sexta-feira, 24 de abril de 2009

O MURO DO CABRAL - UMA SAUDÁVEL E CIVILIZADA DIVERGÊNCIA ENTRE ASSOCIAÇÕES DE MORADORES.

Carta aberta aos moradores do Rio de Janeiro, em especial, aos da Rua Fonte da Saudade e Adjacências.
A decisão de se colocar ou não muros no entorno das favelas como medida eficaz para se proteger as áreas verdes vem ganhando destaque crescente nos jornais. Diversas vozes têm se manifestado favoravelmente e outras tantas contra essa iniciativa, devendo todas ser devidamente consideradas. É assim que se faz num regime democrático.
A opinião mais sensata e consciente que observei até agora foi a do Jornalista Ali Kamel, com seus artigos intitulados Remoção. Se estivéssemos em tempos de ditadura, Ali Kamel seria banido deste país, como o foi o grande jornalista Márcio Moreira Alves, e teríamos um novo AI5.
Partindo da premissa de que todas as expressões são motivadas pelo desejo comum de ver o Rio melhorar, tenho me mantido aberta a todos os argumentos, prós e contras, embora desde 2005 venha defendendo a colocação de um muro no final da Rua Vitória Régia, uma vez que constatamos que a viela que liga este logradouro com a Ladeira dos Tabajaras só tem serventia para passagem de material para construções irregulares e para que traficantes armados se posicionassem no alto do morro.
Após refletir sobre as diferentes posições e, com base na minha atuação há 10 anos na Associação de Moradores da Rua Fonte da Saudade e Adjacências, observo que a questão não está sendo analisada levando-se em conta sua complexidade e as diversas variáveis que sobre ela incidem..
Enfim, a grosso modo, de um lado o muro é defendido como forma de contenção do crescimento das favelas e desmatamento das nossas áreas verdes. De outro, é rechaçado como um símbolo segregacionista, uma forma de apartheid social.
Quem rechaça o MURO, como é o caso da nobre colega psicanalista Junia de Vilhena, com seu artigo "O Rio por Trás das Grades", parece estar negando que dentro das favelas existe a pior das DITADURAS.
Os que vivem nas favelas da zona sul são submetidos à mais cruel ditadura sanguinária, à Lei do Silêncio, e não sabem o que é democracia. Os moradores que aceitam comprar terrenos e casas em áreas irregulares estão comprando um "pacote". No "pacote" adquirido por aqueles que optam e pagam para residir em terras irregularmente invadidas estão incluídos a submissão, o medo, uma maneira perversa de existir, onde o silêncio e a omissão são obrigatórios, e que a "lei" imposta pelos "donos" do morro faz vítimas que, depois de torturadas e mortas, são cruelmente arrastadas pelas ruelas, antes de serem jogadas nos cemitérios clandestinos, para servir de exemplo aos que ousarem discordar das ações desses “donos” do morro.
Ali Kamel, em seu artigo " Ainda remoção" diz: "A salutar retomada da discussão sobre remoção, por exemplo, acaba sempre vista por alguns como uma espécie de perversidade social, quando na verdade perversidade é achar que é um direito do cidadão continuar a morar em situação desumana. (...) "O direito a ser assegurado é o de morar com segurança e dignidade, coisa que as favelas não podem garantir".
Ouso completar: os moradores das favelas da zona sul da cidade vivem sob um regime ditatorial sanguinário, regime este que já tenta implantar-se em toda a cidade há tempos...
Quem acompanhou a série de reportagens do Jornal O Globo, veiculadas em agosto de 2008, intitulada “FAVELA $A”, entendeu que a ditadura imposta nestes locais é cruel. Esta mesma série entrevistou o economista Sérgio Besserman, que se tornou referência na área ambiental pelos seus estudos de mudança climática, com o título“ APENAS UM TERÇO DOS POBRES MORA EM FAVELAS”. Na Zona Sul, com certeza é assim.
Conforme foi publicado no Jornal O GLOBO, quarta-feira, dia 15 de abril de 2009, na página 11 Ed. Rio, o Sr. Miguel Lírio Pina, vendeu 15 lotes por R$20.000,00/cada na Ladeira dos Tabajaras (Parque Fonte da Saudade?!) e o porteiro Paulo Roberto dos Santos comprou e já estava com uma placa no local para revender. A reportagem afirma que eles podem ser processados por parcelamento irregular do solo. Só isto? Deveriam ser colocados atrás das grades. Tanto quem vende quanto quem compra.
Como Presidente da Amofonte, acabo recebendo uma série de relatos e de denúncias de diferentes níveis de gravidade, que me permitem traçar um quadro mais realista da questão. Coisas que, individualmente, têm importância reduzida e podem ser consideradas como fatos isolados, mas, se analisadas dentro do conjunto formam um quadro estarrecedor.
Por isso tudo, venho trazer a público a posição da Amofonte sobre o muro, e agora sobre remoção, bem como dividir fatos que poderão contribuir para dar mais luz à questão.
POSIÇÃO.
1. A Amofonte decidiu continuar a defender a anulação do PAL 1750, solicitada desde 2005, à Prefeitura do Rio de Janeiro, fechando a passagem entre a Vitória Régia e o Morro dos Cabritos.
2. A Amofonte, representando a maioria de seus associados, mantém sua posição a favor da construção do muro no final da Rua Vitória Régia e defende a remoção, visando a manutenção da democracia em nosso bairro, assim como em toda a cidade.
3. Amofonte apóia a demolição de toda construção irregular nos parques da região.
4. A Amofonte é contra a tentativa de posse de uma área pública da cidade, equivalente a aproximadamente 23.000 m2 de área verde e preservada, por uma família que se auto intitula quilombola, mas que na verdade é composta por descendentes da família Pinto, caseiros dos proprietários da área, os Darke de Mattos. Conforme consta na decisão judicial, a área foi doada pelos seus reais proprietários ao município, que transformou-os em parques ambientais no ano de 1935.
FATOS.
1. A viela que liga a Rua Vitória Régia ao Morro dos Cabritos fere a legislação municipal, que não permite vielas acima da cota 60;
2. A viela se consolidou como passagem de material de construção (cimento e tijolos) para a Comunidade dos Cabritos, impulsionando a construção acelerada na mata. Há pouco tempo, uma equipe de jornalismo, junto com uma vereadora, contabilizaram, em cerca de duas horas e meia, 30 caminhões descarregando material, no final da Rua Vitória Régia.
3. Desde março de 2007, traficantes armados se fixaram no alto do morro e no final da rua, montando um ponto de drogas, intimidando e controlando a passagem de pessoas, bem como o trânsito de moradores da rua. Infelizmente, esses traficantes continuam no local todas as noites, mesmo agora, após o excelente trabalho feito pela polícia na guerra entre quadrilhas na Ladeira dos Tabajaras e Morro dos Cabritos.
4. Discursos ideológicos sobre a expansão das favelas podem mascarar o fato real de que há uma especulação imobiliária frenética e crescente estimulada pelas facilidades da economia informal e pela cultura do "Ilegal, e daí?". A expansão da favela dos Tabajaras para o Morro dos Cabritos / Parque Fonte da Saudade não foge disso e a passagem da Rua Vitória Régia ao Morro dos Cabritos é seu principal facilitador. A reportagem no Jornal O Globo, quarta-feira, dia 15 de abril de 2009, na página 11, do 1º Caderno ilustra bem o assunto, conforme já citei acima.
5. O tráfico está expandindo sua ação para as ruas da Lagoa e adjacências. Já identificamos a presença de "olheiros" na Rua Fonte da Saudade e outros pontos, que ficam parados em esquinas estratégicas controlando a ida e vinda das pessoas. Também, identificamos observatórios na mata, antes mesmo da recente guerra. Desses pontos, os olheiros observam a movimentação do bairro e das proximidades. Já há temor nos moradores de circularem a pé, após às 22:30h, de modo que começamos a perceber um "toque de recolher" sendo implementado, aos poucos.
6. Há dois anos, uma milícia tentou se instalar em uma parte do bairro. Após recusa de condomínios que chegaram a ser contatados, coincidentemente começaram a ocorrer recorrentes roubos e assaltos na nossa região, pontuando a "necessidade de proteção". Felizmente os condomínios em questão optaram por segurança devidamente regularizada, não permitindo que a milícia se instalasse, até o momento.
7. Os moradores do Morro dos Cabritos, bem como os moradores de outras tantas favelas, estão a mercê e vitimados por toda essa rede ilegal e criminosa que envolve o crime organizado, a especulação imobiliária, a venda de segurança e de serviços. Da pequena irregularidade, ao crime organizado, tudo isso compõe uma ponta dessa cadeia, que se complementa.. No caso específico do Morro dos Cabritos, a viela entre ele e a Rua Vitória Régia atende a uma minoria de moradores, pois a maior parte opta por outras vias de acesso, mas se constitui numa via de acesso estratégica para que essa rede estenda seus domínios. Não é à toa que ela vem tentando se infiltrar na Rua Sacopã, Rua Fonte da Saudade e adjacências. Qualquer discurso supostamente ideológico que relacione o muro e o fechamento das vielas como algo contra os moradores do Morro dos Cabritos, se constituirá num desserviço a esses mesmos moradores, e representará uma visão extremamente romântica, num momento em que a sociedade não pode se dar ao luxo disso.
8. O Morro dos Cabritos, junto com a Ladeira dos Tabajaras e expansão, se hoje fossem tomados pelo tráfico poderiam afetar, em casos de conflito como o último, os seguintes bairros: Copacabana, Botafogo, Humaitá, Lagoa (boa parte do seu entorno), Jardim Botânico e Gávea. Essa informação foi dada na última reunião da Amofonte, que reuniu moradores com o comando da PM, representantes da Prefeitura e da Câmara Municipal.
9. Outro ponto nevrálgico é a decisão do INCRA de transformar em quilombo e conceder a posse de cerca de 23.000 m² da mata localizada atrás da Rua Fonte da Saudade e todas as ruas adjacentes, indo até a Epitácio Pessoa, aos descendentes da família Pinto, descendentes dos caseiros da antiga proprietária do terreno, família Darke, dentre outras pessoas. Estas matas, desde 1935, formam o antigo Parque da Saudade, hoje Parque José Guilherme Merchior. O INCRA fez um processo administrativo, ferindo claramente o direito à propriedade privada, para tentar se sobrepor a uma decisão judicial, onde a mesma família perdeu por 3X0 em segunda instância, uma ação de usucapião, que pretendia ganhar 18.000 metros quadrados do nosso parque. O INCRA notificou quase 20 prédios em nossa área e hoje temos mais de 150 unidades de apartamentos em nossa área de abrangência que não podem ser vendidas, pois aparece na certidão negativa o processo do INCRA. O mote é que o grupo se mantém no lugar, há décadas, e que ajudam a preservar a mata, além de manter viva a sua cultura de raiz. O fato real é que o desmatamento da área pode ser acompanhado pelo Google Earth e a cultura de raiz que tanto preservam e zelam se traduz em rodas de pagode com som amplificado, aos domingos, durante horas e horas, entremeados a gritos de ordem contra a “elite da Lagoa”, segundo denúncias de vários moradores, que residem em prédios confrontantes com o Parque, em nossa última reunião do dia 8 de abril.
Por todo o exposto somos favoráveis à colocação do MURO no final da Rua Vitória Régia e como forma de proteger a mata e à gradativa remoção dos invasores das nossas áreas verdes.
Atenciosamente,

Ana Simas-Presidente da AMOFONTE
" SEM LIMITES O CONVÍVIO SOCIAL TORNA-SE ESQUIZOFRENIZANTE".
