"Prendemos muito mais do que matamos", diz novo corregedor da PM
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO
O novo corregedor da Polícia Militar de São Paulo, o coronel Admir Gervásio Moreira, vê no aumento de notícias sobre crimes envolvendo policiais uma campanha que inclui a intenção de alguns setores de acabar com as PMs.
Aumento de mortes causadas pela PM de SP não preocupa novo corregedor
Para o policial, o crescimento de 40% da letalidade da PM paulista no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado, não o preocupa. "Nós não estamos mais agressivos. Muito pelo contrário. Nosso oponente é que está muito mais ousado, mais agressivo."
Na entrevista concedida à Folha na tarde desta sexta-feira (28), Gervásio afirmou que a PM é uma das instituições menos racistas do país, pois tem em seus quadros 30% de negros ou descendentes. "O racismo está em cada pessoa."
Disse que, de folga, já foi vistoriado por policiais e foi bem tratado, ao contrário do que já passou na escola.
"É de berço que as pessoas aprendem a ser preconceituosas", afirma o coronel.
Folha - Tem havido mais crimes de policiais militares ou é a divulgação que tem sido maior?
Admir Gervásio Moreira - Não tem acontecido mais casos. Está numa sequência [de divulgação de notícias]. Estão voltando [a divulgar]. Falam um pouquinho, param, depois voltam. É o momento [político]. Não quero falar a palavra [política], você sabe o momento a que estou me referindo. Fica subentendido.
Estamos vivendo uma fase também em que existem grupos que querem falar de desmilitarização. Então vai por aí a fora: "Vamos atacar a Polícia Militar".
Folha - Não se ouvia falar de grupos de extermínio formados por PMs, como "Os Highlanders". Esses casos já existiam e a gente não sabia disso?
Moreira - São casos pontuais. É conduta individual. Não é conduta institucional. Não podemos dizer que dentro da polícia existe isso. Dá uma conotação de que está instituído.
Não concordo. [São] Pessoas, com problemas graves, que não têm nenhum compromisso institucional.
Folha - O sr. acha que os mecanismos da Polícia Militar hoje são suficientes para detectar essas pessoas?
Moreira - Vamos dar uma sugestão para o comando para criarmos um grupo de estudo. O que levou a esse tipo de conduta. E não só detectar, mas tratar também.
Folha - O número de mortes de civis em confrontos com a PM cresceu neste ano. Há uma preocupação quanto a isso?
Moreira - Os marginais estão mais ousados. A ousadia do marginal cresceu de forma violenta, inclusive com armamento. Eles têm um potencial de fogo considerável.
Folha - Essa é uma questão que não preocupa o sr.?
Moreira - Em princípio, não. Estamos equivalentes. De todos os confrontos, por exemplo, em que há quatro indivíduos, um é baleado e três são presos. Nós não estamos mais agressivos. Muito pelo contrário. Nosso oponente é que está muito mais ousado, mais agressivo. Nós estamos prendendo muito mais do que matando.
Folha - A promotora Eliana Passareli [que trabalhou no Tribunal de Justiça Militar] diz que a PM perdeu o comando da tropa. Isso aconteceu?
Moreira - Negativo. Em hipótese alguma. Posso lhe garantir. A instituição jamais perderá o comando da sua tropa.
Folha - A PM é racista?
Moreira - Não concordo piamente. Vamos tirar a figura do policial. Seria hipócrita se dissesse que não há racismo no Brasil. A instituição PM não é racista.
Se verificar o nosso efetivo quase 140 mil homens e mulheres, da ativa e da inatividade, acredito que mais de 30% sejam negros ou têm a raça negra na sua origem. A instituição não é racista. O racismo está em cada pessoa.
Folha - O sr. já foi abordado pela PM estando de folga?
Moreira - Já fui, e o tratamento não foi discriminador. Trataram-me com dignidade. Eu já sofri Já sofri discriminação em colégio, em internato, administrado pela Igreja Católica.
Folha - Ficou com trauma?
Moreira - Não, meu intelecto é muito superior a isso. A minha formação de berço não deixou que eu incurtisse isso. É do berço que as pessoas aprendem a ser preconceituosas.
Folha - Pelo cargo que ocupa, o sr. se protege de forma diferente?
Moreira - Não vejo necessidade. Se tivesse algum temor, não aceitaria o cargo. A grande maioria, 99,99% são bons policiais, honestos, dignos, legalistas, humanistas. Esses me protegerão.
Folha - Qual missão o sr. recebeu?
Moreira - Dar agilidade às investigações, principalmente aquelas que estão em andamento e aquelas que poderão chegar. Chegando, precisam ter uma resposta o mais rápido possível.
Folha - Isso não era feito?
Moreira - Isso sempre foi feito. A Corregedoria sempre trabalhou com o imediatismo. Posso me considerar como filho daquela casa. Antes de ser coronel, eu trabalhei, eu vivenciei aquilo por 17 anos.
Folha - Os policiais violentos, como os que se envolveram nos casos dos motoboys, são oriundos de onde? Da zona leste, zona sul, do interior?
Moreira - Não temos um estatística, um estudo voltado para isso. A Polícia Militar é uma instituição aberta. A seleção é feita naturalmente.
Passam por um processo de seleção, de investigação social, muitas vezes não se detecta qualquer anomalia comportamental do indivíduo que está entrando.
Mas, de repente, quando ele coloca isso daqui [a farda], ele acha que pode tudo. Aí, tem questão de valores. De ética, moral, de berço.
Por que um policial militar as vezes aceita uma propina? Não foi a instituição que ensinou. Isso está incutido no "eu" dele. São os valores que adquiriu de berço. Eu entrei como soldado e, como tal, nunca aceitei nenhum café. Por quê? Por que são valores que eu aprendi no berço, com meu pai, minha mãe.
Folha - O sr. vem com status de "remédio" para a PM. O que fazer para não acontecerem casos como os dos motoboys?
Moreira - Meu principal remédio é o exemplo. Ser exemplo positivo. Ser mais transparentes, ser mais ágeis. Dar uma resposta com mais rapidez.
A todos que carecem de uma resposta, inclusive a própria família da vítima. Por que não? Aquilo que foi apurado precisa ser levado à família da vítima, ou à vítima.
Folha - A Polícia Civil diz que a PM dificultou as investigações em um dos casos dos motoboys, não forneceu fotos...
Moreira - Não é verdade. Não é verdade. De imediato foram presos os envolvidos e tudo está nas mãos da Justiça. Isso não procede. O que pode ter acontecido naquele momento foi uma falha de comunicação. Tenho quase certeza de que foi isso.
Folha - O sr. diz que tem berço e, como policial, nunca aceitou um café. Quando ouve essas notícias, como sr. fica?
Moreira - Isso causa um mal estar. Não foi isso que a instituição ensinou. A instituição não nos preparou para isso. Providências precisam ser tomadas, e contundentes.
Folha - Pretende aumentar o número de policiais da Corregedoria?
Moreira - Tenho total apoio tanto do coronel Camilo, do secretário e do governador. Os claros [vazios] serão preenchidos.
Folha - Já fizeram a comparação do sr. e o corregedor negro [o ator Milton Gonçalves] do seriado policial ["Força Tarefa"] da TV Globo?
Moreira - Vou ser bem diferente. Lá é fantasia, aqui é realidade.
JUNTOS SOMOS FORTES!DE SÃO PAULO
O novo corregedor da Polícia Militar de São Paulo, o coronel Admir Gervásio Moreira, vê no aumento de notícias sobre crimes envolvendo policiais uma campanha que inclui a intenção de alguns setores de acabar com as PMs.
Aumento de mortes causadas pela PM de SP não preocupa novo corregedor
Para o policial, o crescimento de 40% da letalidade da PM paulista no primeiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado, não o preocupa. "Nós não estamos mais agressivos. Muito pelo contrário. Nosso oponente é que está muito mais ousado, mais agressivo."
Na entrevista concedida à Folha na tarde desta sexta-feira (28), Gervásio afirmou que a PM é uma das instituições menos racistas do país, pois tem em seus quadros 30% de negros ou descendentes. "O racismo está em cada pessoa."
Disse que, de folga, já foi vistoriado por policiais e foi bem tratado, ao contrário do que já passou na escola.
"É de berço que as pessoas aprendem a ser preconceituosas", afirma o coronel.
Folha - Tem havido mais crimes de policiais militares ou é a divulgação que tem sido maior?
Admir Gervásio Moreira - Não tem acontecido mais casos. Está numa sequência [de divulgação de notícias]. Estão voltando [a divulgar]. Falam um pouquinho, param, depois voltam. É o momento [político]. Não quero falar a palavra [política], você sabe o momento a que estou me referindo. Fica subentendido.
Estamos vivendo uma fase também em que existem grupos que querem falar de desmilitarização. Então vai por aí a fora: "Vamos atacar a Polícia Militar".
Folha - Não se ouvia falar de grupos de extermínio formados por PMs, como "Os Highlanders". Esses casos já existiam e a gente não sabia disso?
Moreira - São casos pontuais. É conduta individual. Não é conduta institucional. Não podemos dizer que dentro da polícia existe isso. Dá uma conotação de que está instituído.
Não concordo. [São] Pessoas, com problemas graves, que não têm nenhum compromisso institucional.
Folha - O sr. acha que os mecanismos da Polícia Militar hoje são suficientes para detectar essas pessoas?
Moreira - Vamos dar uma sugestão para o comando para criarmos um grupo de estudo. O que levou a esse tipo de conduta. E não só detectar, mas tratar também.
Folha - O número de mortes de civis em confrontos com a PM cresceu neste ano. Há uma preocupação quanto a isso?
Moreira - Os marginais estão mais ousados. A ousadia do marginal cresceu de forma violenta, inclusive com armamento. Eles têm um potencial de fogo considerável.
