domingo, 3 de janeiro de 2010

POLÍCIA CIVIL: PAGAR BEM PARA POR FIM AO SEGUNDO EMPREGO (BICO).

JORNAL O DIA:
Allan Turnowski: ‘Melhora de salário para ser exclusivo’
Maria Inez Magalhães
Rio - A guerra da Polícia Civil este ano é contra um inimigo desarmado, que não está na lista dos mais perigosos do Rio e que há anos a instituição tenta combater, mas sem sucesso: o bico. Há oito meses à frente da Chefia de Polícia Civil, Allan Turnowski elegeu o fim do segundo emprego do
policial como sua meta para 2010, e já prepara uma nova escala para que um número maior de agentes possa trabalhar todos os dias.
A primeira turma a estrear a nova forma de atuação da instituição será a de 460 inspetores. Eles começam a trabalhar em fevereiro. “Eles não fazem o bico, por isso dá para colocá-los para trabalhar todos os dias. Vamos provar que essa escala é possível”, afirmou Turnowski, garantindo que um planejamento para toda a Polícia Civil já está em elaboração. “Não posso simplesmente tirar o trabalho externo. Preciso pagar por isso. A gente está trabalhando duro para isso”, assegurou ele, que fez um balanço de sua gestão e contou ainda quais são seus outros planos para 2010, quando poderá deixar o cargo. Perguntado sobre a marca que quer deixar de sua administração, disse: “Quero que o policial tenha orgulho de dizer que é policial civil. Se conseguir isso, já estou satisfeito”.
O DIA: Qual a meta da Polícia Civil para 2010?
Allan Turnowski: – É a compra do bico. A mudança de escala, a exclusividade dos policiais na função policial. E para isso, a gente tem que conseguir pagar esse dinheiro que ele faz fora, para não faltar o leite que ele já conta, o colégio e o plano de saúde que ele já paga. O governador (Sergio Cabral) já deu aumento. A meta é essa: melhora de salário para ser exclusivo. Assim dá para praticamente sobreviver com os policiais que temos hoje.
Mas como isso será feito?
Está sendo estudado. A gente está trabalhando duro nisso. Hoje, a gente trabalha com 80% do efetivo no plantão, e 20% no expediente. A ideia é inverter isso. É colocar 70% dos policiais para trabalhar todos os dias, e 30% no plantão. Não é simplesmente só colocar o policial para trabalhar todos os dias. É um projeto maior. É mostrar ao policial a importância disso. A Polícia Federal, o Ministério Público, o Judiciário trabalham assim. Se a gente quer falar que é polícia judiciária, tem que trabalhar no mesmo ritmo deles. Só que isso demanda uma série de questões estratégicas.
Acabaram de entrar na Polícia Civil 460 inspetores. O senhor disse que eles já vão trabalhar na nova escala. Por que só eles?
Porque eles ainda não fazem o bico e, por isso, dá para colocá-los para trabalhar todos os dias. Eles vão passar a trabalhar nos inquéritos todos os dias e não a cada três dias como acontece com a escala atual. E, por meio deles, vamos provar que essa nova escala é possível. Será uma espécie de laboratório. Investimos muito na formação desses novos policiais, principalmente no que diz respeito ao trabalho de investigação.
O senhor dividiu a chefia de Polícia Civil em operacional e administrativa. O que isso melhorou na prática para o trabalho da polícia?
Com a subchefia operacional, as operações passaram a ter padrão. É necessário que se levante a quadrilha toda, que se busque o dinheiro dessa quadrilha e não só a prisão. E mais que isso: a juntada de provas para a condenação daquela quadrilha. Isso deu uma qualidade muito maior à nossa investigação. Na subchefia administrativa, criamos o escritório de projetos e ela passou a ver tudo o que a ponta precisa. Muitas vezes querem dar o dinheiro, mas você não sabe como comprar. Para o ano que vem, teremos investimentos de R$ 100 milhões, fora o que vem da Secretaria de Segurança. Agora, a operacional diz o que precisa e a administrativa, compra. A Operação Família S/A prendeu parentes do chefe do tráfico na Tijuca, Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, atacando o crime de modo diferente do habitual.
