BLOG REPÓRTER DE CRIME - JORGE ANTÔNIO BARROS:
BRASIL MEDIEVAL.COM
Blogueira por um dia: O Coturno e a Batina
A leitora assídua e colaboradora deste blog, a escritora e crítica de cinema Olga Costa, envia um excelente texto para nossa reflexão na seção Blogueiro por um dia, publicada às sextas-feiras (envie o seu texto para reporterdecrime@globo.com).
Fala Olga:"Março entrou quente. Em menos de 15 dias, dois acontecimentos mobilizaram almas e mentes, elevando o ponto de ebulição dos debates da sociedade em torno de certas medidas perpetradas, cada qual por duas instituições brasileiras seculares: a Igreja Católica e a Polícia Militar. A primeira, a excomunhão de uma menina de 9 anos, grávida por motivo de estupro, e daqueles que lhe prestaram assistência, sob a garantia de um Estado laico, de proceder a um aborto. A segunda, a prisão disciplinar temporária de um Coronel, pelo fato de ter expressado opiniões próprias e tecido críticas assertivas acerca da corporação a que pertence, através de um blog. Em defesa da menina, valeu a aplicação precisa da própria lei, ficando a excomunhão determinada pelo Arcebispo responsável por tal ato circunscrita a um leque de debates acalorados, mas bem difusos – do jurídico ao teológico, passando pelo ético/ moral.
Já a favor do coronel, preso numa unidade militar até o próximo sábado pela manhã, restaram as vozes de dois deputados estaduais e da população civil, na consciência de que não há lei fora dos cânones de um regime disciplinar interno que lhe assegure qualquer direito de defesa para além dos muros do batalhão que o guarda.
A menina, agora afastada daquele que a molestou, amparada pela lei, seguirá sua vida da melhor maneira possível. Ao mesmo tempo, o Coronel, um homem adulto, porém vivendo sob as normas disciplinares nebulosas de uma instituição bicentenária, correrá o risco de ter sua trajetória tanto pessoal quanto profissional também sequelada de alguma forma.
Aqui, do lado de fora das fortificações, mas nem por isso livres na plena acepção da palavra, nós, os cidadãos comuns, seguimos perplexos com a persistência de regimes e códigos anacrônicos, em plena era da democracia digital. Enquanto isso, infiltrado em cada rachadura da cidade partida - esquartejada, eu diria - um poder paralelo criminoso viceja, prescindindo de qualquer dogma para fazer frente ao Estado de Direito e à população desprotegida e fragilizada – tema e preocupação, inclusive, do post que levou o militar em questão a seus dias de clausura. Olga Pereira Costa, março de 2009. "
Blogueira por um dia: O Coturno e a Batina
A leitora assídua e colaboradora deste blog, a escritora e crítica de cinema Olga Costa, envia um excelente texto para nossa reflexão na seção Blogueiro por um dia, publicada às sextas-feiras (envie o seu texto para reporterdecrime@globo.com).
Fala Olga:"Março entrou quente. Em menos de 15 dias, dois acontecimentos mobilizaram almas e mentes, elevando o ponto de ebulição dos debates da sociedade em torno de certas medidas perpetradas, cada qual por duas instituições brasileiras seculares: a Igreja Católica e a Polícia Militar. A primeira, a excomunhão de uma menina de 9 anos, grávida por motivo de estupro, e daqueles que lhe prestaram assistência, sob a garantia de um Estado laico, de proceder a um aborto. A segunda, a prisão disciplinar temporária de um Coronel, pelo fato de ter expressado opiniões próprias e tecido críticas assertivas acerca da corporação a que pertence, através de um blog. Em defesa da menina, valeu a aplicação precisa da própria lei, ficando a excomunhão determinada pelo Arcebispo responsável por tal ato circunscrita a um leque de debates acalorados, mas bem difusos – do jurídico ao teológico, passando pelo ético/ moral.
Já a favor do coronel, preso numa unidade militar até o próximo sábado pela manhã, restaram as vozes de dois deputados estaduais e da população civil, na consciência de que não há lei fora dos cânones de um regime disciplinar interno que lhe assegure qualquer direito de defesa para além dos muros do batalhão que o guarda.
A menina, agora afastada daquele que a molestou, amparada pela lei, seguirá sua vida da melhor maneira possível. Ao mesmo tempo, o Coronel, um homem adulto, porém vivendo sob as normas disciplinares nebulosas de uma instituição bicentenária, correrá o risco de ter sua trajetória tanto pessoal quanto profissional também sequelada de alguma forma.
Aqui, do lado de fora das fortificações, mas nem por isso livres na plena acepção da palavra, nós, os cidadãos comuns, seguimos perplexos com a persistência de regimes e códigos anacrônicos, em plena era da democracia digital. Enquanto isso, infiltrado em cada rachadura da cidade partida - esquartejada, eu diria - um poder paralelo criminoso viceja, prescindindo de qualquer dogma para fazer frente ao Estado de Direito e à população desprotegida e fragilizada – tema e preocupação, inclusive, do post que levou o militar em questão a seus dias de clausura. Olga Pereira Costa, março de 2009. "
JORGE ANTÔNIO BARROS
PAULO RICARDOPAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO