domingo, 26 de abril de 2009

MUDANÇAS NA POLÍCIA MILITAR - O RODÍZIO DOS MESMOS.

O GLOBO:
DESTACO:
"A assessoria da secretaria informou que Beltrane decidiu substituir os comandos por dois motivos:
- além de considerar produtivo um rodízio para evitar acomodação,
- o secretário está insatisfeito com os resultados no combate ao crime, obtidos por algumas unidades".
Caros leitores, eu exerci a função de Corregedor Interno da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro por quase três anos corridos (2005 - 2008), convivendo com dois governos estaduais, ambos do PMDB (governadores Rosinha Garotinho e Sérgio Cabral).
Fui comandado por dois Comandantes Gerais (Coronéis de Polícia Hudson e Ubiratan) e subordinado a dois Secretários de Segurança (delegados de Polícia Federal Itagiba - hoje, deputado federal - e Beltrame).
Tal indrodução é necessária para demonstrar que o mundo político não é novidade para mim, já tendo sofrido pressões políticas em várias ocasiões, nunca cedendo, nunca mesmo.
No governo Rosinha Garotinho a Polícia Militar sofria uma enorme influência política, submissa ao extremo, tanto que a governadora resolveu promover a Coronéis de Polícia, Tenentes-Coronéis do seu convívio pessoal, em detrimento de todos os Tenentes-Coronéis que comandavam batalhões e eram muito mais aintigos, alguns mais de uma década.
Os preteridos nada fizeram além de reclarem pelos corredores e pelos gabinetes, enquanto o Coronel de Polícia Esteves e eu, entramos com uma ação objetivando a anulação das promoções políticas. O resultado eu já tornei público nesse espaço, perdemos em Primeira e em Segunda Instância, tendo em vista que o Poder Judiciário entendeu que um ato administrativo SÓ PRECISA SER LEGAL (e foram legais), mesmo desrespeitando todos os demais pressupostos de validade do ato administrativo.
A dominação era tão grande, com os boatos de interferência política inclusive na escolha de delegados para ocuparem as delegacias da Polícia Civil, bem como, de Coronéis e de Tenentes-Coronéis para exercerem a função de comandantes de unidades, que o candidato Sérgio Cabral Filho, várias vezes, discursou afirmando que acabaria com as promoções e as nomeações políticas na Polícia Militar.
Portanto, onde existia fumaça, deveria existir fogo, caso contrário, o candidato estaria blefando, pois não podemos achar que um candidato do PMDB, não soubesse o que ocorria no PMDB.
O candidato virou governador do Estado do Rio de Janeiro.
Isso posto, analisemos as explicações da assessoria da Secretaria de Segurança Pública:
- Eu já escrevi que o secretário Beltrame tem levado a lealdade à amizade ao extremo, o que fez novamente, ao ASSUMIR INTEIRAMENTE a responsabilidade pelas mudanças na PM (Beltrame decidiu substituir os comandos). O Coronel Pitta, Comandante Geral, ficou fora do processo, de acordo com o noticiado, porém, tenho certeza que foi pelo menos consultado.
A interferência da Secretaria de Segurança na gestão da PM já trazia problemas sérios, no campo operacional, no Comando do Coronel de Polícia Ubiratan, quando o Chefe do Estado Maior, Coronel de Polícia Samuel, em vários momentos demonstrou a sua contrariedade com as reuniões de comandantes de batalhões, convocadas pela secretaria, sem comunicação ao Comando da PMERJ.
Eu sou radicalmente contra tal interferência, aliás, sou contra a existência da própria secretaria, como já fundamentei nesse blog.
Agora, identificado o responsável pelas mudanças, vamos analisar a MOTIVAÇÃO.
- o rodízio evitaria a acomodação.
Sinceramente, não encontro qualquer nexo nessa afirmativa, tendo em vista, que tais rodízios se repetem há anos e o resultado nunca é o desejado, sempre provocando NOVOS RODÍZIOS. O que nos levaria a concluir que os ACOMODADOS continuariam comandando, idéia que prefiro desprezar.
- o resultado ruim no combate ao crime de algunas unidades operacionais.
Bem, se algumas unidades (não identificadas) tinham um rendimento ineficiente, como elas melhorarão se o RODÍZIO apenas mexeu com os atuais comandantes de unidades, uma DANÇA DE CADEIRAS.
Analisando o RODÍZIO (clique e leia) apenas três comandantes de unidades operacionais (batalhões) perderam a função de comando: o Tenente-Coronel WEBER (RCECS), o Tenente-Coronel LOURY (6o BPM) e o Coronel ADILSON (25o BPM).
Então, esses comandantes são os únicos responsáveis pela nossa insegurança, considerando que os outros que participaram do RODÍZIO, continuam comandando, agora outras unidades.
Quem está ACOMODADO em um batalhão, ficará motivado em outro batalhão?
Quem apresenta RENDIMENTO INSUFICIENTE em um batalhão, renderá melhor em outro?
Respondo não às duas perguntas.
E, não podemos mesmo considerar o critério do RENDIMENTO INSUFICIENTE, pois o Tenente-Coronel MOURA, que era subcomandante do mesmo 6o BPM, ganhou um comando. Ora, se o batalhão não produzia, o subcomandante tinha uma grande parcela de responsabilidade.
Assim sendo, não posso aceitar as motivações alegadas, infelizmente, sou forçado a crer que a a interferência política continua muito forte, mais uma promessa de campanha não cumprida.
E, sustento tal afirmação com enorme facilidade.
Basta pegarmos a relação de comandantes de batalhões para percebermos que alguns comandam batalhões há anos, atravessando os dois últimos governos do PMDB, não esquecendo que o próprio Governador Sérgio Cabral (PMDB) falou sobre a interferência política no governo anterior do PMDB.
Desejo que isso não esteja acontecendo também na Polícia Civil, considerando que tal interferência fere de morte qualquer instituição públia.
Não poderia encerar sem ratificar novamente, que considero o delegado de Polícia Federal Beltrame, uma pessoa de bem e competente na sua função de delegado, caso contrário, não seria escolhido para a ingrata e difícil função de Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Lamento que não basta ser delegado para coordenar uma polícia investigativa e uma polícia ostensiva e de preservação da ordem pública.
Policiamento ostensivo e preservação da ordem pública não se aprende em cadeiras universitárias.
Eu sei que ele não pode tudo, não tem completa autonomia, o delegado de Polícia Federal Itagiba também não tinha, porém sei que dele tudo é cobrado.
O que significa dizer que essas linhas não querem constranger ninguém, elas querem, apenas comprovar, que NADA MUDOU.
Vida que segue, aguardando o próximo RODÍZIO DOS MESMOS.

PAULO RICARDO PAÚL
CORONEL DE POLÍCIA
CORONEL BARBONO

2 comentários:

msc disse...

Prezado Cel Paul: com efeito; as interferências políticas na gestão de áreas técnicas - Segurança Pública - fere de morte as instituições responsáveis por sua gestão.
Discordo tão somente quanto a "competência" do SESEG, haja vista que aquele que se presta a desempenhar um papel meramente decorativo, subjugado a um poder político cujos resultados sabe serem nefastos a população, é no mínimo omisso. Ou cúmplice, o que creio ser a realidade.

Joana disse...

Isso sem contar que no início do ano passado, o Cte Roberto do batalhão da Tijuca, apesar do excelente trabalho que realizava, do apoio da comunidade, foi transferido, ou seja, nem sempre realizar um bom trabalho é ser reconhecido. Cel Paúl, que bom que temos sua voz para dizer o que precisa ser ouvido ! E justamente sendo o sr. um militar de polícia, está mais que apto a analisar de forma isenta os fatos, pois sabemos de seu amor pela corporação, demonstrado ao longo de tantos anos que o sr a serviu.