Será uma nova forma de agir daqui para frente?
Sim. A operação no Borel não teve tiro. Se você olhar os índices da Tijuca, eles têm caído. Esse tipo de ação, em primeiro lugar, resgata o temor do traficante da ação policial. Então, não adianta comprar mais armas e mais drogas e fazer o enfrentamento com a polícia. A polícia agora está buscando o dinheiro do financiamento da compra da arma, da compra da droga. Isso (tráfico) é um negócio. Você tem o dinheiro que abastece o negócio. Vamos dizer que é o capital de giro. Com a venda da arma e da droga, você tem o lucro. A gente sempre atacou o capital de giro. Hoje está atacando o lucro. O que eles (parentes dos traficantes) compram, o que eles se beneficiam do dinheiro do tráfico.
Há outras investigações desse porte?
Sim, e maiores que essa que vão atingir barões do tráfico do Rio de Janeiro. Mas para que isso seja rotina, a gente deslocou boa parte do nosso orçamento para a inteligência. Estamos investindo em tecnologia para infiltração entre os investigados, para a compra de um software que faça a leitura das informações sobre as investigações de lavagem de dinheiro. Ganhamos o laboratório de lavagem de dinheiro e estamos qualificando nossos policiais. Esse software é extremamente sofisticado e faz em cinco minutos cruzamento de dados que manualmente demoraria um ano. Hoje isso é feito manualmente, com pesquisa. O policial busca um por um. Aí o portal (site que vai compartilhar, parcialmente, os bancos de dados da PM, Polícia Civil, Secretaria de Administração Penitenciária e Detran) também vai ter a sua função. Temos um banco de dados poderosíssimo e vamos passar a ter ferramentas para fazer investigações poderosíssimas.
A Divisão de Homicídios, que será inaugurada este mês, também está prometendo essas investigações poderosíssimas. Mas o índice de elucidação de homicídios com identificação do autor no Rio, segundo dados do Instituto de Segurança Pública de 2007, é de 9%. Esse percentual vai aumentar em quanto com a divisão?
Trabalhamos sempre para atingir 100% das elucidações dos crimes, mas nem sempre dá, por uma série de fatores. A diferença da divisão para as outras delegacias é que ela terá todos os profissionais, peritos, agentes e delegados, juntos na investigação desde a chegada ao local de crime até a conclusão do inquérito. Ter uma equipe completa atuando junto às chances de colocar o assassino na cadeia são grandes.
Ao assumir a chefia, o senhor priorizou o combate às milícias. Em 2008, foram presos 78 milicianos. Este ano, 252. Como alavancou esses números?
Hoje criou-se uma cultura de combate à milícia. Quando a Polícia Civil escolheu milícia como prioridade, conseguiu institucionalizar o problema e trazer outras instituições como o MP (Ministério Público) e o Judiciário, que estão do nosso lado. Tenho certeza de que hoje o miliciano sabe exatamente o peso da mão do estado.
É mais difícil combater a milícia ou o tráfico?
O que se tinha era uma habilidade maior para investigar o tráfico. As pessoas já sabiam fazer a investigação do tráfico e acabava que essas eram as únicas investigações feitas.
Outra novidade da sua gestão é a Coordenadoria de Controle de Presos, comandada pelo delegado Orlando Zaccone. Mas a custódia de detentos pela Polícia Civil, que hoje ainda cuida de cerca de 4 mil presos, é inconstitucional.
