domingo, 30 de setembro de 2007

UM LIVRO, UM FILME, UM GRANDE ENGODO OU UM TRIBUTO A WAGNER MOURA?


A Sociedade Brasileira tem sido invadida diariamente pelas notícias envolvendo dois ícones do sucesso midiático, o filme Tropa de Elite e a novela Paraíso Tropical.
As duas obras têm em comum excelentes atuações do ator WAGNER MOURA, o “Capitão Nascimento” do filme e o “Olavo” da novela.
Ao ator os meus mais calorosos aplausos e o presente artigo é também um tributo ao seu trabalho.
Embora, caro Wagner Moura, devo confessar que a minha avaliação sobre a sua atuação no filme esteja um tanto quanto prejudicada, considerando que não assisti o filme e não o assistirei, entretanto como tive a minha mente invadida por incontáveis cenas do filme transmitidas pela televisão exaustivamente e por centenas de reportagens sobre o filme impressas em jornais e revistas, devo afirmar que assisti forçosamente boa parte da trama.
O marketing do filme “Tropa de Elite” foi tão grande que até mesmo escândalos nacionais foram jogados para páginas internas, em artigos muito menos representativos.
O filme invadiu as ruas, as redes de televisão, os debates públicos, os jornais, as revistas e pior, a mente de cada brasileiro, fascinado com o “herói” que tortura e mata criminosos, sendo integrante da melhor tropa de combate urbano do mundo, o Batalhão de Operações Especiais – O BOPE, uma tropa de “HERÓIS SOCIAIS”, um orgulho para todos nós Policiais Militares e para a própria Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Homens treinados à exaustão física e psicológica, os integrantes do BOPE realizam as missões mais difíceis nas comunidades carentes infestadas pelo flagelo social do tráfico de drogas.
Eles possuem uma coragem e uma técnica extraordinárias, sendo que mesmo nos confrontos armados mais acirrados, poucos disparos de arma de fogo eles realizam.
Não existe local inexpugnável para os integrantes do BOPE e inúmeras vezes eles resgataram guarnições dos batalhões operacionais e guarnições da Polícia Civil encurraladas em comunidades carentes.
O BOPE é tão famoso que a Polícia Judiciária Comum criou um genérico, a CORE.
O Soldado do BOPE é um herói e deve ser saudado como tal por todos nós, cidadãos brasileiros.



Aliás, preciso fazer um parêntese para lembrar a todos o que representa o Soldado, o herói nacional.

A história da humanidade é repleta de soldados (guerreiros) heróis, cultuados por seus povos, exemplos que sempre povoaram o imaginário dos jovens, que sonharam um dia ser como eles.
Quantos jovens não sonham em ser um integrante do BOPE, com o seu símbolo da vitória sobre a morte, o crânio com a faca transpassada?
A cada batalha vencida, os exércitos sempre foram saudados pela população, que enchia as ruas para reverenciar aqueles que arriscaram a vida em defesa da pátria.
O retorno das tropas brasileiras da campanha do Paraguai é retratado em pinturas famosas.
Imagens do retorno dos heróis da Segunda Grande Guerra aos seus respectivos países circularam e ainda circulam o mundo.

Quem não sente uma emoção ao passar pelo Aterro do Flamengo e ver o Monumento aos Pracinhas?
Na nossa mente soldado é herói, sobretudo na mente em formação dos jovens; desconstruir essa realidade é um crime lesa-sociedade, me perdoem a ênfase.
No segundo caderno da edição do jornal “O GLOBO” do dia 26 de setembro de 2007, ARTUR XEXÉO assina um artigo intitulado “Jack Bauer, Bebel e o Capitão Nascimento.”.
Cidadão Brasileiro, leia esse artigo com muita atenção, ele está na página 12 e dele extraio o seguinte trecho, sem a devida autorização do autor, com quem antecipadamente me penitencio:

“Mas “Tropa de Elite” está fazendo vir à tona um comportamento até agora silencioso. Não é o filme que faz a classe média apoiar métodos radicais para combater a bandidagem. Talvez o filme ajude a catarse. Melhor do que criticá-lo é refletir sobre o que nos transformou em gente assim.”

Perfeito!

Eis a grande pergunta que cada um de nós deve fazer a si mesmo, diariamente, solitariamente ao acordar, diante do espelho do banheiro:

A Sociedade que está lá fora é a sociedade que eu quero para os meus filhos e para os meus netos?

