terça-feira, 14 de abril de 2009

LAMENTO, SOU UM "POLITICAMENTE INCORRETO" INCORRIGÍVEL!


Caro leitor, esse é um artigo longo e ácido, caso tenha pouco tempo, recomendo parar por aqui.
Como você não seguiu o meu conselho, vamos em frente.
Eu gosto de ler os artigos do jornalista Reinaldo Azevedo, embora nem sempre concorde com as suas opiniões, respeitando todas elas e reconhecendo nele um jornalista político de primeira linha.
Atualmente, um dos livros que estou lendo é de sua autoria, “O PAÍS DOS PETRALHAS”, que indico para todos aqueles que amam o Partido dos Trabalhadores e para todos aqueles que o odeiam, só não indico para os indiferentes, o que explico no final.
Admiro Reinaldo de Azevedo porque ele é “politicamente incorreto”, o que faz com que eu me identifique com ele. Ele nunca fica “em cima do muro”, não importa o assunto político, ele deixa clara a sua opinião, ninguém fica com dúvidas de que lado ele está.
Obviamente, quem escolhe um lado do muro, acaba recebendo as pedras jogadas pela turma do outro lado e vice-versa.
Eu também sou “politicamente incorreto”, sempre escolhi um lado, nunca optei pela tranqüilidade e pelo oportunismo próprio daqueles que ficam “em cima do muro”.
Não conheço Reinaldo de Azevedo, todavia, conheço um jornalista fluminense que também sempre escolhe um lado, Gustavo de Almeida, que escolheu ficar do lado da Polícia Militar.
Na sua vida profissional no Jornal do Brasil, no jornal O Dia e na Revista Isto É, sempre elogiou e criticou Policiais Militares, porém nunca se afastou do interesse pela Instituição, ou seja, sempre analisou os fatos sob a ótica do interesse público.
Ele é outro “politicamente incorreto”, como outros jornalistas que conheço. Sendo assim, vez por outra, desperta inimizades e rancores, quando demonstra a sua visão institucional.
Lamento, eu sou um “politicamente incorreto” incorrigível.
Por mais que me aconselharam ao longo da vida, nunca deixei de escolher um lado, deixando cristalinas tanto as minhas idéias, quanto as minhas ações.
E tive que agir assim logo que entrei no serviço público, no final da década de setenta, no meu único emprego, quando tive que escolher entre “ser corrupto” e “não ser corrupto”.
Caro leitor, você deve estar pensando:
O que é isso?
Em algum momento teve dúvidas sobre tal opção?
Não, respondo a ambos os questionamentos, pois fui ensinado pelo meu pai e pelo pai do meu pai, que existe o certo e o errado.
Eles me ensinaram pelo exemplo, trabalharam duro ao longo da vida, construíram um pequeno patrimônio, sempre com muita dificuldade e morreram relativamente jovens.
Entretanto, tentando não avançar muito no tema, devo deixar claro que optar por “não ser corrupto” é uma decisão que acarreta muitos dissabores.
Os meus incontáveis amigos, Oficiais e Praças, que fizeram a mesma opção que eu, sabem muito bem dessa verdade, considerando que as dificuldades começam na capacidade de reunião, pois os “corruptos” são muito mais unidos que os “não corruptos”.
Reúnem a sua “turma” em um piscar de olhos.
Portanto, existe um desequilíbrio natural de forças, tal qual uma diferença de potencial.
As dificuldades dos “não corruptos” são inúmeras, além da natural pressão para mudar de lado e provar das facilidades que o dinheiro sujo proporciona, existe ainda a inimizade inevitável, quando interesses são contrariados.
Um Policial Militar está sujeito a uma série de oportunidades para se corromper, diariamente, sendo essa a principal razão de ter escrito nesse espaço que um Policial Militar que recebe salários famélicos é uma presa fácil para os corruptos ativos de cada esquina.
Ele tem muito a ganhar (uma fortuna) e pouco a perder (salário).
Ao longo do tempo comprovei que se tivesse optado por “ser corrupto” estaria rico no início dos anos noventa, quando era Capitão. Hoje seria um mega empresário e nem moraria mais no Brasil.
As oportunidades são inesgotáveis para enriquecer e digo que quem optou por “ser corrupto” e ainda é pobre, tem dois defeitos gravíssimos é corrupto e burro.
Eu sou “politicamente incorreto”, não tenho jeito.
Optei por um lado e fui parar na área correcional, onde exerci praticamente todas as funções, dentre elas a de Chefe da 1ª DPJM e de Corregedor Interno. Passei um terço da minha vida profissional nesta área, quase dez anos, onde virei de uma vez por todas, um “alemão” (inimigo) para os “corruptos”.
Mas chega de falar sobre corrupção policial, ela salta aos nossos olhos em cada rua desse estado, em face da criminalidade ostensiva e impune, eu não preciso ficar alardeando.
O real tema desse longo artigo é a turma que fica “em cima do muro”, os indiferentes, que ficam esperando o prato da balança pender, para rapidamente saltarem vitoriosos.
Eu sou “politicamente incorreto”, não gosto dessa turma, eles me surpreendem positivamente em alguns momentos, todavia, negativamente na maioria das vezes.
No curso da nossa mobilização cívica essa turma fez uma festa, uma verdadeira ode ao oportunismo barato.
Enquanto alguns Coronéis e Tenentes-Coronéis, que exerciam as funções de Comandantes, Chefes ou Diretores, deixaram claro que não eram favoráveis à mobilização cívica, o que foi plenamente aceitável, um grande grupo subiu no muro.
E por que subiram?
Fácil, se nós ganhássemos, estariam conosco, se nós perdêssemos , herdariam funções, gratificações e promoções.
Dito e feito, bastou o Comandante Geral começar a balançar e o muro ficou repleto de oportunistas.
Houve até quem fingisse estar de um lado – o nosso -, para em seguida subir no muro.
Apareceram no começo, quando a coisa apertou, sumiram na poeira.