Essa é uma questão discutida há tempos, mas que nunca foi resolvida. Quando cheguei aqui, a delegacia da Pavuna (onde também há presos) não sabia o que acontecia na Baixada (que tem delegacias com carceragens), a Polinter também não. A gente não tinha uma real noção do que era a carceragem na Polícia Civil. Quantos presos a gente tinha, qual tipo de preso (a que facção pertencia). Com a criação da coordenadoria, ela passou a controlar essas informações. Hoje, as carceragens da Polícia Civil estão organizadas, mas estamos organizando algo que não é nosso. Para a Polícia Civil, melhorar também tem que largar isso (custódia de presos). Hoje, a Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) fala com uma pessoa (Zaccone). Antes, tinha que falar com 11 carcereiros-chefes. Mas até o fim do ano, teremos todas as delegacias legais e as carceragens na Polícia Civil vão acabar.
Uma semana depois de assumir a Chefia de Polícia, o senhor prendeu Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, o criminoso mais procurado do estado na ocasião. Prisões fora do Rio e no Paraguai também foram feitas.
O Batman foi uma questão de persistência. Ficamos dias onde ele estava até pegá-lo. Ele gravou um vídeo falando sobre a milícia que deixou a sociedade perplexa. Foi um deboche, uma afronta ao estado e não podíamos permitir aquilo.
E as prisões fora do Rio também são um novo modelo de ação?
Vamos atacar não só o varejo, mas o atacado. Prendemos ainda quadrilhas envolvidas em outros crimes, como os fraudadores do RioCard e de ingressos. Com a padronização das investigações, a gente começa a ensinar a investigar da maneira que a gente entende que é correta, que é buscando sempre o caminho do dinheiro. Segue o dinheiro que você encontra o principal criminoso.
Os índices de criminalidade caíram onde há Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O que isso representa para a Polícia Civil?
Agora as comunidades vão funcionar como bairro. Cabe à Polícia Civil trabalhar a favela da mesma forma que o bairro. A delegacia do bairro vai atender a UPP como atende o asfalto. Aí você vai integrar o asfalto à favela. Essa é a nossa visão: valorizar o policiamento ostensivo e, dentro desse contexto, o trabalho de investigação vai ser feito de forma integrada. É a solução perfeita.
Mas não é comum as duas polícias atuarem juntas.
A 32ª DP (Jacarepaguá) fez uma investigação na Cidade de Deus — Operação Fórceps, que prendeu traficantes no início do mês — e, na hora de executar, chamamos a PM. Foi uma parceria sem dar um tiro, coisa inédita. Se estão dominando aquele local e vem dando certo, por que não chamar para a parceria?
Nessa gestão, a cúpula da segurança passou a ter metas a cumprir. A produtividade na Polícia Civil continuará a ser cobrada?
Vai continuar. Quando você tem um plano de metas, é a Secretaria de Segurança Pública vislumbrando o estado como um todo. Isso aí é uma organização fundamental para ter em 2010 um resultado mais expressivo ainda. Estou com meu menor índice de roubo e furto de automóveis dos últimos 12 anos e com o dobro da frota: tinha 2 milhões de carros e agora tenho 4 milhões. Baixamos todos os índices.
É sorte?
Não, é trabalho, é planejamento.
Mas a Polícia Civil ainda tem problemas. Qual o principal deles?
O corporativismo. Vou fortalecer a corregedoria. Há policiais envolvidos em extorsões, milícias. Este ano de 2010 vai ter policial civil prendendo policial civil. Pode acreditar.
Vocês já estão se preparando para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016?
Sim. Já fechamos vários convênios com cursos aqui e fora do Brasil. Vamos mandar nosso policiais para o exterior e vamos trazer pessoas de fora também para ajudar os policiais nessa preparação. Se conseguir implantar a nova escala de trabalho, ainda vou instituir o curso de inglês e espanhol para os policiais.
O governo Sergio Cabral, teoricamente, termina ano que vem e, consequentemente, o senhor deixará esse cargo. Que marca o senhor quer deixar da gestão Allan Turnowski?
Quero que o policial tenha orgulho de dizer que é policial civil. Que um filho possa dizer que o pai é policial civil. Se conseguir isso, já estou satisfeito.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
Ex-CORREGEDOR INTERNO