Se a sua resposta for sim, estamos todos perdidos.

Se a sua resposta for não, aceite o convite do jornalista ARTUR XEXÉO e reflita, não permita que o filme “Tropa de Elite” seja exibido nos cinemas nacionais enquanto não forem desenvolvidas algumas providências salutares e indispensáveis, salvo melhor juízo.

Não prego a proibição imediata do filme, isso não, convido a todos para algumas reflexões, antes que o filme estréie em rede nacional no dia 12 de outubro de 2007, feriado nacional, o “Dia das Crianças” e o dia dedicado ao culto da “Padroeira do Brasil”, Nossa Senhora de Aparecida.

Não poderiam ter escolhido data mais emblemática e simbólica!

E vamos começar a refletir pelo livro “ELITE DA TROPA”, sucesso de vendas, após forte marketing na desconstrução da imagem heróica do BOPE e que serviu de base para o filme do renomado cineasta JOSÉ PADILHA.
E vamos começar pela capa da edição original com a preocupação de dar realismo ao livro, quando aparece uma fotografia de um homem com um capacete balístico (resiste a projéteis de arma de fogo), utilizado pelo BOPE e tendo ao alto o símbolo do BOPE, o crânio transpassado por uma faca, que significa a vitória da vida sobre a morte.

Pronto, alguém duvidaria que o livro fosse sobre o BOPE?

O livro eu li três vezes, considerando que na condição de Corregedor Interno da PMERJ pretendia instaurar um Inquérito Policial Militar sobre ele – intento no qual acabei sendo voto vencido. Suas páginas falam da corrupção na Polícia Militar, principalmente dos “barrigas azuis” – a tropa convencional; fala de crimes praticados inclusive por integrantes do BOPE, tais como torturas e homicídios; e fala ainda de “armações políticas” envolvendo Comandantes da Polícia Militar e políticos do alto escalão.

Os autores afirmam que tudo é verdade?

Não, os autores deixam as conclusões para o imaginário popular e nada retrata melhor tal intenção que o trecho transcrito na capa:

A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS REAIS, os autores criaram uma ficção vertiginosa, que nos arrebata e surpreende, ao mostrar o cotidiano de homens adestrados para se transformarem em cães selvagens.”

O grifo e o destaque no tamanho das letras não são meus, eles estão na capa do livro, assim mesmo, verifiquem e comprovem o destaque intencional.

Surge a primeira e crucial pergunta que deve ser respondida não por mim e nem por vocês e sim pelos autores do livro:

Quais são as experiências reais?

Em outras palavras, o que existe de realidade no livro?

E desde já convidamos os três autores para responderem claramente a esse questionamento, considerando que possuem conhecimento técnico para tal, vejamos:

- LUIZ EDUARDO SOARES, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, antropólogo e cientista político, com pós-douturado (raro entre brasileiros) em filosofia política; ex-Coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do governo do Estado do Rio de Janeiro; professor da UERJ e da Universidade Cândido Mendes e autor de onze livros.
O co-autor nada ou pouquíssimo conhece sobre o BOPE e suas ações, entretanto é um respeitado profissional e com larga experiência política, hoje atuando no Município de Nova Iguaçu, tendo a seu lado, salvo engano, outro co-autor o Major BATISTA.
Sobre verdades do BOPE LUIZ EDUARDO nada poderia escrever, porém sobre verdades políticas sem dúvida poderia e pode.
Seriam então as experiências reais as “falcatruas políticas retratadas no livro?

Perguntem a ele quais são as experiências reais antes do filme estrear.

