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FONTE: JORNAL O POPULAR
05/03/2012 - 11h16
Delegado era sócio de Cachoeira em empresa de segurança
Fonte: O Popular 03/03/2012
Alfredo Mergulhão e Pedro Palazzo
Delegado investigado na Operação Monte Carlo é apontado como sócio de Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em empresa que recebeu R$ 342,5 mil em contratos com o governo estadual nos últimos dois anos. A Ideal Segurança Ltda. seria de fachada para lavagem de dinheiro da máfia dos caça-níqueis, segundo consta no inquérito realizado pelo Ministério Público Federal de Goiás (MPF), que o POPULAR teve acesso. O documento fundamentou a decisão da Justiça de expedir 82 mandados de prisão e de busca e apreensão cumpridos nesta semana pela Polícia Federal (PF).
De acordo com o texto do MPF, a Ideal Segurança foi adquirida em fevereiro do ano passado pelo delegado Deuselino Valadares e teria Carlinhos Cachoeira e o diretor da Delta Construtora, Cláudio Dias Abreu, como sócios ocultos. A essa altura, a empresa já mantinha contra tos firmados com o governo de Goiás. Em 2009, a Ideal Segurança venceu uma licitação por pregão eletrônico para realizar serviço de vigilância na Organização das Voluntárias de Goiás (OVG).
No ano seguinte, a empresa de segurança recebeu R$ 153 mil do governo estadual para realizar os mesmos serviços em outros órgãos públicos. Em 2011, foram mais R$ 188 mil recebidos dos cofres públicos, segundo dados disponíveis no portal Transparência Goiás. Neste mês foram empenhados mais dois contratos, no valor de R$ 22,5 mil, mas ambos ainda não foram liquidados.
Três meses depois de adquirida pelo delegado, a empresa foi passada para o nome da mulher dele, Luanna Bastos Pires Valadares, que ficou com 50% das cotas. A outra metade ficou com Edson Coelho dos Santos, que seria laranja de Carlinhos Cachoeira, segundo as investigações. Além dos sócios de direito, as interceptações telefônicas da PF identificaram uma sociedade de fato constituída por Deuselino, Carlos Cachoeira, Gleyb Ferreira da Cruz, Rossini Aires Guimarães e Cláudio Dias Abreu, todos investigados e apontados como testas de ferro do líder da suposta organização criminosa.
Suspeitas
As suspeitas acerca da conduta de Deuselino Valadares foram levantadas pelo fato das movimentações financeiras serem maiores que seus rendimentos. Conforme o documento, ele não teria dinheiro para aquisição da Ideal Segurança e de fazendas no Tocantins. A compra da empresa de vigilância teria sido feita com recursos ilícitos.
Pesa contra o delegado a interceptação com autorização da Justiça de um e-mail enviado pela diretoria da empresa. O assunto da mensagem se chamava Planilha de Investimentos da Ideal Segurança, com um documento em anexo que registrava o fluxo de caixa. Nele, aparecem os nomes de Deuselino Valadares, Edson Coelho dos Santos e da Delta Construtora. “Consta uma rubrica em nome de Edson no valor de R$ 100 mil, que é justamente o montante do sinal supostamente dado por Deuselino na aquisição da empresa”, afirmam os procuradores do MPF.
Depois da compra da empresa, o controle administrativo da Ideal Segurança teria passado para as mãos de uma das pessoas consideradas de extrema confiança de Carlinhos Cachoeira. No organograma da organização, Gleyb Ferreira da Cruz estava entre os assessores diretos no gerenciamento das atividades ilegais. Ele também seria responsável pelo contrabando das máquinas caça-níqueis e suspeito de lavar dinheiro da contravenção, evadir divisas e comprar telefones no exterior para dificultar grampos.
Quando os membros da empresa descobrem que o delegado está sob investigação da PF pela compra da empresa, as gravações revelam lamentações da cúpula da quadrilha pelo fato de terem deixado a empresa ficar no nome de Luanna. O inquérito registra diálogos entre Carlinhos Cachoeira e Gleyb, entre Gleyb e Rossini e entre Edson e Deuselino, todos tratando do assunto.
Atualmente, a empresa está registrada na Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg) em nome de Edson e Rossini. O delegado ainda responde a um processo e move outro na 10° Vara Cível da capital. Deuselino briga na Justiça contra dois ex-sócios da Ideal Segurança: Deocleciano Máximo Júnior e Fernanda Sarelli Máximo.
Sentença
Na decisão que decretou a prisão de 36 pessoas suspeitas de participação num negócio ilegal, o juiz Paulo Augusto Moreira Lima, da 11ª Vara da Justiça Federal em Goiás, ressalta que não vê problemas na autoridade policial – ou sua mulher – terem uma empresa. Mas condena a atividade quando ela é feita em sociedade com criminosos. “Há problemas quando existem sócios ocultos e quando é empregado dinheiro ilícito na aquisição. Toda essa problemática que um delegado federal tem o dever de saber”, afirma. O magistrado classifica a organização criminosa como sofisticada e com estrutura empresarial.
O secretário-chefe da Controladoria Geral do Estado, José Carlos Siqueira, afirma não ter conhecimento dos contratos. “O Estado tem milhares de contratos”, diz. O auxiliar do governo acredita que, pelos valores, devem ter sido celebrados por meio de licitação.
