sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

UMA FRASE MAL DITA DECORRENTE DE UMA MALDITA REALIDADE



Eu fui promovido ao último posto da Instituição – CORONEL DE POLÍCIA – no dia 21 de abril de 2.005, juntamente com outros 8 (oito) Tenentes Coronéis de Polícia.
Passados alguns dias foi realizado no Salão Nobre do Quartel General, um almoço em homenagem aos promovidos, com a participação da maioria dos Coronéis de Polícia do serviço ativo.
A confraternização foi extremamente agradável, porém um fato me causou uma grande decepção, naquela oportunidade.
Os meus amigos conhecem esse fato, bem como, conhecem a minha indignação, entretanto a maioria dos leitores não dará a importância devida ao presente artigo, em razão de desconhecerem a realidade interna corporis daquela época e acima de tudo, a relação POLÍCIA-GOVERNO.
Mesmo diante dessas verdades resolvi externar o motivo da minha decepção por considerar a exposição do fato pertinente aos novos ventos que impulsionam à POLÍCIA, considerando que vivemos tempos de mobilização por melhorias salariais, através da equiparação com os Policiais Civis.
A minha indignação ocorreu quando ouvi uma frase dita por um Coronel de Polícia, tentando justificar o posicionamento da Polícia com relação ao Governo do Estado, uma política conformista, uma política baseada em articulações que nenhum benefício institucional produzia, diante das crescentes mazelas que enfrentava a Instituição.
O nome do santo não importa, o que importa é o milagre, sobretudo porque a frase foi dita e ouvida com a maior naturalidade, sem culpa, sem culpados, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Dita como explicação óbvia para a nossa inércia.
Uma desculpa para nós mesmos, uma justificativa cômoda.

"A POLÍCIA MILITAR É GOVERNO”!

Sinceramente, jamais poderia imaginar ouvir essa frase em uma reunião de Coronéis, uma reunião de líderes de uma Instituição gloriosa e heróica, com quase 200 (duzentos) anos de existência.
Longe de criticar quem proferiu tal frase, a quem respeito e nem mesmo querendo acusar os ouvintes de omissão, inclusive esse signatário, simbolicamente a frase foi perfeita.
Nem mesmo mil palavras poderiam representar melhor a submissão política da Polícia, vivenciada naqueles dias, do que essas poucas palavras.
A identidade da Polícia foi ferida de morte quando alguns começaram a pensar dessa forma e isso aconteceu logo após a reabertura política que sucedeu ao período da denominada ditadura militar.
Portanto, os que estavam naquele almoço, em 2005, apenas estavam vivendo o coroamento dessa subserviência Institucional quase que total ao poder político.
Nós não éramos os culpados, pelos menos não éramos os únicos culpados, essa culpa vinha de longe.
Felizmente, vivemos novos tempos e a frase mal dita começa a se perder no passado.
Uma nova realidade começa a ser construída.

“A POLÍCIA INTEGRA O ESTADO, PERTENCE AO POVO”!


Pouco importa quem governe, o que importa é que governe de forma eficiente, pelo povo e para o povo fluminense.


E quem assim governar, sem dúvida, preservará a POLÍCIA, respeitando aos homens e às mulheres que integram a POLÍCIA, pagando salários dignos e propiciando adequadas condições de trabalho aos POLICIAIS, os HERÓIS SOCIAIS.
Os governantes passam, os regimes de governo passam, porém a POLÍCIA é eterna, pelo menos enquanto existir sociedade e homens livres em busca de cidadania.


DIGNITAE QUAE SERA TAMEN (DIGNIDADE AINDA QUE TARDIA).



PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORREGEDOR INTERNO

3 comentários:

CHRISTINA ANTUNES FREITAS disse...

Sr.Cel.Paúl:

Polícia não é Governo, como tampouco as Forças Armadas o são.
Quantos Governos foram tomados (não aplaudo a prática) pelas Forças Armadas de seus Países?
A Polícia é primordialmente para proteção da população, porém para nossa infelicidade é paga e equipada indiretamente pelo Governo, que só o faz na medida em que pagamos exorbitantes impostos.
Acredito que Governantes distraídos, um dia - por bem ou por mau - entenderão que uma Polícia mal remunerada, mal equipada e ironizada é o primeiro passo para "Mandatários Ladeira Abaixo".

Um abraço,
CHRISTINA ANTUNES FREITAS

Anônimo disse...

"POLÍCIA DO ESTADO" ou "POLÍCIA DO GOVERNO" são expressões anacrônicas inerentes aos regimes totalitários.
Quem a proferiu é, antes de tudo, pobre de espírito e subserviente a um "regime".

Uma "POLÍCIA DA SOCIEDADE" é o perfil que deve ser buscado pelos seus líderes, haja vista sua função primordial: A DEFESA DO CIDADÃO (ATÉ MESMO CONTRA O ESTADO, se isso fosse possível)!


Turma 76

Anônimo disse...

Dignidade Coronel? Dignidade para quem? O texto a seguir foi copiado de um comentário do blog Santa Bárbara e Rebouças, do jornalista Gustavo de Almeida, em sendo verdade, e creio que seja, é a síntese da união entre nossos Oficiais e os Praças da PMERJ, dá vergonha!
Anônimo disse...
Gustavo, acaso voce ficou sabendo que na festa de confraternização do 31ºbpm os oficiais isolaram as mesas de seus familiares das mesas dos praças com uma fita daquelas usadas para isolar local de crime? que os praças tinham que enfrentar uma enorme fila até onde estava a comida enquanto os familiares dos oficiais eram servidos por garçons? que em determinada hora as bebidas acabaram somente para os praças? que somente não houve um verdadeiro motim porque praças mais graduados conseguiram convencer a maioria de que aquilo que os oficiais achavam que era uma área VIP era somente um cercadinho mais parecido com um curral ou uma área de crime como a fita de isolamento fazia crer? e depois querem que os praças acreditem na unidade na PMERJ. é por isso que não temos representantes dignos na política. se acham seres superiores. e os que estão hoje no poder dentro da PM não são diferentes dos tantos que já vimos passar, até muito pelo contrário, o que se viu nessa festa é a síntese do tratamento que os oficiais dispensam aos praças. mas o apartheid deles saiu pela culatra: todos riram deles e de seus familiares dentro daquele curralzinho VIP! e com certeza saíram de lá muito menos respeitados por todos.