- RODRIGO PIMENTEL, Capitão Inativo da Polícia Militar, salvo engano reformado por surdez, “trabalhou” na Polícia Militar de 1990 a 2001, tendo pertencido à tropa convencional (barrigas azuis) e ao BOPE entre os anos de 1995 e 2000. Ele é pós-graduado em sociologia urbana pela UERJ, foi articulista do Jornal do Brasil e co-produtor do documentário “ÔNIBUS 174” - que também está virando filme, com auxílio do Major BATISTA, pelo que ouvi sobre a produção. PIMENTEL é ainda consultor de segurança, um “empresário” que inclusive freqüentaria rotineiramente o BOPE com amigos.
- ANDRÉ BATISTA, Major da Ativa da Polícia Militar, afastado da Corporação -como a maioria dos Majores da Polícia Militar, que abandonaram a Instituição, abandonaram o “front” em busca de gratificações, de segurança ou de melhores condições de trabalho.
BATISTA também foi um “barriga azul”, tendo sido do BOPE de 1996 a 2001.
Ele é formado em Direito pela PUC-RJ e se pós-graduou em políticas públicas e segurança na UFF.
Os dois co-autores Policiais Militares pouco devem conhecer sobre as armações do mundo político, porém muito devem saber sobre a corrupção dos “barrigas azuis” - já que ombrearam com eles - e sobre a máquina de tortura e morte em que está sendo transformado o BOPE, pois também vestiram “PRETO” e talvez tenham até cantado esse refrão maldito:

“HOMENS DE PRETO QUAL É SUA MISSÃO, ENTRAR PELA FAVELA E DEIXAR CORPOS NO CHÃO!”

Perguntem a eles quais são as experiências reais antes do filme estrear.

E deixando o livro para trás – esclarecendo por último que as qualificações dos autores foram extraídas da sua orelha - vamos ao filme “Tropa de Elite”.

Eu não assisti ao filme e nunca o assistirei, portanto não posso emitir um juízo de valor adequado para além daquele permitido pela overdose midiática da qual fui vítima pelo marketing do filme, porém deixo claro que estarei me associando aos Oficiais do BOPE que entraram com uma ação contra a exibição do filme e que no âmbito da Corregedoria Interna instauramos um Inquérito Policial Militar, avocando uma Averiguação do BOPE, para apurar até onde chegou a participação de integrantes do BOPE nas filmagens ou na produção do filme, diante das denúncias recebidas e considerando que o dinheiro público é de todos nós e não deve sustentar qualquer atividade comercial privada, que visa o lucro.
E como profissional de segurança há mais de trinta e um anos, acostumado com a arte da investigação – arte à qual me dedico há quase quinze anos - e ainda como Professor de Biologia (não exerço) e ex-Instrutor da Academia de Polícia Militar D. João VI e do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, faço duas propostas:

1ª) Uma audiência pública para avaliação do filme como formador de opinião e fomentador de comportamentos, principalmente a respeito dos jovens, com uma platéia composta por Professores de Nível Médio e Superior, Psicólogos, Psiquiatras, Filósofos, Juristas, Religiosos (todas as crenças) Cineastas (muitos), Escritores (muitos), Jornalistas (muitos) e todos os Coronéis da Polícia Militar ex-Comandantes do BOPE.
O filme seria exibido e LUIZ EDUARDO SOARES, RODRIGO PIMENTEL, ANDRÉ BATISTA e JOSÉ PADILHA seriam sabatinados pela platéia.

O que é verdade, o que é ficção?

Qual o efeito do filme na nossa juventude, tão carente de heróis e de exemplos positivos?

Ao final a platéia democraticamente votaria contra ou a favor da exibição do filme.

2ª) Seja realizada uma investigação pormenorizada, inclusive pelos órgãos de defesa do consumidor - tendo o Ministério Público (o fiscal da lei) como controlador - sobre o marketing empregado para a divulgação do filme, esclarecendo o que foi verdade e o que foi ficção ao longo do processo de produção - e aproveito para sugerir algumas perguntas para ajudar na investigação, considerando a minha já mencionada experiência pessoal na arte de investigar:

- A grande pergunta que deve nortear qualquer investigação, A QUEM INTERESSA O CRIME, deve ser respondida em cada etapa da investigação.

- Uma produção com participação direta de tantos Oficiais “Caveira” como orientadores deveria ter na segurança uma de suas maiores preocupações; assim sendo, como explicar o roubo das réplicas das armas, que deveriam estar muito bem guardadas por todos os motivos?

- Tais réplicas tinham seguro?

- Por que o veículo apareceu logo, fruto da eficiência “Caveira?”
- Um investimento de mais de UM MILHÃO DE DÓLARES, conforme declaração do produtor JOSÉ PADILHA, protegido pela orientação de alguns Oficiais “Caveira”, não deveria ter um cuidado muito especial na guarda de suas cópias, considerando que no Brasil a pirataria é o crime que mais cresce?

- Como tais cópias vazaram e caíram na rede de pirataria, o que poderia causar prejuízo de MILHÕES DE DÓLARES?