Folha - Essa é uma questão que não preocupa o sr.?
Moreira - Em princípio, não. Estamos equivalentes. De todos os confrontos, por exemplo, em que há quatro indivíduos, um é baleado e três são presos. Nós não estamos mais agressivos. Muito pelo contrário. Nosso oponente é que está muito mais ousado, mais agressivo. Nós estamos prendendo muito mais do que matando.
Folha - A promotora Eliana Passareli [que trabalhou no Tribunal de Justiça Militar] diz que a PM perdeu o comando da tropa. Isso aconteceu?
Moreira - Negativo. Em hipótese alguma. Posso lhe garantir. A instituição jamais perderá o comando da sua tropa.
Folha - A PM é racista?
Moreira - Não concordo piamente. Vamos tirar a figura do policial. Seria hipócrita se dissesse que não há racismo no Brasil. A instituição PM não é racista.
Se verificar o nosso efetivo quase 140 mil homens e mulheres, da ativa e da inatividade, acredito que mais de 30% sejam negros ou têm a raça negra na sua origem. A instituição não é racista. O racismo está em cada pessoa.
Folha - O sr. já foi abordado pela PM estando de folga?
Moreira - Já fui, e o tratamento não foi discriminador. Trataram-me com dignidade. Eu já sofri Já sofri discriminação em colégio, em internato, administrado pela Igreja Católica.
Folha - Ficou com trauma?
Moreira - Não, meu intelecto é muito superior a isso. A minha formação de berço não deixou que eu incurtisse isso. É do berço que as pessoas aprendem a ser preconceituosas.
Folha - Pelo cargo que ocupa, o sr. se protege de forma diferente?
Moreira - Não vejo necessidade. Se tivesse algum temor, não aceitaria o cargo. A grande maioria, 99,99% são bons policiais, honestos, dignos, legalistas, humanistas. Esses me protegerão.
Folha - Qual missão o sr. recebeu?
Moreira - Dar agilidade às investigações, principalmente aquelas que estão em andamento e aquelas que poderão chegar. Chegando, precisam ter uma resposta o mais rápido possível.
Folha - Isso não era feito?
Moreira - Isso sempre foi feito. A Corregedoria sempre trabalhou com o imediatismo. Posso me considerar como filho daquela casa. Antes de ser coronel, eu trabalhei, eu vivenciei aquilo por 17 anos.
Folha - Os policiais violentos, como os que se envolveram nos casos dos motoboys, são oriundos de onde? Da zona leste, zona sul, do interior?
Moreira - Não temos um estatística, um estudo voltado para isso. A Polícia Militar é uma instituição aberta. A seleção é feita naturalmente.
Passam por um processo de seleção, de investigação social, muitas vezes não se detecta qualquer anomalia comportamental do indivíduo que está entrando.
Mas, de repente, quando ele coloca isso daqui [a farda], ele acha que pode tudo. Aí, tem questão de valores. De ética, moral, de berço.
Por que um policial militar as vezes aceita uma propina? Não foi a instituição que ensinou. Isso está incutido no "eu" dele. São os valores que adquiriu de berço. Eu entrei como soldado e, como tal, nunca aceitei nenhum café. Por quê? Por que são valores que eu aprendi no berço, com meu pai, minha mãe.
Folha - O sr. vem com status de "remédio" para a PM. O que fazer para não acontecerem casos como os dos motoboys?
Moreira - Meu principal remédio é o exemplo. Ser exemplo positivo. Ser mais transparentes, ser mais ágeis. Dar uma resposta com mais rapidez.
A todos que carecem de uma resposta, inclusive a própria família da vítima. Por que não? Aquilo que foi apurado precisa ser levado à família da vítima, ou à vítima.
Folha - A Polícia Civil diz que a PM dificultou as investigações em um dos casos dos motoboys, não forneceu fotos...
Moreira - Não é verdade. Não é verdade. De imediato foram presos os envolvidos e tudo está nas mãos da Justiça. Isso não procede. O que pode ter acontecido naquele momento foi uma falha de comunicação. Tenho quase certeza de que foi isso.
Folha - O sr. diz que tem berço e, como policial, nunca aceitou um café. Quando ouve essas notícias, como sr. fica?
Moreira - Isso causa um mal estar. Não foi isso que a instituição ensinou. A instituição não nos preparou para isso. Providências precisam ser tomadas, e contundentes.
Folha - Pretende aumentar o número de policiais da Corregedoria?
Moreira - Tenho total apoio tanto do coronel Camilo, do secretário e do governador. Os claros [vazios] serão preenchidos.
Folha - Já fizeram a comparação do sr. e o corregedor negro [o ator Milton Gonçalves] do seriado policial ["Força Tarefa"] da TV Globo?
Moreira - Vou ser bem diferente. Lá é fantasia, aqui é realidade.
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
Ex-CORREGEDOR INTERNO
Um comentário:
Boa a entrevista, me pareceu ser um homem firme,dedicado,honesto e com ótimas intenções.
Que Deus o abençoe.
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