. Também já me antecipei a esta que seria a abordagem óbvia de Beltrame tão logo ficasse claro que o tráfico opera normalmente nas favelas “ocupadas” pelas UPPs. O que quer dizer “normalmente”? O bagulho está sendo vendido, mas os traficantes não estão nas vielas de fuzis na mão. A presença da bandidagem não é ostensiva. Esse ramo da economia passa a operar com uma mão-de-obra mais enxuta, e a relação com o poder público passa a ser mais “honesta”, né? Diminuem as chances de extorsão da polícia, uma vez que as incertas nos morros tornam-se desnecessárias, e o aparato de segurança pode ser menor.
Muito bem: tráfico de drogas existe em todos os países; ele só não pode é ser o governo local, como era na Vila Cruzeiro e no Alemão; como ainda é na Rocinha e em centenas de outras favelas — outro tanto é assombrado pelas milícias, formadas por policiais e ex-policiais. Sei disso. Só que as coisas não são assim tão simples.
Uma coisa é existir o tráfico de drogas, e a polícia tentar combatê-lo: sabendo onde se alojam os traficantes, vai lá e prende a canalha. Outra, diferente, é saber onde estão os vagabundos — e, dadas as suas características, é impossível a uma UPP ignorá-lo — e não fazer nada porque a ação não se inscreve nos princípios da tal pacificação. E eu sustento, porque tenho informações a respeito — se jornalistas corajosos quiserem se infiltrar, é pule de dez! —, que as UPPs passaram a conviver com o “tráfico civilizado”.
O Brasil deu o primeiro passo para uma forma de legalização da droga. Que se dê ao evento “histórico” a sua real dimensão. Alguém perguntará: “Ora, se diminui a violência, que mal há nisso?” É… Uma boa forma de diminuir a criminalidade é descriminar o crime, não é mesmo?
Por Reinaldo Azevedo
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO
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