Nunca é demais lembrar que “OS FILHOS DE FRANCISCO” sofreram o mesmo problema e o filme foi um sucesso.

- O treinamento foi tão real que teriam sido usadas armas e munições reais?

- Se isso foi verdade, quem comprou as munições e como comprou?

- Se isso foi verdade, quem cedeu as armas?

- O treinamento foi tão real que os atores teriam participado de uma escalada no morro do Pão de Açúcar?

- Se isso foi verdade, quem carregou o armamento e os equipamentos dos atores?

- Por que o ator Wagner Moura foi instigado até o limite de dar um soco em um dos orientadores do filme, um Capitão “Caveira” Inativo da PM, que quebrou o nariz?

E por que RODRIGO PIMENTEL teria dito que era isso que ele queria desde cedo? Por que divulgar isso?

E ainda:

- Por que o filme já está na sua terceira versão, SEGUNDO A MÍDIA, considerando que uma cópia vazou para a pirataria, uma foi exibida na estréia do filme e outra está sendo adaptada - segundo o produtor, buscando reduzir a contundência do original - para a exibição em rede nacional?

Em linhas gerais, o que é verdade, o que é ficção e o QUE É UMA GRANDE MANOBRA DE MARKETING TRAVESTIDA DE REALISMO?

O certo é que apesar de todo o marketing o filme já sofreu algumas derrotas e a maior foi perder a indicação para o Oscar, o que deve ser comemorado por todos nós, brasileiros, brasileiros de verdade!

E finalizando esse longo artigo, convido a todos para mergulharem no livro – esse totalmente não-ficcional - “A CABEÇA DO BRASILEIRO”, de autoria do Professor da UFF ALBERTO CARLOS ALMEIDA, pelo menos no Capítulo 5, cujo título expressivo é “O NOME DO POVÃO É TALIÃO: LINCHA ELE!”

A leitura do livro me foi sugerida pelo meu filho, aluno do Curso de História da UFF, quando soube que eu iria escrever esse artigo. Trata-se de uma pesquisa e nela descobrimos fatos sobre nós, brasileiros, que assombram a todos os leitores; extraí e reproduzo aqui alguns trechos da página 135 - novamente sem a autorização do autor, com o qual também me penitencio antecipadamente:

“Quase 40% da população brasileira acham certo que alguém condenado por estupro seja vítima do mesmo crime na cadeia.”

“Pouco mais de 1/3 da população considera correto que a polícia bata nos presos para obter confissões de supostos crimes”

“... a polícia matar assaltantes e ladrões e a população linchar suspeitos de crimes, contam com a aprovação de, respectivamente, 30% e 28% da população”

Cidadão Brasileiro, estou satisfeito, melhor dizendo, insatisfeito!
Não sei se falei de verdades ou de ficções...

E faço a pergunta derradeira:

Nós, Cidadãos Brasileiros, queremos que o Brasil se transforme em um grande “PARAÍSO TROPICAL”, dirigido pelo famoso novelista GILBERTO BRAGA, onde as famílias estão desestruturadas, prostituta vira heroína e o vilão seja o dono do espetáculo?

Ou você prefere que os heróis de seus filhos e netos sejam semelhantes a um Capitão do BOPE que - totalmente desequilibrado e frustrado - trata mal a família nos espasmos de loucura, tortura e mata os criminosos?

Cidadão Brasileiro, faça essa pergunta a você mesmo, amanhã pela manhã, quando encontrar com você no espelho do banheiro.
Você estará sozinho, diante de si mesmo, responda não.
Não assista o filme.
Desaconselhe o filme.
E só permita que o filme seja exibido após tudo ser investigado e esclarecido - ou ao menos impeça que ele estréie em rede nacional no “Dia das Crianças”.

Nesse caso você é o ZERO UM!

DECIDA!

A SUA TROPA (FAMÍLIA) AGUARDA SUAS ORDENS!



Paulo Ricardo Paúl.
Coronel.
Coronel BARBONO.
Corregedor Interno da Polícia Militar desde 10 de maio de 2005.
Professor de Biologia (não exerço).
50 anos, 31 anos na Polícia Militar.
Um Cidadão Brasileiro que participa ativamente do processo ético que se desenvolve na PMERJ, pelo resgate da cidadania do Policial Militar, através da concessão de salários dignos e adequadas condições de trabalho.

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