As suas imagens estão retratadas apenas nas primeiras fotos.
Confesso, tive grandes decepções, uma delas foi a não participação dos Coronéis do Corpo de Bombeiros Militar, nem mesmo um, mas sei que experimentei tal sentimento por ser um “politicamente incorreto” inveterado.
Acreditei em muitos, esquecendo a natureza humana, a frágil natureza humana, apegada a posições hierárquicas e a gratificações.
Uma delas foi com os companheiros Tenentes-Coronéis e Majores que a todo dia me cobravam um posicionamento dos Coronéis, os quais seriam os grandes responsáveis pelas mazelas institucionais, cobravam corajosamente em alto e bom tom.
Eu sempre concordei com eles, a culpa é dos Coronéis, os líderes da Polícia Militar.
Todavia, quando os Coronéis Barbonos e outros Coronéis resolveram assumir uma postura institucional ficando em posição antagônica ao Governador do Estado, eles logo emudeceram e subiram no muro, esperando a balança, depois não tiveram dúvidas, mergulharam nas benesses.
Essa não foi a maior decepção.

E voltando no tempo para contextualizar.
Eu e o Coronel de Polícia Esteves ingressamos no poder judiciário contra as promoções políticas do governo Rosinha Garotinho, não aceitamos as promoções impostas à Polícia Militar.
Ele é outro “politicamente incorreto”, o que nós tínhamos com isso, já éramos Coronéis, ocupávamos funções de destaque e ganhávamos gratificações.
A resposta é simples, pensamos institucionalmente, como Coronéis de Polícia devem pensar.
Ora, o resultado não precisaria dizer, nesse mundo dominado pelo "politicamente correto", entretanto para não deixar dúvidas, perdemos.
O poder judiciário entendeu que um ato administrativo poderia macular quase todos os seus pressupostos indispensáveis, bastando ser legal, quando a legalidade é apenas um deles.
Cumpra-se, eis a regra.
Neste período de turbulência institucional, quando todos os Tenentes-Coronéis comandantes de batalhões foram ultrapassados por um amigo do casal Garotinho, muitos nos procuraram para manifestar apoio, sem, contudo se solidarizarem na ação.
Um dos mais revoltados, com quem conversei dezenas de vezes, tendo inclusive encaminhado documentos ao Ministério Público da AJMERJ, com a finalidade de contribuir para a reversão do apadrinhamento político - o que eu não precisava fazer -, me decepcionou profundamente.
Não esperava, foi um duro golpe.
Logo ele, um “quase herói” midiático, que bateu o pé no chão uma vez e ganhou fama, na hora de escolher um lado, subiu no muro, esqueceu a Corporação e agarrou-se na promoção.
É triste ver um militar de Polícia subir no muro.
O militarismo vive da figura do líder, vive do exemplo.
Os Oficiais Generais nas Forças Armadas e os Coronéis nas Polícias Militares devem ser líderes, devem ser exemplos e devem, acima de tudo, pensar e agir institucionalmente.
Um Oficial General que não age de tal forma, tem apenas as insígnias nos ombros, nada mais.
Um Oficial General não pode ficar em “cima do muro”, isso é incompatível com o posto e com suas atribuições.
O líder escolhe, decide e comanda. Ele não pode ser indiferente aos anseios de sua Corporação, aos interesses da tropa.
O Coronel de Polícia deve seguir os mesmos parâmetros de um Oficial General das Forças armadas, deve ser um líder nato.
Infelizmente, meu amigo, as insígnias obtidas por ter ficado “em cima do muro”, não passam disso, são apenas insígnias.
Elas podem proporcionar funções e gratificações, nunca proporcionarão a honra.
Não passam disso, são apenas insígnias, bordadas em tecido ou feitas de metal.
Tudo isso é muito triste.
Eu tenho vergonha.
Lamento, eu sou um “politicamente incorreto” por natureza.
Por derradeiro, os indiferentes não passariam do primeiro artigo do Reinaldo de Azevedo, não entenderiam nada, os posicionamentos são muito claros, eles entendem de sombras e muros.

PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO

5 comentários:

Anônimo disse...

Mui amigo

O chefão Lula anda meio chateado com Serginho Cabral.

Em roda de amigos, reclama que Cabral faz muito discurso, mas realiza pouca coisa que renda dividendos políticos.

Lula acha que, assim, fica difícil ajudar ao “amigo”...

BLOG ALERTA TOTAL!

Anônimo disse...

Só para o senhor ficar sabendo cmt, o link do seu blog é o 2ºda minha lista de favoritos, só perdendo para o do mj vanderby. Juntos somos fortes. Parabéns por sua luta e companheirismo.

Ademar Couto disse...

"I posti più caldi nell’inferno sono riservati a coloro che in tempo di grandi crisi morali mantengono la propria neutralità" .

(Os lugares mais quentes no inferno são reservados aos que, em tempos de grandes crises morais, escolhem a neutralidade)
Dante Alighieri (1265-1321)

Paulo Barros disse...

Caro amigo Paúl:
Lendo o seu texto, achei muito pertinente a sua explanação resumida de sua trajetória na gloriosa PMRJ. É sempre bom colocar a nossa posição e expor o que nos levou a optar pelo correto. Bem me lembro de sua frase “ O Policial é uma presa fácil para a criminalidade, tendo em vista o seu misero salário e a grande responsabilidade. “ Foi mais ou menos assim, e que acabou te trazendo muitos problemas. Explica mais não justifica o fato de baixos salários nos levarem para caminhos escusos, mais é a grande realidade. Tudo muda quando temos uma boa base familiar, pois assim nos possibilita uma intocável formação de caráter. Também sou um Militar politicamente incorreto e incorrigível, pois decidi ficar do lado do muro dos que tem vergonha na cara, dos que enxergam, escutam, ouvem, se manifestam, não aceitam a corrupção...ETC... Mas infelizmente temos que pagar um preço muito alto. Me lembro das palavras de JESUS,
“ Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua CRUZ e siga-me” Mt 16:24. Neste trecho da Bíblia se aborda justamente a posição que o homem deve tomar, ou vai para o erro ou segue o caminho correto lembrando-se de onde veio e para onde vai. Forte abraço meu amigo e que você continue firme nesta luta.

Do Amigo:
Paulo Barros
Fuzileiro Naval

Alexandre, The Great disse...

O texto retrata uma dura realidade vivida por um indivíduo que não se agacha aquilo que é o lugar comum hoje: o politicamente correto.
Se o presidente tem 84% de aprovação popular (o que não acredito), deve-se em grande parte a essa mentalidade politicamente correta que foi imposta nos últimos 25 anos.
Sobre o personagem que tanto decepcionou o Cel Paúl, quem conhece sabe... infelizmente é a mais pura verdade! Entretanto pode ter decepcionado aqueles que não o conheciam, ou que achavam que o conheciam. Jamais enganou os que sempre conviveram com ele - seus familiares!
Estes não tinham dúvidas que ele seria capaz de agir da forma que agiu, infelizmente. Tal atitude enodoou mortalmente o anterior feito, retratado como uma "batida de pé" pelo autor, e isto o personagem levará pelo resto de sua miserável vida!
Espero que o próprio leia o artigo e o comentário.