segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A DISPUTA PELO FURO JORNALÍSTICO E A PRESERVAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES

A leitura do livro Mídia e Violência desperta o leitor para o complexo universo da mídia e o seu grande poder, formar opiniões.
No Brasil a dimensão desse poder pode ser sintetizada em uma palavra:
Impeachment.
No momento em que a mídia investiu nessa palavra, no passado recente, a palavra virou fato histórico e quando essa palavra foi esquecida ou pouco lembrada pela mídia, no passado mais recente ainda, a vida seguiu o seu curso e a história foi escrita com outras palavras.
A mídia pauta decisões pelo mundo inteiro, eis uma verdade.
Um dos temas abordados no livro se refere à necessidade da mídia se adaptar à cobertura dos fatos relacionados à segurança pública, tema que ganha importância cada vez maior no cenário nacional e internacional.
O livro trata ainda das transformações que tem ocorrido na mídia, inclusive na linha editorial de alguns jornais, com relação ao tema.
A notícia online, proporcionada pela grande rede, é um dos grandes desafios a serem superados e todos investem nos seus sites e na velocidade da informação.
Outro tema tratado no livro é a crescente qualificação dos seus profissionais, um objetivo perseguido em todo momento e nesse sentido, o “repórter do crime” ganha cada vez mais importância nas redações.
O relacionamento com as fontes também passa pelas transformações próprias desse processo de modernização, sendo que a credibilidade das fontes ganha contornos de maior relevância.
Uma informação confiável é imprescindível.
Uma notícia desmentida simboliza o descrédito.
Entretanto, apesar de todas as mudanças em curso, o furo jornalístico continua sendo um dos objetivos principais.
Dar um furo significa estar na frente e isso é fundamental em qualquer atividade humana, principalmente em uma atividade comercial.
No domingo – 11 de novembro - um furo foi disputado.
O jornal Extra publicou degravações de conversas entre Policiais Militares e traficantes investigados na denominada operação duas caras.




E o Extra online disponibilizou áudios dessas conversas:
http://extra.globo.com/
“AÚDIOS: QUE TROPA É ESSA?”

Enquanto isso, no Dia online, foi reproduzida a capa do dia 22 de setembro, quando o jornal publicou degravações da mesma operação duas caras.
http://odia.terra.com.br/
“QUATORZE DOS 44 PMs JÁ ESTÃO PRESOS.”
“EDIÇÃO DE 22 DE SETEMBRO REVELOU ESCUTAS ENTRE TRAFICANTES E PMs.”


Instalou-se a disputa.
Quem deu o furo jornalístico?
Quem merece o crédito de estar na frente?

Buscar essas respostas não é o objetivo desse artigo, essa disputa só interessa aos órgãos de imprensa, o nosso objetivo é diverso, trazer o foco para dois outros aspectos, a legalidade e o combate a impunidade.
A impunidade tem sido apontada como um dos grandes problemas nacionais e o corporativismo é um tema relacionado com essa impunidade.
Historicamente a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro tem lutado contra o corporativismo e os nossos números demonstram claramente que a impunidade não encontra amparo na nossa Instituição.
Os desvios de conduta dos integrantes da Polícia Militar são investigados e quando comprovados, punidos com rigor, sendo garantidos os direitos constitucionais do contraditório e da ampla defesa dos acusados.
Portanto, a sociedade fluminense pode ter certeza que a Instituição responsabilizará todos que tiverem praticado desvios de conduta.
Entretanto, os crimes relacionados à operação duas caras, não estão restritos aos contidos nos autos, considerando as notícias veiculadas pela mídia.
Eles saem dos autos.
Furos jornalísticos a parte, quem tem fornecido documentos e/ou provas contidas nos autos para a mídia tem praticado crimes, salvo melhor juízo.
Quem está violando o sigilo, fornecendo material para tais notícias, deve ser identificado e responsabilizado.
E a violação desse sigilo começou logo no dia 17 de setembro, dia da prisão dos integrantes da Polícia Militar, em cumprimento aos mandados de prisão expedidos, quando o Jornal Nacional, da Rede Globo, revelou fotos dos integrantes da Polícia Militar investigados na operação duas caras, em rede nacional.
Talvez esse tenha sido na verdade o primeiro furo jornalístico relacionado com a operação duas caras, não querendo tomar partido na disputa jornalística.
No dia seguinte, 57 (cinqüenta e sete) fotografias dos investigados ilustravam a matéria do jornal Extra (página 3), com o título:
“PM RECEBIA ARREGO COM SENHA.”
Fotos cedidas pela Corregedoria Interna da Polícia Militar à 59ª Delegacia Policial, através da 3ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, para instruir o inquérito policial, acabaram publicadas no jornal.
Os furos jornalísticos aconteceram na seguinte ordem:
- divulgação de fotos;
- divulgação de degravações; e
- divulgação dos áudios.
A cessão das fotos, das degravações e dos áudios fere de morte a legalidade, prejudicam o prosseguimento das investigações e ainda, violam direitos constitucionais dos investigados.
Como recuperar a honra daqueles que foram expostos publicamente, sobretudo se não forem condenados no final do processo?
Não deve restar dúvida quanto à responsabilidade por essas ilegalidades.
A apuração deve ser rigorosa, caso contrário, ficarão expostas ao descrédito Instituições, que devem ser preservadas a todo custo.

PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL
CORREGEDOR INTERNO

9 comentários:

CHRISTINA ANTUNES FREITAS disse...

Sr.Cel. Paúl!

À Cesar o que é de Cesar!!!!
Ufa! Esta resposta estava sendo esperada à algum tempo, mas acredito que eu seja um tanto ansiosa. O Sr. deve ter seus motivos estratégicos para colocar este texto agora.
Eu mesmo, por diversas vezes lhe fiz esta pergunta: "Quem expõe as fotos dos Policiais Militares investigados na mídia?".
Nós, Sociedade Fluminense e até mesmo uma parte da PMERJ, aguardávamos um pronunciamento à respeito, e confesso: "Perfeito!".
Então, procuremos o "pau que costuma dar em Chico, para dar forte também em Francisco!!!!

Um abraço,
CHRISTINA ANTUNES FREITAS

Anônimo disse...

A volta triunfal dos Treme-Terras, o Cel PM Hudson e o Água de Salsicha vão voltar. Aguardem.

Wanderby disse...

A verdade, núa e crua, doa em quem doer!
E o que é mais importante ainda: a coragem para externá-la.
Parabéns Sr Coronel de Polícia Militar; sua atitude nos é fonte de orgulho e motivação.

Anônimo disse...

Aleluia! Um artigo seu com substância! Parabéns, finalmente!

Anônimo disse...

Perfeito, Sr Cel Paúl!
Somente aqueles que já sofreram a exposição midiática e depois tiveram que resgatar sua honra através de custosos processos judiciais, sabem como é importante a prestação de tal esclarecimento.
Este tipo de mídia - o blog - revoluciona a informação, pois não estando atrelada a dependência financeira que sofrem os demais veículos de comunicação social, mostra a uma face mais real dos fatos, sem o viés ideológico e financeiro - apenas mostra os fatos. E fatos falam por si só.

Meus Parabéns pelo brilhante texto!


Turma 76

Anônimo disse...

CARO CORONEL QUEM FORNECE DADOS DO INQUERITO E INVESTIGAÇÃO PARA A MIDÍA DEVE SENTAR NO BANCO DOS REUS,POIS PELO COMENTARIO QUE TEMOS OS MESMOS SÃO ACUSADOS,NADA ESTA CONCLUIDO,PORTANTO A JUSTIÇA DEVE AVERIGUAR COM RIGOR ESTAS INFORMAÇÕES.

Anônimo disse...

Voces se esqueceram que os Delegados fizeram uma reunião com o simples intuito de inventar ou desfigurar os fatos para incriminar o máximo de Policiais Militares na mídia para nos desmoralizar?

Wanderby disse...

Retificando: "nua e crua".

Anônimo disse...

Fico feliz pela coragem de expor a verdade, porém uma pergunta:
Somente a exoneração do Dr. André Drumond (titula a época da divulgação da 59 DP) foi a punição pelo furo das fotos??????? Criminalmente o que ele está respondendo ??????? Pelo que entendi ele que era o autor do IP (operação duas caras) que permitiu a divulgação das fotos com a finalidade de manchar a nossa PMERJ e valorizar a PC !!!!!!!