3 comentários:

Anônimo disse...

Para isto acontecer, o salário básico de um policial civil em início de carreira deverá ser de 4 mil reais! Será que o governo vai realmente querer comprar o bico do policial, seja militar ou civil? Se tirarem o bico (o que realmente sustenta o funcionário e sua família) e pagarem esta merda de 5% que o governo está oferecendo, os resultados de investigações surtirá o efeito contrário e será desastroso para a secretaria de segurança pública. A retaliação é certa! "Quem avisa amigo é". Hoje, somente no bico, o policial arruma no mínimo uns 2,5 mil todo mês! Estão querendo mexer em casa de marimbondo. Quando dói no bolso, o bicho pega! É esperar pra ver.

Anônimo disse...

Pô, amigos da PCERJ, vamos sair das páginas da intern et e vamos tomar as ruas!!!!
A gente fica parecendo um bando de trouxas acreditando em promessas feitas por àqueles que sempre, às vesperas de eleições, prometem e não cumprem!
Porra!!! Nós somos policiais e não imbecis!!!
Que se danem os delegados, vamos parar!!! Esses canalhas, salvo raríssimas excessões, estão mais preocupados em dar aulas em cursos ou faculdades, estudar para concursos ou receberem as subvenções pagas àqueles que são titulares de delegacias!!!
Eu quero ver o governador demitir 11 mil policiais civis!!! Eu quero ver Delegado sentado em um plantão junto com o chefe de SI fazendo RO, fazendo flagrante, aguentando maluco enchendo o saco de madrugada!!!!
A gente não sabe a força que tem!!!
E outra coisa! Não vamos esperar que a população nos prestigie em nosso pleito pois ela nunca ficará!!! Então, como é que é? Vamos a greve e dane-se as consequencias!!! A fome não espera, o tempo não para e as contas sempre chegam!!!!
Será que teremos que ficar nos contentando com esta merreca de R$ 350,00, condicionados aos malditos cursos que temos que fazer?? Será que um policial que trabalha em delegacia convencional não merece o mesmo salário daquele que trabalha em uma "Legal"?
Agora querem mudar a escala e o chefe de polícia diz que em 2010 vai ter policial civil prendendo policial civil!!! Tudo bem, mas quem vai prender aqueles que pegam os "acertos mensais"?? Quem vai investigar como o Sergio Cabral tem uma propriedade que custa um valor estratosférico ???
Vamos continuar sendo massacrados e os reacionários da nossa classe, para não perderem suas tetas, vão ser os primeiros a nos massacrar!!!
Greve já!!!! Greve em 2014!!!! Greve em 2016!!!!!
condição número 1: Se alguém for punido, a greve continua!!!
condição número 2: Trazer os maiores transtornos possíveis para a população, porque fazer greve e fazer registro de remoção de cadáver, flagrante e registro de furto ou roubo de carro, não dá!!!!
AUMENTO DECENTE OU GREVE!!!!

JULIO CESAR disse...

SENHOR CORONEL.

Conheci muito bem os meandros dessa falida instituição denominada polícia civil, isso tudo proferido pelo Chefe de Polícia é mera balela para dormitar bovino. Em princípio, a decadencia da policia civil começou quando abriu concurso publico para o cargo de Delegado de polícia, onde meros bacharéis sem experi~encia e vivância em investigação criminal assumiram de imediato o ápice da polícia civil. Resultando até mesmo na demissão de um chefe de Polícia, integrado pelos mesmos delegados que atualmente estão na cúpula da Polícia Civil. Nas Unidades Policiais não existem Delegados de plantão, ou estão am algum cargo em comissão fora da polícia civil, ou ficam em suas residências aguardando a existência de eventual prisão em flagrante. è preciso colocar sim, primeiro os Delegados para trabalharem. Em segundo prisma, o Estado não remunera adequadamente o servidor policial cvil, logo não tem moral para exigir que seja reduzida suas horas de folga. Aqueles que nada conehcem da Polícia, as delegacias são desiganadas para os delegados alcunhados por "joqueis", pois ficam sobre o cavalo mas não é dono, proprietario, mas sim um agente de autoridade ligada a algum político.Falar em reduzir horas de lazer é fácil, gostaria que esse Chefe de Polícia, oriundod e concurso, que mal conhece a policia, pois chegou muito depois de minha pessoa no cargo policial,afirmasse que é injusto a defasagem salarial entre Delegado e Inspetores de Policia e demais agentes de autoridade. Que é não é justo nem decente o delegado se situar em tabela de vencimentos exclusiva, . O Serviço de Plantão Policial poderia ser chefiado por Comissários de Polícia, ou Inspetores, possuidores do curso de bacharel em direito, para fins de tipificar infrações penais e autuar em casos de prisão em flagrante (autuar significa formar autos), sem interferir na funções e atribuições dos Delegados de Polícia resolvendo o problema da falta de bacharel para casos de flagrante de dleito, mas não é de interesse da corporativa classe dos delegados. Julio Cesar. Inspetor de Policia Civil aposentado.