Ele afirma ainda que o fato de os empenhos serem de fevereiro deste ano não significa necessariamente que são contratos novos. “Pode estar inclusive prorrogando contrato de 2010.” Siqueira diz que não tinha conhecimento da empresa, muito menos de quem seriam os proprietários, mas afirma que, se ela está no mercado e cumprindo com suas obrigações, não pode ser impedida de participar de licitações. A reportagem não conseguiu encontrar o delegado Deuselino Valadares nem o diretor da Delta Engenharia, Cláudio Dias Abreu.
Transferência para presídio em Mossoró
Atendendo ao que havia sido solicitado pelo Ministério Público Federal e autorizado pelo juiz Paulo Augusto Moreira Lima, da 11ª Vara da Justiça Federal em Goiânia, o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi transferido no início da noite de ontem para o presídio federal de segurança máxima em Mossoró (RN). “A transferência é absurda”, disse o advogado de Cachoeira, Ricardo Sayeg. Segundo o advogado, ele também entraria com habeas corpus contra essa medida. Ricardo Sayeg já protocolou pedido de liberdade para seu cliente no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Alguns policiais não têm antecedentes
Rosana Melo
Suspeitos de participação em uma quadrilha que explora jogos de azar em quatro Estados e no Distrito Federal, os delegados da Polícia Federal Fernando Antônio Hereda Byron Filho e Deuselino Valadares dos Santos e os delegados da Polícia Civil de Goiás, Aredes Correia Pires, Juracy José dos Santos, Marcelo Mauad, José Luís Martins de Araújo e os coronéis da Polícia Militar Massatoshi Sérgio Katayama e Deovandir Frazão de Morais não possuem antecedentes criminais.
A pesquisa foi feita ontem pelo POPULAR no Tribunal de Justiça de Goiás e nas corregedorias das corporações de que fazem parte. Caso se confirme a participação deles durante as investigações da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, eles podem ser indiciados por crimes de corrupção passiva, violação de sigilo profissional, formação de quadrilha e pela contravenção penal de exploração de jogo de azar.
Os dois delegados e um servidor da Polícia Federal são suspeitos de revelar dados sigilosos sobre operações para a quadrilha chefiada por Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que está preso desde quarta-feira, quando a operação foi deflagrada.
Os delegados da Polícia Civil são suspeitos de auxiliar a quadrilha deixando de atuar na repressão a exploração de jogos de azar e avisando sobre possíveis operações de fiscalização. Os oficiais da PM são suspeitos de repassar informações sobre operações. Todos receberiam propina mensal em torno de R$ 5 mil.
Acionada pelo POPULAR, a Corregedoria da Polícia Civil chegou a fazer um levantamento sobre procedimentos instaurados para apurar a conduta de alguns policiais citados como suspeitos, mas informou apenas que o ex-corregedor-geral da Secretaria de Segurança Pública e Justiça, delegado Aredes Correia Pires, nunca respondeu a procedimentos disciplinares.
O restante da pesquisa foi interrompida aguardando autorização da Secretaria de Segurança Pública e Justiça. Na Corregedoria da Polícia Militar, o coronel Lourival Camargo informou que alguns militares citados pela imprensa como investigados já responderam ou respondem a procedimentos.
“Acho que nossa polícia não precisa disso. Temos experiência de que nem sempre os fatos são comprovados e a exposição, que pode ser mais danosa, é desnecessária. Não vamos revelar nomes”, disse.
No Tribunal de Justiça porém, constam os nomes do capitão Antonil Ferreira dos Santos e do major João de Deus Teixeira Barbosa como réus em um assassinato ocorrido em Santo Antônio do Descoberto, no qual outros 16 militares são indiciados. Antonil ainda é réu em um caso de tortura, em Santo Antônio do Descoberto.
Condenação
Entre os delegados da Polícia Civil, a situação mais complicada é a de Hylo Marques Pereira, que estava lotado na delegacia de Alexânia. Ele foi condenado e outubro de 2009 a três anos de reclusão, pagamento de dez dias multa no valor de um trigésimo do salário mínimo da época em que o crime aconteceu, além da perda o cargo pelo crime de concussão, em São Luís dos Montes Belos. O réu entrou com recurso, ainda não avaliado pela polícia.
Além desse crime pelo qual já foi condenado, Hylo Marques Pereira responde a processos por extorsão, formação de quadrilha, extorsão qualificada, estelionato, de apropriar-se de bens ou rendas públicas e de deixar de prestar contas anuais para a administração, todos ocorridos entre 1997 e 2006 no município de Santa Terezinha de Goiás, onde era lotado.
Ele ainda responde a processos pelos crimes de improbidade administrativa ocorrido em São Luís dos Montes Belos; peculato em Santa Terezinha de Goiás no ano passado; tortura a quatro vítimas em Minaçu em 2003 e ao crime de concussão contra duas vítimas em 2001. Por todos os casos, o delegado foi ouvido em procedimentos também na corregedoria da Polícia Civil, que não se manifestou sobre a condenação do delegado na Justiça.
O delegado Niteu Chaves Júnior não tinha antecedentes criminais até quarta-feira, quando foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo.
Juntos Somos Fortes!
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