quinta-feira, 9 de abril de 2009

UM SENTIMENTO DE COMPROMETIMENTO DO PODER PÚBLICO COM A CRIMALIDADE


Eu tenho tratado neste espaço com certa frequência dos temas “milícias” e “jogo dos bichos”, dois dos flagelos que destroem o estado do Rio de Janeiro.
As “milícias” são um fenômeno recente, uma nova frente da criminalidade, embora as denominadas “polícias mineiras” já existissem há décadas. Porém, não passavam de grupos que vendiam proteção para comerciantes e agiam como justiceiros, via de regra, em desfavor dos criminosos.
Hoje, as milícias integram uma rede de negócios clandestinos com um faturamento difícil de estimar, na certeza que são da ordem de milhões de reais.
O “jogo dos bichos” é nosso velho conhecido, bem como, as mortes decorrentes da disputa por territórios.
Alegam alguns que ele não faz mal a ninguém, sendo meio folclórico. Dizem que sempre foi ligado ao mundo do samba e historicamente ligado à Liga Independente das Escolas de Samba, como afirmou o Secretário de Segurança do Rio de Janeiro.
Incautos (ou oportunistas) justificam a não repressão, alegando que se o próprio Estado pode explorar loterias (jogos de sorte e azar), por que os “banqueiros” não poderiam?
Tolos percebem a contravenção (jogo dos bichos) como um mal menor, quando na realidade os negócios dos “banqueiros” já ultrapassaram em muito às esquinas da cidade, como no caso das maquininhas, cuja disputa por espaço já consumiu dezenas de vidas.
O “jogo dos bichos” e as “milícias”, conta a lenda, distribuiriam “caixinhas” para todos os lados, isso governo após governo.
O “homem da mala” seria o portador de tais benesses.
Verdades ou mentiras, o certo é que o “jogo dos bichos” praticamente não sofre qualquer repressão no Estado do Rio de Janeiro.
E as milícias, apesar de serem reprimidas aqui e acolá, continuam se espalhando, explorando clandestinamente: segurança, gás, gatonet, transporte alternativo, percentual na compra e venda de imóveis, etc.
Partes do território brasileiro onde o Estado não detém os monopólios do uso da força, da justiça e da tributação.
Partes do Brasil que não são verdadeiramente do Brasil.
E o que me levou a voltar a tocar no assunto?
A quantidade de emails que tenho recebido sobre o “jogo dos bichos” e às “milícias”.
A população está estarrecida com a incapacidade do Estado em combater as milícias que avançam com uma capilaridade assustadora e a omissão governamental na repressão ao "jogo dos bichos".
Vozes falam de milícias em Volta Redonda, por exemplo, e do “jogo dos bichos” nos quatro cantos, inclusive em outros estados, sendo os seus beneméritos (banqueiros) pessoas de notoriedade social, autênticos “capos”.
Finalizo, deixando questionamentos:
Será que as malas são verdadeiras?
E se forem, quanto carregariam de dinheiro?
Quem as receberia?
Qual seria a destinação dada ao dinheiro?
E se tudo isso for mentira?
Se tais malas não existirem?
Por que, governo após governo, o Estado Fluminense não reprime o “jogo dos bichos”?
Tal ação repressora emprestaria um sentido de moralidade, considerando que a existência das “milícias” e de um ponto do “jogo dos bichos” em cada esquina da cidade, emprestam um sentimento de comprometimento do poder público com a criminalidade.
Vamos imitar Nova Iorque
, implantando um “tolerância zero”, progama tão decantado pelos estudiosos como uma das soluções para a criminalidade, vamos fechar o “jogo dos bichos” e se ele existir, vamos prender o “homem da mala”.

É DEVER DO ESTADO E, PORTANTO, DOS GOVERNANTES AGIR A FAVOR DA LEI!


PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO