O Dia online:
Estado Paralelo.
Marcelo Freixo.
Deputado estadual pelo PSOL e presidente da CPI das Milícias.
Rio - O debate sobre as milícias finalmente está colocado na pauta da cidade. Infelizmente, foi preciso que uma equipe de O DIA fosse torturada para que muitos revissem seus olhares. Enquanto a violência e o terror recaíam sobre os moradores das favelas, o que vimos foi silêncio e conivência.
A ação desses grupos passa por três eixos: controle de território exercido por agentes públicos vinculados à área de segurança, extorsão direta dos moradores através do controle de serviços e, finalmente, a formação de braços políticos com parlamentares, frutos da construção dos redutos eleitorais nesses espaços. É preciso deixar claro que não são justiceiros. O que desejam é lucro — obtido por meio de atividades ilícitas ocorridas no vácuo do poder público.
A mais inadequada defesa ideológica que se faz sobre milícias é a de que representam um mal menor e que, diante da falta de policiamento e da precariedade da segurança pública, seriam“melhor”que o tráfico de drogas. Esse foi o grande equívoco do poder público e a principal razão de seu crescimento por dentro do Estado, com cada vez mais força política nos parlamentos. É um debate sobre soberania! Não podemos abrir mão do Estado democrático de direito. É inaceitável que grande parcela da população viva sobre o terror imposto por traficantes ou por grupos paramilitares.
Segurança pública não se resolve com polícia, mas com política. Precisamos de uma polícia bem preparada e formada na cultura de defesa dos direitos, bem remunerada, controlada por uma ouvidoria independente e com autonomia. Nas favelas, é urgente um novo conceito de segurança, que inclua a escola pública de qualidade, o atendimento digno nos postos de saúde, o primeiro emprego e acesso à cultura."