Ana Simas.
*****
Olá Ana Simas,
Concordo com alguns pontos pelas questões levantadas enquanto Presidente da AMAFONTE em salvaguardar o interesse de seus associados e dos senhores moradores do bairro da Lagoa e Adjacências. E até acredito que também pela tua questão pessoal. Devo respeitar.
Eu enquanto entidade jurídica e como pessoa física sou contra a colocação dos muros nas comunidades populares. Não é só a questão de que se fala muito em relação de segregar a população do morro. Que considero como um símbolo de apartheid social e universal. A história mostra muito bem isso.
Vejo que a construção do muro de nada vai resolver a questão da proliferação das favelas. O povo brasileiro é sagaz, esperto e cheio de idéias em arrumar uma outra maneira de ganhar dinheiro ou de vim morar na zona sul.
Quando sair o Governador Sérgio Cabral, um outro político para fazer média com a população carente deverá colocar tudo abaixo.
Devemos também considerar que para os traficantes não haverá nenhuma dificuldade em dinamitar parte do muro para a sua fuga imediata. É um dinheiro do governo do estado dinamitando milhões de reais juntamente com a construção dos muros que poderiam ser utilizados para um outro tipo de benfeitoria.
E tem outra coisa pior que ninguém falou, e que rezo para que nunca aconteça. Um incêndio de grande proporção. Qual será a rota de fuga para a população do morro? Sou alarmista? Não.
Quem presenciou o incêndio da Favela do Pinto no final dos anos 60, todos ficam com adrenalina a mil. É um estado de pânico geral. Gritos de socorro. Mães desesperadas a procura de seus filhos, pessoas correndo para cima e para baixo com baldes de água, homens com televisores, geladeiras, sofás nas costas. Carros de bombeiros, mangueiras com os jatos de água, defesa civil, policiais atravancando o espaço de ir e vir.. Postes de luz soltando faíscas. E fora a fumaça que se espalha no ar que não se vê nada. O medo nos rostos das pessoas pensando no butijão de gás que podia explodir a qualquer momento. Naquela época pensava-se na explosão de um grande gasómetro no bairro do Leblon. Os bairros do Leblon e Ipanema e a sua população do asfalto voando pelos ares. Imagine! E sem falar em outra coisas mais.
Um amigo sempre fala por conta dos eventos musicais na orla da praia , que se precisa acontecer um desastre de grande proporção para que as pessoas acordem e se atentem para o fato acontecido. Não temos o comportamento protiva..
Temos que trabalhar para transformar nossa natureza reativa em proativa. De uma forma muito simples, podemos explicar que Ser Proativo é personificar e carregar os seguintes atributos: Ser a causa; compartilhar, estar no controle das coisas.
Já o comportamento reativo está fundamentado sobre o Desejo de Receber Para Si mesmo. Ganância , egoísmo , ego . Ele pode ser definido como qualquer tipo de reação a uma situação externa . Esse comportamento pode incluir raiva, ciúme,inveja, excesso de confiança, baixa auto-estima, etc.
Toda vez que assumimos um comportamento que está sendo motivado pelo nosso ego, não estamos compartilhando. Toda vez que reagimos a quaisquer estímulos, motivados por um fator externo, estamos sendo mero efeito e não a causa. Toda vez que deixamos forças externas influenciarem nossos sentimentos perdemos o controle. Enquanto estivermos vivendo nossas vidas sem nenhum crescimento pessoal ou mudança interna de nossa natureza não estaremos criando novos níveis espirituais de existência para nós mesmos.Cada vez que uma reação seja provocada, devemos retomar a restrição original, pisar nos freios de nossas reações . Cada vez que fizermos isso estaremos nos movendo para mais próximos de nossa origem, estaremos promovendo a transformação de caráter com o propósito de adquirir Luz, realização e satisfação duradouras.
Cristina Reis.
Associação de Moradores de Copacaba.
PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO

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