segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

DIA ONLINE - EVASÃO DOS MILITARES DE POLÍCIA

DIA ON LINE
7/1/2008 02:07:00
A elite pede pra sair
Estudo de associação mostra que oficiais colocados em primeiro lugar durante curso de formação na Polícia Militar do Rio já se encontram fora da corporação
ADRIANA CRUZ E GUSTAVO DE ALMEIDA
Rio - Além da evasão de seis policiais em média a cada mês, a PM convive ainda com outra triste realidade — e que não começou na gestão atual: os melhores e mais bem formados oficiais também acabam pedindo para sair. Estudo realizado pela Associação dos Militares Auxiliares e Especialistas (Amae) revelou que, no período de 1995 a 2004, todos os tenentes que terminaram em primeiro lugar o curso da Escola de Formação de Oficiais (atual Academia Dom João VI) estão fora da corporação.
Do total de 10 tenentes — um a cada ano —, sete pediram baixa e saíram da PM, um morreu em combate e dois ficaram na corporação mas estão trabalhando como adidos em outros órgãos — nestes casos, do Poder Judiciário. “A questão da deterioração de salários e formação não começou agora. O que estamos vendo agora são as conseqüencias de décadas sem investimento”, diz o tenente Melquisedec Nascimento, presidente da Amae. Para o tenente, o descaso dos governos promete ter fim, se a lógica funcionar. “Em dezembro, as vendas nos shoppings aumentaram 7% em relação ao mesmo mês de 2006, principalmente no setor têxtil. O que podemos concluir é que assim a arrecadação de ICMS aumentou, logo, esse aumento de arrecadação, somado aos R$ 600 milhões em caixa anunciados pelo estado, permite ao governo ter condições de dar um reajuste salarial bem superior aos 4% já previstos para 2008”, diz.
O DIA revelou ontem que cursos preparatórios para concursos públicos de outras carreiras estão lotados de policiais militares. Em um deles, o da Academia do Concurso, há 400 PMs estudando para tentar a sorte em outra instituição.
Policiais como o capitão reformado Paulo Storani, atual secretário de Segurança de São Gonçalo — ex-instrutor do temido Curso de Operações Especiais do Bope, saíram da corporação mas não renegam a farda. Sua crítica é ao sistema, que na visão dele não premia a formação. “Estudar é muito bom, o ‘problema’ é que o estudo esclarece, e o esclarecimento eleva a capacidade de argumentação, e no serviço público, argumentar ainda não é entendido como forma de dar qualidade às decisões”, diz o policial.
CORAÇÃO AZUL E DECEPCIONADOS
Sobre a mesa do Ministério Público, a bandeira em referência ao 11º BPM (Nova Friburgo), com a inscrição Batalhão Tiradentes,representa um dos maiores ícones da vida do procurador Astério Pereira dos Santos: a Polícia Militar. Mesmo há 17 anos fora, Astério se considera 'um pele azul'.
As recordações dos 21 anos — tempo de serviço militar prestado — são relatadas com orgulho, permeado por amargura. “A PM me ensinou a estudar e isso foi tudo na minha vida. Era de família pobre, pai detetive inspetor”. Ao descobrir esquema de notas frias na compra de peças de carro no 19º BPM (Copacabana) no fim dos anos 80, decepcionou Astério. Ao lutar contra o sistema, foi punido com a reforma compulsória.
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORREGEDOR

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