segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

JORNAL DO BRASIL - 21/01/2008 - PAGAMOS MAL OS QUE NOS SERVEM

O artigo transcrito a seguir foi publicado no Jornal do Brasil e no JB Online:

Pagamos mal aos que nos servem e protegem
Marcus Quintela - Engenheiro
"Os brasileiros, de um modo geral, criticam, o tempo todo, a qualidade dos serviços públicos no país, reclamam dos políticos que eles próprios elegeram, e exigem, por direito, o retorno para a população, na forma de benefícios coletivos, dos impostos, taxas e contribuições que lhes são impiedosamente cobrados. Sem dúvida alguma, penso que isso é legítimo e democrático, até porque pagamos o maior número de tributos do mundo, nossa carga tributária corresponde, absurdamente, a quase 40% do PIB, a economia não cresce e a maioria do povo brasileiro ainda carece das necessidades humanas básicas, ou seja, não recebe saúde, saneamento básico, nutrição, habitação, educação, segurança e transporte.
Então, qual seria a solução? Como eu não tenho uma solução imediata e definitiva para esse problema e não gostaria de recair naquela velha máxima de que o povo não sabe votar e deveria escolher melhor seus governantes e legisladores etc e tal, vou defender a tese de que a qualidade dos serviços públicos brasileiros é diretamente proporcional às condições de vida e bem-estar dos servidores, à conscientização da sociedade, ao nível de eqüidade social e ao bom senso político. Além disso, penso que os governantes deveriam entender que os baixos níveis salariais da imensa maioria dos servidores públicos, civis e militares, que efetivamente trabalham, ou seja, "carregam o piano", custam muito caro para a sociedade como um todo. Cabe ressaltar que não considero salário sinônimo de competência, ainda mais quando a vida nos mostra que existem servidores bem remunerados que trabalham pouco e servidores mal remunerados que trabalham até demais.
Como exemplo, vou citar apenas três serviços públicos essenciais para a sociedade, que são mal prestados e pagam salários humilhantes, depreciativos e insuficientes para o sustento digno de uma família: educação, saúde e segurança. Nossos professores trabalham muito, não têm tempo para reciclagem e atualização e são obrigados, muitas vezes, a atuarem em outras atividades para complementar suas rendas. Na área da saúde, as condições físicas e técnicas são precárias e insalubres e é muito comum encontrarmos servidores atuando em mais de um local, de forma estafante, para também conseguirem uma renda melhor. Nossos policiais, especialmente os militares, trabalham sob pressão o tempo todo, sem equipamentos e armamentos adequados, com falta de logística e inteligência de apoio, moram quase de forma clandestina nas grandes cidades, pois não podem revelar suas identidades. Além disso, essas três categorias de servidores, em muitos casos, moram em favelas, vestem-se mal, não têm lazer e suas famílias sofrem com os riscos a que estão expostos diariamente.
Salvo as raríssimas exceções existentes em nosso país, os servidores públicos que nos servem e nos protegem não são adequadamente treinados e equipados e ainda recebem salários incompatíveis com a responsabilidade e a complexidade das tarefas que realizam. Logicamente, isso jamais pode servir como justificativa para a incompetência, inoperância e negligência durante a prestação dos serviços públicos.
Por fim, cabe aqui mais uma questão: como os serviços públicos poderiam ser prestados em nível de excelência? À primeira vista, bastaria o Estado contratar pessoal qualificado, alicerçado por um plano de cargos e salários condigno e imune às ingerências políticas, implantar sistemas de gestão e fiscalização informatizados, isentos e inexpugnáveis, e possuir mecanismos de premiação e punição desses recursos humanos. Penso que somente essas ações já trariam motivação, orgulho e auto-estima para os servidores públicos, e, como conseqüência, ocorreria, em curto prazo, a melhoria natural dos serviços públicos. Caro leitor, deixo para reflexão este instigante, provocativo e polêmico assunto, com o simples objetivo de abrir discussão e criar um fórum de debates sobre o retorno de nossos tributos na figura da prestação de serviços públicos".
[ 21/01/2008 ] 02:01
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORREGEDOR INTERNO

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