segunda-feira, 13 de abril de 2009

OUTRO ACUSADO DE SER MILICIANO É SOLTO PELA JUSTIÇA - ROBERTA TRINDADE.

Pouco mais de três semanas após ser preso e apresentado como integrante da milícia Liga da Justiça pelo delegado Eduardo Soares, adjunto da Divisão de Capturas e Polícia Interestadual (DC-Polinter), o técnico em imobilização ortopédica Marciel Paiva de Souza, 29 anos, ganhou a liberdade. A denúncia feita contra ele, de formação de quadrilha, porte ilegal de arma e receptação, não foi aceita pelo Ministério Público e a Justiça concedeu-lhe um alvará de soltura, que foi cumprido na última quarta-feira.
Após ficar 25 dias preso, o técnico em imobilização ortopédica, que já foi fuzileiro naval e guarda municipal, desabafa, em entrevista exclusiva ao jornal Povo do Rio: “Meu maior medo é morrer”.
Em liberdade há quatro dias, ele contou que esta foi a segunda prisão arbitrária efetuada pela mesma equipe de policiais e relembrou da anterior, ocorrida em junho do ano passado, quando eles ainda estavam na 35ª DP (Campo Grande). Detido naquele dia 12, ele foi mantido durante três dias na custódia da delegacia e transferido somente no dia 15 para a carceragem da 39ª DP (Pavuna), onde permaneceu durante 42 dias, sendo posteriormente absolvido pela Justiça da acusação de ser miliciano.
“Minha intenção não é agredir as autoridades, e sim pedir ajuda. Se existe uma Corregedoria séria e honesta, peço que alguma coisa seja feita. Me dêem meu direito de ir e vir. Me sinto um alvo com vários fuzis e canhões apontados e, em conseqüência disso, tenho medo. Espero conseguir chamar a atenção do Ministério Público e da Justiça, para que eles combatam os policiais corruptos. Tô vivendo uma vida de bandido”, desabafou.
No dia 3 de janeiro deste ano, integrantes do grupo de milicianos conhecido como Comando Chico Bala invadiram a Favela do Barbante, em Inhoaíba, e tentaram matá-lo. Um morador, identificado como Adílson de Souza Alfredo, 33, acabou atingido por bala perdida na perna, enquanto Marciel conseguiu fugir.
“Eu estava indo para a padaria quando ouvi uma voz masculina perguntando: “é aquele ali, Popeye?” e olhei para trás, quando vi e reconheci o Escangalhado. Eles começaram a atirar e todas as pessoas que estavam na rua correram, inclusive eu. Fiquei escondido e logo depois eles falaram: “vambora, vambora que vai babar””, relembrou.
No início deste mês, o juiz Sidney Rosa, do 3º Tribunal do Júri da Capital, decretou a prisão dos ex-PMs Herbert Canijo da Silva, o Escangalhado; Alexandre da Silva Monteiro, o Popeye; Cláudio José de Souza Gregório e Carlos Mendes da Silva Filho. Os dois últimos foram presos em flagrante, no dia 24 de janeiro, no momento em que agrediam motoristas de vans próximo ao terminal rodoviário de Campo Grande.
Os ex-PMs foram denunciados pelo Ministério Público pela tentativa de homicídio contra o técnico em imobilização ortopédica. Na denúncia à Justiça, os Promotores de Justiça de Investigação Penal Bruno de Lima Stibich e Marcus Vinícius da Costa Moraes Leite explicam que a prisão preventiva é imprescindível devido à periculosidade dos acusados, principalmente pela maneira como praticaram o crime, típica dos grupos de extermínio.
Dois meses após o incidente, Marciel gravou um vídeo onde pedia ajuda e denunciava integrantes do Comando Chico Bala, grupo liderado pelo ex-PM Francisco César Silva Oliveira, o Chico Bala, e rival da Liga da Justiça, controlada pelo também ex-PM Ricardo Teixeira Cruz, o Batman. O conteúdo da fita foi divulgada com exclusividade pelo Jornal POVO do Rio.
“Hoje eu acredito que os maiores milicianos são os delegados Eduardo Soares e Marcus Neves. Eles usam o poder do Estado. O delegado é um miliciano protegido, que forja prisões e trabalha para favorecer outro grupo”, denunciou o técnico em imobilização ortopédica.
“Eu procurei a Corregedoria da Polícia Civil e denunciei as arbitrariedades que os dois cometiam. Fui preso injustamente por eles e inocentado pela Justiça. Depois disso pedi proteção, mas nunca recebi. Quando me prendeu, o Eduardo falou que eu merecia estar na vala e disse que tudo que eu tinha pedido estava arquivado, pois ele tinha apoio do Secretário de Segurança”, afirmou Marciel.
A denúncia acontece três semanas após a absolvição de um PM acusado pelos mesmos delegados de ser miliciano. No dia 14 de julho do ano passado, o sargento reformado Airton Padilha Meneses, 42 anos, teve sua casa, também em Inhoaíba, invadida pelo delegado Eduardo Soares e os ex-PMs apontados como integrantes do Comando Chico Bala. Ele foi preso, acusado de envolvimento com a Liga da Justiça e autuado por porte ilegal de arma. Oito meses depois, foi absolvido pelo juiz Rubens Casara, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, que destacou, em sua sentença: “ilegalidade não se combate com ilegalidade”.

PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO

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