terça-feira, 6 de dezembro de 2011

INSEGURANÇA NAS RUAS – ANTROPÓLOGO GILBERTO VELHO.

"Estamos vivendo, há alguns meses, um clima de uma certa euforia em relação à situação econômica do Brasil. Isto se manifesta sobretudo dentro do quadro crítico mundial, através do contraste com sociedades do mundo conhecido como desenvolvido. Em alguns momentos, pode até aparecer um certo triunfalismo tosco, pois é evidente a vulnerabilidade de nosso país dentro de um quadro de crise internacional. Há quem, com ligeireza, tome ares de grande potência. Este comentário não significa negar as conquistas obtidas através de esforço, sacrifício e competência. Estamos mais protegidos hoje do que a grande maioria de nações cuja imagem é particularmente marcante e significativa. Falamos de Espanha, Itália e Portugal, entre outros. Os problemas nos Estados Unidos também evidenciam impasses, aumentando os temores em relação ao seu próprio futuro, com consequências para todo o mundo.
Convém lembrar que essa situação relativamente mais sólida e segura do Brasil, não se traduz em um cotidiano de maior civilidade, apesar da diminuição da pobreza. Se os índices econômicos são gratificantes, o mesmo não se pode dizer de várias outras questões sociais, sobretudo a da violência, em que disputamos as piores colocações.
Os progressos obtidos no Rio de Janeiro, através de uma política de segurança que focaliza as áreas antes dominadas pelo trafico, não podem obscurecer a permanência e mesmo o agravamento da insegurança no asfalto da metrópole. Sabemos de numerosos episódios que atingem as camadas populares, mas parece haver uma certa cegueira diante do que está ocorrendo nos bairros de classe média, sobretudo na Zona Sul. Não importam as estatísticas oficiais, sempre incompletas pelo simples fato de não haver registro de boa parte das ocorrências. Acabou de ser assaltado e baleado na Praia de Botafogo um aluno da Fundação Getúlio Vargas, num horário em que passam centenas de pessoas nas suas tarefas e atividades diárias.
Há alguns dias, no início da tarde de um dia de semana, dois senhores foram assaltados à saída de banco, na Rua Visconde de Pirajá, por assaltantes de motocicleta e armados. Tem pouco tempo que um arquiteto foi assassinado na Rua Prudente de Moraes, em Ipanema. E assim por diante.
Praticamente todas as pessoas ou já foram ou conhecem alguém que já tenha sido assaltado com maior ou menor violência. A própria mídia parece não se interessar muito por essa situação. Há uma naturalização da experiência com a criminalidade, como se estivéssemos lidando com o vento e com a chuva, que são fenômenos que ocorrem e que escapam em grande parte do nosso controle.
É evidente que as medidas tomadas até agora para conter a criminalidade são importantes, mas são insuficientes. Não só é necessário implementar em grande escala políticas de natureza social nas áreas menos privilegiadas, como é crucial proteger os bairros de classe média que parecem ter se tornado, mais ainda, campo de caça de criminosos acuados, possivelmente pelas UPPs.
Está mais do que evidente que o fim do ano, época de compras de Natal açula um movimento criminoso de ataque a consumidores, lojas e cidadãos em geral, moradores e frequentadores, principalmente, da Zona Sul. É necessário não ter vergonha de denunciar o descuido e o desprezo pela segurança mais elementar dessas pessoas que ocupam um lugar respeitável na sociedade brasileira. A sua situação aparentemente mais próspera não pode justificar a indiferença das autoridades diante do que está se passando sob os seus olhos. Policiamento ostensivo não pode ser visto como uma medida repressiva, simplesmente, mas como um instrumento de proteção para moradores de todas as categorias sociais da cidade. Não deve haver uma oposição entre política de segurança para liberar áreas marginalizadas e uma atenção maior quanto ao agravamento flagrante da segurança das ruas da cidade, algo que não pode ser desmentido pelas estatísticas oficiais".
Juntos Somos Fortes!

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